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Madeleine: 'Mulher que xingou Bolsonaro tem direito de falar o que quiser'

Colaboração para o UOL, em Brasília

15/07/2022 13h06

A colunista do UOL Madeleine Lackso disse hoje que a mulher que foi afastada do presidente Jair Bolsonaro (PL) quando se aproximava para protestar, durante motociata realizada na manhã de hoje com apoiadores em Juiz de Fora (MG), é uma cidadã e, como tal, "tem direito de falar o que quiser". Um vídeo mostra que a manifestante, ainda não identificada, chama o mandatário de "corrupto" enquanto é contida por homens no local.

"Bolsonaro é um homem público. Se ele não gosta desse tipo de reação dos cidadãos, ele pode vender quindim na porta do estádio. A questão é que a gente está numa semana em que todas as discussões estão em torno de duas famílias que foram destruídas por causa dessa retórica de ódio bolsonarista", disse Lackso durante participação no UOL News.

O ato ocorreu durante a primeira visita de Bolsonaro à cidade, em que ele foi alvo de um atentado a faca, durante a campanha presidencial de 2018. Questionado pelo UOL sobre a motivação da retirada da mulher do ato, o Planalto não se manifestou. Com segurança reforçada durante a passagem, o pré-candidato à reeleição visita o Hospital Santa Casa de Misericórdia, onde recebeu atendimento de emergência logo depois de sofrer o ataque há quatro anos.

Hoje, a Polícia Civil do Paraná indiciou o policial penal Jorge José da Rocha Guaranho por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas, mas descartou a motivação política do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda. Filiado ao PT, ele foi morto a tiros por Guaranho enquanto comemorava o aniversário de 50 anos na noite de sábado (9).

Diferentemente de motociatas anteriores, todos os adeptos do ato realizado hoje em Juiz de Fora foram revistados e passaram por detecção de metais. Fontes da segurança presidencial confirmaram que houve reforço das medidas de segurança. Os apoiadores que aguardavam o presidente no aeroporto da cidade também foram submetidos a revistas e passagem por detector de metais.

Além da motociata e visita ao Hospital Santa Casa de Misericórdia, Bolsonaro participa de um culto evangélico por ocasião da 43ª Convenção Estadual das Assembleias de Deus. Ele deve retornar para Brasília ainda hoje, conforme previsto na agenda oficial. A viagem ocorre num momento em que o presidente vê seu nome associado a crimes por parte de apoiadores contra adversários políticos.

Pressionado por congressistas que fazem oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), o procurador-geral da República, Augusto Aras, recebeu no início desta semana um pedido para que a investigação sobre a morte do guarda municipal Marcelo Arruda fosse deslocada da Justiça Estadual para a esfera federal. O PGR afirmou que ia esperar que as apurações feitas pela Polícia Civil do Paraná fossem concluídas antes de tomar alguma medida.

"Precisamos obter a conclusão do inquérito para analisar se há, ou não, possibilidade técnica de fazer requerimento de federalização", afirmou Aras ao UOL. "É preciso compreender a motivação e as circunstâncias para analisar se os fatos atraem a competência da Justiça Federal. Se o crime for eleitoral, não há homicídio eleitoral. Então, excluímos imediatamente a possibilidade de acionar a Justiça Eleitoral... Ou o fato tem interesse da Justiça Estadual ou da Justiça Federal. Certamente não existe homicídio eleitoral. Não podemos antecipar situações que não podem, em tese, ser apreciadas agora. Qualquer apreciação minha seria temerária neste momento."

A declaração foi dada após reunião em que dirigentes de PT, PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede e Solidariedade pediram o deslocamento das apurações para a esfera federal. Ao UOL, a equipe jurídica do PT afirmou que avalia quais medidas jurídicas podem ser tomadas. O envio de casos como o que envolve Jorge Guaranho e Marcelo Arruda para a esfera federal é incomum, e eventuais representações junto à PGR não devem prosperar. Atualmente, o crime é investigado pela Polícia Civil do Paraná e acompanhado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Estado.

Crime foi motivado por política, diz mãe de atirador

O crime ocorreu dentro da Aresf (Associação Recreativa Esportiva Segurança Física), clube em que Arruda comemorava o aniversário de 50 anos numa festa temática com símbolos do PT e imagens do ex-presidente Lula. Ao UOL, testemunhas dizem que Guaranho se deslocou ao local após um jantar com a esposa e um bebê de cerca de 3 meses.

A mãe do policial penal afirma que o filho tocou músicas de apoio ao presidente Bolsonaro enquanto fazia uma ronda de carro pelo clube. Segundo registros da Polícia Civil, Guaranho fez ainda ameaças de morte a pessoas que participavam da festa de Arruda. Do banco de trás, a mulher do bolsonarista teria pedido ao marido para que parasse com as provocações e fosse embora. Eles deixaram o local após Arruda jogar pedras no veículo de Guaranho, que reagiu apontando uma arma em direção ao guarda municipal petista.

 "Se eu estivesse lá, teria tentado impedir que isso acontecesse. Mal consigo imaginar a dor da outra família", afirma a mãe do bolsonarista. - dalva - dalva
"Se eu estivesse lá, teria tentado impedir que isso acontecesse. Mal consigo imaginar a dor da outra família", afirma a mãe do bolsonarista.
Imagem: dalva

Segundo imagens de câmeras de segurança, cerca de 20 minutos depois, o policial bolsonarista retornou sozinho à Aresf. Nesse momento, a mulher de Arruda, Pâmela Suellen Silva, se identificou como policial civil. Foi quando Guaranho começou a atirar no petista. "Se eu estivesse lá, teria tentado impedir que isso acontecesse. Mal consigo imaginar a dor da outra família. Não se discute sobre religião, futebol, e politica... Ninguém ganhou nada com essa provocação, só houve perdedores", afirmou a mãe do bolsonarista.