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Ou Brasil levanta faixa contra golpe, ou Bolsonaro tem chance, diz filósofo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/07/2022 12h51Atualizada em 25/07/2022 12h51

O presidente Jair Bolsonaro (PL) quer tumultuar as eleições, por isso, a sociedade civil precisa reagir e negar apoio às tentativas de golpe — caso contrário, o país poderá viver a ruptura do sistema democrático. A avaliação é do filósofo e cientista político Marcos Nobre, que lançou recentemente o livro "Limites da democracia: De junho de 2013 ao governo Bolsonaro".

Em participação no programa UOL Entrevista, Nobre disse que a convocação dos atos para o 7 de setembro é o terceiro momento da preparação para o golpe: o primeiro, foi o feriado da Independência de 2021 e, o segundo, o indulto concedido ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).

"A ideia é tumultuar a eleição. Ele [Bolsonaro] vai fazer isso o tempo todo. Não só com o objetivo de dizer que a eleição não é limpa, mas também para não respeitar o resultado", afirmou o filósofo.

"Ou 75% da população brasileira fica atrás de uma faixa que diz 'nós não aceitamos o golpe', ou ele tem chance."

Além da manifestação da sociedade, o escritor também disse que cabe aos partidos políticos a organização — ainda que tardia — para frear as tentativas de golpe de Bolsonaro:

As pessoas estão tratando como se fosse só uma eleição, esse que é o equívoco. Essa não é uma eleição. Porque para quem quer implantar um regime autoritário no Brasil, eleição é só um detalhe." Marcos Nobre, filósofo e cientista político

"Os partidos têm que sair de uma lógica meramente eleitoral para uma de 'tem um risco aqui muito grave'. Do ponto de vista da sociedade, pessoas sem filiação partidária, sem pretensão eleitoral, que têm grande respeitabilidade e representem outras social, não politicamente, precisam fazer um movimento que eu chamaria de 'Brasil contra o golpe'. Elas precisam dizer: 'nós estaremos aqui a cada vez que tiver um movimento golpista e não vamos aceitar'."

Nobre explicou que um possível golpe pode não vir da forma "clássica", com tanques do Exército nas ruas, já que muitos regimes autoritários da década de 2010 usaram as próprias eleições para minar a democracia por dentro.

"Por exemplo, se o Bolsonaro vence a eleição em outubro, ele vai fechar o regime por dentro num modelo do Viktor Órban, da Hungria. Se ele perde, tem várias possibilidades, como criar o caos", disse, citando o exemplo da ex-presidente autoproclamada da Bolívia Jeanine Áñez.

"Toda vez que cria caos, quem vai botar ordem? Quem tem força. E criar o caos vem junto com isso de [falar em] invadir o Supremo, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é provocar esse tipo de tumulto", afirmou.

'Chegamos ao limite da democracia'

Falando sobre o novo livro, Marcos Nobre disse que a política e as instituições brasileiras não tiveram tempo de se fortalecer contra a ameaça golpista de Bolsonaro.

"Chegamos ao limite da democracia, ou seja, estamos em um governo que tem um projeto de destruir a democracia", apontou, acrescentando que o regime democrático não pode ser algo "fixo". "A democracia tem que ser reinventada o tempo todo. Se se tentar fixar a democracia num determinado conjunto de princípios, se impede que ela avance também."

Questionado por que colocar junho de 2013 — mês que registrou grandes manifestações nas ruas, primeiro, contra aumento nas passagens de ônibus e, depois, que abrangeu insatisfações políticas da população — como um marco do declínio da democracia, o escritor diz que tentou descrever o conjunto de "ações e omissões" que o sistema político viveu a partir de então.

"Para mim, em junho de 2013 é o momento em que ficou claro que não tinha jeito de fazer política do jeito que ela estava sendo feita nos 20 anos anteriores. Ali em 2013, é um sintoma de que a nossa vida tinha mudado, portanto, tinha mudado também nossa relação com a política", disse Nobre.

"As instituições brasileiras estão em colapso desde 2013, não estão conseguindo aguentar as mudanças dos últimos 10 anos. No fundo, a gente não teve tempo de democracia suficiente para construir instituições para lidar com risco como o do governo Bolsonaro", prosseguiu.

"Não nos preparamos para isso porque nem tivemos tanto tempo assim. Tivemos 33 anos de democracia até a eleição do Bolsonaro. É pouco, do ponto de vista da construção das instituições", concluiu.

Assista ao UOL Entrevista na integra: