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De coach perdido na montanha a candidato 'na marra': quem é Pablo Marçal

Coach, palestrante e ex-pré-candidato à presidência Pablo Marçal - Reprodução
Coach, palestrante e ex-pré-candidato à presidência Pablo Marçal Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

04/08/2022 04h00Atualizada em 04/08/2022 12h22

O coach Pablo Marçal (Pros) anunciou ontem (3) que vai entrar na Justiça para manter a sua candidatura à Presidência da República. A briga judicial acontece em meio a desentendimentos dentro do próprio partido —poucos dias depois de seu nome ter sido oficializado em convenção.

Empresário e escritor de autoajuda, ele está em sua primeira empreitada em disputa pública. Ele anunciou a pré-candidatura pelo Pros em abril e, de acordo com o agregador de pesquisas do UOL, nunca chegou a 0,5% das intenções de voto.

Agora, o Pros anunciou oficialmente apoio à chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que Marçal rejeita.

Inicialmente, o então candidato negou que desistiria da corrida eleitoral. À tarde, anunciou que renunciaria em uma live transmitida pelo YouTube —mas, no evento, falou sobre a ação judicial.

Quem é Pablo Marçal? O candidato é goiano e foi consultor empresarial até entrar no mundo de coach, influenciador digital e palestrante. Segundo seu portal oficial, Marçal é "cristão, filantropo, empreendedor imobiliário e digital, mentor, estrategista de negócios, especialista em branding e jurista por formação" e já escreveu 25 livros de autoajuda e motivação.

No antigo blog, que promovia suas mentorias, a definição é um pouco mais específica. "Nasceu para ativar a identidade e revelar o propósito das pessoas que se conectam a ele", diz o texto, que o define como "referência do país em desbloqueios emocionais, com diversos cursos e mentorias online sobre o assunto".

Atuando como coach, ele criou ainda um treinamento que promete desbloqueios cerebrais. Atualmente, possui mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais.

No caminho, uma 'expedição' mal-sucedida: Marçal apareceu no noticiário nacional no começo deste ano, quando liderou a subida de um grupo ao Pico do Marins, na região de Piquete, em São Paulo. Por pouco, a viagem não terminou em tragédia.

Com discurso motivacional, ele ignorou alertas de ventos fortes e levou mais de 30 pessoas à "expedição" na Serra da Mantiqueira. O Corpo de Bombeiros precisou entrar em ação e resgatar o grupo devido às intempéries climáticas —como rajadas de mais de 100 km/h. A turma perdeu barracas e suprimentos tentando avançar em meio à tempestade.

Pablo Marçal em um de seus trabalhos de mentoria motivacional, quando se perdeu no Pico dos Marins, no interior de São Paulo - Reprodução - Reprodução
Pablo Marçal em um de seus trabalhos de mentoria motivacional, quando se perdeu no Pico dos Marins, no interior de São Paulo
Imagem: Reprodução

Militares que atuaram no resgate fizeram críticas à postura de Marçal e definiram a empreitada como a pior ação já vista no Pico dos Marins.

Como entrou na política? Pouco tempo após o susto no Pico dos Marins, Marçal anunciou a intenção de concorrer à presidência em abril deste ano, antes mesmo que o seu partido, Pros, se pronunciasse sobre o assunto.

Em discurso de pré-campanha, focava no empreendedorismo —peça chave também entre suas mentorias. Em entrevistas, ele chegou a prometer criar 10 milhões de empresas e "destravar" o país.

Também tinha uma postura crítica em relação aos dois principais adversários, Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), usando frequentemente a hashtag "#ChegaDesses2".

Marçal foi oficializado pela convenção do Pros em Brasília no último domingo (31). Em seu discurso, disse que a campanha iria "tirar a vergonha do brasileiro de falar sobre política" e defendeu que o país precisa abandonar "políticos de estimação para a democracia funcionar".

Ele, no entanto, poupou Bolsonaro, que "deu o melhor que pôde", de acordo com Marçal. Mas afirmou que o atual presidente "não pode levar o Brasil para o próximo nível". "Por isso me coloquei à disposição da nação."

Nesta semana, o ex-presidente do Pros, Marcus Holanda, revelou ainda um dos motivos de o partido ter aceitado a candidatura de Marçal: a promessa de uma "vacona" junto aos alunos dos cursos motivacionais que poderia render até R$ 200 milhões para a legenda, conforme revelou a Folha de S. Paulo.

Rifado entre briga interna: Ontem, a Executiva Nacional do Pros declarou apoio à chapa de Lula e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB). O partido passa atualmente por uma disputa interna que ganhou mais um capítulo na noite de ontem, quando o STJ (Superior Tribunal de Justiça) alterou uma decisão que a própria Corte tomou no domingo e trocou a nova direção da legenda.

Depois de cinco meses afastado por briga judicial, Eurípedes Júnior, fundador do Pros, havia retomado o direito de dirigir o partido no último domingo, por meio de decisão do ministro Jorge Mussi, vice-presidente do STJ.

Com a decisão de ontem, volta ao comando da legenda Marcus Holanda, que ocupou o posto entre março e julho deste ano e é o principal fiador da candidatura de Marçal ao Planalto.

Em uma queda de braço com Holanda, Eurípedes se juntou mais uma vez ao PT. O Pros apoiou a candidatura de Dilma Rousseff (2014) e de Fernando Haddad (2018).

Agora, Marçal acrescenta mais um ingrediente nesta briga. Para o coach, a convenção realizada no domingo tem, sim, validade para a Justiça Eleitoral e não pode ser simplesmente descartada. Caberá à justiça decidir.

A quem interessa a retirada da candidatura de Marçal? A equipe de Lula tenta reduzir o número de candidatos ao Planalto, com a intenção de ganhar no primeiro turno. Para vencer, a chapa lulista teria que ter um voto a mais que a soma dos demais candidatos.

Oficialmente, o Pros se torna o oitavo partido a se unir à campanha de Lula —e deve somar 17 segundos a mais na propaganda eleitoral na televisão. Além de PT e PSB, da chapa principal, a aliança conta ainda com PCdoB e PV —que compõe federação com o PT—, PSOL, Rede e Solidariedade.

A equipe petista também negocia a adesão do Avante e do deputado André Janones (Avante-MG), pré-candidato da sigla que já indicou possibilidade de desistência em prol de Lula. As executivas dos dois partidos e direções de campanhas devem se encontrar hoje em São Paulo e definir a aliança.