Sóstenes: Bolsonaro prometer evangélico no STF foi erro e gerou preconceito
Líder da chamada bancada da Bíblia na Câmara, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) afirmou ao UOL que o presidente Jair Bolsonaro (PL) errou ao anunciar que indicaria para o STF (Supremo Tribunal Federal) um nome "terrivelmente evangélico", em julho de 2019.
Por quê? Para ele, a promessa, cumprida dois anos depois com a escolha do então ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) e pastor da igreja presbiteriana André Mendonça, desencadeou "preconceito" contra fiéis e lideranças religiosas.
"Quando ele falou que seria um terrivelmente evangélico, inspirou um cavalo de batalha. Nós tivemos que pagar um preço muito caro para conseguir aprovação de André Mendonça no Senado — foi a indicação mais demorada a ser pautada naquela Casa", afirmou
Em banho-maria O Senado levou mais de quatro meses para realizar a sabatina e o pleito. Mendonça foi aprovado, com 47 votos favoráveis e 32 contrários.
Tiro (quase) pela culatra Sóstenes disse considerar que o gesto de Bolsonaro aos evangélicos poderia ter consequências negativas caso Mendonça não tivesse passado pelo crivo dos senadores.
Teria saído pela culatra se a gente não tivesse aprovado ele. Em qualquer outra nomeação ele não precisa falar que está escolhendo porque o cara é evangélico, senão nós voltaremos a sofrer preconceito
Sóstenes Cavalcante (PL)
Indagado se Bolsonaro havia feito ou não novas promessas aos evangélicos com foco na tentativa de reeleição, Sóstenes respondeu que o presidente e candidato do PL à reeleição "nunca promete nada a ninguém".
Confira, abaixo, a entrevista com o líder da bancada evangélica:
Existe preconceito contra os evangélicos na política?
"O que mais temos é advogados e juízes evangélicos no país. Por que eles não podem compor a Suprema Corte? Esse é um olhar que a sociedade brasileira precisa entender. Evangélico estar ocupando espaços de poder deveria ser a coisa mais natural do mundo. Não deveria assustar ninguém. Nós pagamos impostos, somos cidadãos. Às vezes, esse [mesmo] olhar para o segmento evangélico, eu não observo, com todo respeito aos colegas e à mídia brasileira, ninguém levantando a declaração de fé de católicos, espíritas."
Existe expectativa quanto a ocupar mais espaços de poder se Bolsonaro for reeleito?
"Somos 30% da população do país. Estamos preparados e temos gente preparada para ocupar toda e qualquer pasta de ministério caso o presidente escolha e queira ter os seus ministros. Na composição do primeiro governo Bolsonaro, em algum momento, ele teve 6 ministros evangélicos de 22 ou 23. Ou seja, literalmente quase um terço. É o que somos da população."
"Bolsonaro não privilegiou um segmento, ele fez justiça. O que não acontecia em outros governos. Ele olhou para os evangélicos como um segmento natural que acompanha a sociedade brasileira. Por isso ele tem tanto apoio hoje dos evangélicos."
E no STF?
"Para mim, independente de ser mais um evangélico. Pode ser católico, espírita, ateu, não tem problema, pode ser evangélico. Para mim, o credo religioso é secundário. O que importa é que seja conservador."
"A esperança é que Bolsonaro coloque [mais] dois conservadores [em referência às duas vagas que devem ser preenchidas até 2026 no STF], para a gente equilibrar o jogo. Porque o jogo ideológico no STF ficou desequilibrado."
Por que Bolsonaro tem dedicado muitas agendas aos evangélicos, que, em grande parte, já o apoiam?
"É muito mais para falar para fora do que para dentro do segmento evangélico. A preocupação não é com segmento evangélico, nem precisa ser. Nós já fazemos isso voluntariamente por ele. A questão ideológica nos une."
O que fortalece a relação entre Bolsonaro e evangélicos?
"Ele só tem a projeção política dentro desse segmento porque nós fomos esquecidos pela esquerda. Não só esquecidos, como perseguidos. Não se ouvia falar de evangélico na esquerda. Com exceção de Benedita da Silva [deputada federal]. Coitada, a única petista [evangélica]. E a esposa agora do Wellington Dias [Rejane Dias], que é uma petista evangélica. Tirando disso, eles só faziam era perseguir o nosso segmento."
E a pauta de costumes?
"Enquanto o Bolsonaro tiver no poder, a questão da pauta de costumes não é nossa preocupação. No Congresso, a gente se garante. Lá não passa nada com a gente. A nossa preocupação hoje é a corrupção."
Bolsonaro tem voto de 70% dos evangélicos, diz bancada
Os evangélicos fazem parte da estrutura central da base de apoio a Bolsonaro na tentativa de renovar o seu mandato por mais quatro anos. Segundo cálculos feitos pela bancada da Bíblia na Câmara, cerca de 70% dos evangélicos votam no atual presidente da República.
Nos últimos meses, Bolsonaro tem dedicado a maioria de suas agendas de campanha, que ocorrem em meio ao expediente como chefe do Executivo e também em viagens nos fins de semana, à participação em cultos evangélicos e encontros com líderes e fiéis nas igrejas.
No começo do mês, o presidente esteve ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro — cuja participação na campanha tem sido cada vez mais ativa em relação aos evangélicos e às mulheres —, em um culto em Belo Horizonte. Na ocasião, o casal se ajoelhou em momento de oração. Michelle afirmou que o Palácio do Planalto já foi "consagrado a demônios".
Dias antes, circulou pelas redes sociais um vídeo no qual a primeira-dama leva evangélicos para orar no Palácio do Planalto de madrugada, em grupo acompanhado por pastores e cantores. Nas imagens, a primeira-dama anda pelos principais pontos do Palácio.
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