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Achar que entende evangélicos é o luxo político mais caro da eleição
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Arrogância é bicho que come o dono. É com esse bicho que lideranças evangélicas enfiadas na política contam na vingança contra o petismo. E está funcionando a todo vapor.
Quase todos os líderes evangélicos proeminentes na política apoiaram o governo Lula e os governos Dilma Rousseff. Na campanha da reeleição, aliás, ela "aceitou Jesus" e contou com uma carta do pastor Marco Feliciano.
Na época, ele asseverava que Dilma Rousseff havia mesmo mudado sua posição sobre aborto, passando a ser contrária. E dizia que foi o PSDB de José Serra quem liberou aborto.
Em culto na Assembleia de Deus, a então candidata disse que o Estado é laico mas "feliz da nação cujo Deus é o senhor", mesmo trecho do Salmo 33 dito por Michelle Bolsonaro dentro da Igreja Batista da Lagoinha.
O nicho do pastor político é específico dentro do meio evangélico e não corresponde à sua maioria ou totalidade.
A maior denominação evangélica do Brasil, a Assembleia de Deus, desistiu de ter um partido porque seus fiéis não aceitam essa lógica. É algo muito bem explorado no documentário de 2015 "Púlpito e Parlamento - Evangélicos na Política", disponível no YouTube.
Já outra denominação poderosa, mas que não dialoga teologicamente com nenhuma outra, a Igreja Universal do Reino de Deus, montou seu partido, o PRB.
José de Alencar, vice de Lula, era filiado ao partido da Igreja. E, neste final de semana, o ex-presidente disse em comício ser contra partidos de igrejas. É desse tipo de dissonância cognitiva que se alimenta a revanche evangélica.
E por que haveria uma revanche? Porque evangélicos jamais serão tratados como aliados de primeira hora pelo progressismo petista. Não importa o quanto cedam ou quem sejam, serão inevitavelmente ridicularizados como se fossem os maiores imbecis do mundo.
Um exemplo que calou fundo foi tentativa de simplificar intelectualmente Marina Silva quando começou a oferecer perigo à reeleição de Dilma Rousseff.
Ela declarou em algum lugar que é criacionista. Todo mundo cristão entende perfeitamente que ela acredita na explicação científica da origem do universo e crê que existe um Deus por trás disso.
É o que creem também astronautas como John Glenn, Ed White, Gordon Cooper, Frank Borman, Jim Irving, Charlie Duke e o famosíssimo Buzz Aldrin, que é católico praticante.
Aliás, ele tentou saber se poderia tomar a comunhão na Lua. Isso não foi possível. Então fez com que as primeiras palavras ditas ali, na caminhada lunar, fossem um trecho do Evangelho de João: ""Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma".
Buzz Aldrin também é criacionista, mas nossa elite intelectual entendeu que Marina Silva iria ensinar que o mundo foi criado como está no livro do Gênesis. Teve até editorial sobre isso.
Para evangélicos e aqueles que nem creem, mas fazem parte da cultura evangélica, uma coisa é clara: essa bolha jamais os aceitará e não perderá nenhuma oportunidade de humilhação pública.
A diferença prática entre o tratamento dado pelos governos petistas e Bolsonaro às igrejas é quase inexistente. Mas os pastores agora são aliados de primeira hora e reconhecidos, não são mais um fardo, uma vergonha ou um dano colateral.
A igreja evangélica brasileira, com toda sua diversidade, ocupou espaços em que o Estado abandonou quem mais precisava. É criada uma cultura moral mais conservadora que também engloba a valorização do perdão e da redenção.
Ao mesmo tempo, a elite progressista se torna macartista, abraçando a tal "cultura do cancelamento", lógica moral oposta. É um choque de visões de mundo que neste momento beneficia o bolsonarismo.
Guilherme Boulos, por exemplo, postou um vídeo de Marco Feliciano apoiando Dilma e Lula. Fez o maior sucesso entre suas paquitas políticas.
Isso só é ruim para Marco Feliciano na lógica do cancelamento, em que seu passado te persegue para destruir o presente. Na lógica cristã não: pessoas erram, se arrependem e o que Boulos fez foi tripudiar. Ou seja, ele fez campanha para quem queria prejudicar.
Achar que sabe algo é um conforto psicológico para quem tem medo de parecer burro. Numa eleição, é um luxo proibido.
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