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Milícias têm força eleitoral e vão ser muito bem votadas, diz pesquisador

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/08/2022 15h50

A PF (Polícia Federal) e o Gaeco (Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) prenderam ao menos oito pessoas durante a Operação Dinastia, deflagrada para prender lideranças da milícia de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que atua principalmente na zona oeste da cidade. A expectativa dos promotores é conseguir informações sobre o assassinato do ex-vereador do Rio Jerônimo Guimarães, o Jerominho, fundador da milícia Liga da Justiça, que deu origem ao Bonde do Zinho. A atuação das milícias no Rio de Janeiro é uma das principais discussões acerca das eleições estaduais que acontecem em outubro, e para o pesquisador Bruno Paes Manso, essas milícias possuem uma força eleitoral muito grande.

Durante participação no UOL News, Paes Manso afirmou que, apesar de acabarem atuando mais nos bastidores do que se elegendo para cargos políticos, as milícias devem ser muito bem votadas. "Sem dúvida nessas eleições as milícias vão ser muito bem votadas. A gente já vê pela corrida eleitoral o apoio que o atual governador Cláudio Castro tem. Isso mostra a força que esses grupos têm eleitoralmente, principalmente porque um governador fraco como é o Cláudio Castro, que veio de ser vice de um candidato que já era inexpressivo e surpreendeu na reta final, é ideal para que esses grupos dominem. Quando você tem um governo executivo fraco, mais forte ficam esses grupos e mais dependente das ordens desses grupos milicianos fica. Quando você tem essa situação, você tem candidatos ao Legislativo e ao Parlamento que não podem se colocar contra esses grupos, porque o próprio fato de você fazer uma campanha de oposição ou lançar uma candidatura de oposição já coloca a sua vida em risco".

"Esse cenário me parece muito favorável para a eleição dessas pessoas, mas não diretamente vinculadas às milícias. (...) depois da CPI das Milícias feita pelo Marcelo Freixo em 2008, eles perceberam que eles precisavam atuar nos bastidores e que, na verdade, os políticos que representavam esses grupos não necessariamente estariam na frente dos negócios. Era muito mais inteligente e muito mais discreto esse tipo de relação, então você tem pessoas que são simpáticas ao negócio, mas não necessariamente estão diretamente tocando o negócio. Isso torna muito mais difícil de vincular aos interesses das quadrilhas, mas acho que vai ser muito bem sucedido", completou.

Ainda durante a participação no UOL News, o pesquisador disse que Jerominho e Natalino, famosos milicianos do Rio de Janeiro que ocuparam cargos políticos, viviam em um outro contexto, antes da criação da CPI das Milícias. "Jerominho e Natalino são pré-históricos. Estamos falando de 15 anos atrás, era um outro modelo de milicianos que colocavam a cara na frente quando se candidatavam na política. O Jerominho foi vereador e o Natalino foi deputado, entre outros milicianos que eram chefes de quadrilha e se candidatavam a prefeito".

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"As milícias são diversos grupos hoje que já dominam mais de 50% do território do Rio de Janeiro. Eles controlam territórios, fortemente armados e com conexões na política e nas instituições, porque muitos deles são ligados às polícias e esses grupos são formados por policiais, ex-policiais, agentes de segurança de uma forma geral e também agora civis que começaram a se fortalecer no final dos anos 90 e começo dos anos 2000".

Em participação no UOL News, o pesquisador Bruno Paes Manso também falou sobre as influências que esses grupos possuem em determinados territórios. "Eles controlam esse território de uma forma armada e têm até uma certa tolerância política para isso, aí começam a extrair receitas desses territórios. Pode ser via extorsão de comerciantes e moradores, mas via também uma série de vendas de mercadorias ilegais. Pode ser transporte clandestino, cigarro pirata, gatonet, gás. Eles organizam monopólios nesses territórios e hoje em dia virou um modelo de negócio vencedor do crime, porque as milícias hoje controlam com muito fuzil e com muita influência política".

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"Já que o presidente vai comemorar um dos setores que ele tem grande apoio, por que ele não vai fazer isso com os outros setores? Por que ele não coloca todo mundo em blocos? Acho que tinha que ter um bloco dos garimpeiros ilegais. Escavadeiras e grandes dragas jogariam lama na Esplanada dos Ministérios e atrás viriam pessoas cobertas de ouro e com armas na mão. Poderiam até colocar crianças indígenas numa picape, crianças doentes de sarampo e tuberculose, que são passadas pelos garimpeiros ilegais".

Durante participação no UOL News, Leonardo Sakamoto também destacou a relação do presidente Jair Bolsonaro (PL) com as milícias. "Já que está falando de uma homenagem aos setores que apoiam o Bolsonaro na zona rural, zona urbana também. Vamos botar um bloco dos milicianos do Rio de Janeiro. Pessoas que fazem gatonet, agiotas, carros de luxo com placas escondidas com fitas, milicianos transportando rifles, carregando placas com a cara de vítimas como Marielle Franco, né?".

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