'Pisaram na bola': como opositores ocuparam sites ligados a Bolsonaro
"O domínio www.bolsonaro.com.br está à venda e ele pode ser seu. Não dá para acreditar, não é mesmo?", pergunta Raphael Patrick, um especialista em comprar e revender domínios de internet, em um vídeo publicado em janeiro.
O site bolsonaro.com.br, que era o domínio oficial de Jair Bolsonaro, viralizou nas redes sociais após usuários descobrirem que ele passou a mostrar conteúdos contrários ao presidente — inclusive com imagens que o retratam como Hitler e o diabo. Hoje, o site saiu do ar, conforme revelou reportagem do UOL.
"Me parece que ele perdeu o domínio. Não sei se algum estagiário esqueceu de renovar", diz Patrick. A gravação foi feita um dia antes de o endereço ir a leilão pela segunda vez. Isso acontece quando o dono deixa de fazer o pagamento de apenas R$ 40 ao ano.
Na primeira vez em que foi a leilão, o domínio foi vendido a um usuário por R$ 22 mil. O valor não foi pago e ele voltou à lista de disponíveis.
Na segunda vez, em 25 de janeiro, foi comprado por R$ 20 mil pelo atual proprietário — um empresário do ramo de papelão do Paraná.
"Olha, eu comprei porque pareceu ser uma oportunidade importante de contribuir com o debate político", diz o empresário, que não quis que seu nome fosse divulgado.
Outras páginas que poderiam ser relacionadas ao presidente, como bolsonaro22.com.br (o seu número de urna) e bolsonaropresidente.com.br, também direcionam à página satírica.
Entre os sites que deveriam pertencer à família Bolsonaro, há apenas um registrado em nome da advogada do presidente, Karina Kufa. E está fora do ar. Os demais foram arrematados por outras pessoas — inclusive opositores.
A página carlosbolsonaro.com.br, que deveria ser do filho 03 do presidente, vereador pelo Rio de Janeiro, hoje traz uma mensagem: "Carlos Bolsonaro, entre em contato com a gente", diz. "Este domínio foi recuperado e será doado exclusivamente para Carlos Bolsonaro."
A pessoa que arrematou o endereço e quer devolvê-lo ao vereador é o mesmo Raphael Patrick.
No momento que consegui recuperar o domínio eu já mandei mensagem para ele via Instagram avisando que iria doá-lo, mas acho que ele [Carlos Bolsonaro] ainda não viu a mensagem"
Raphael Patrick, que compra e revende domínios de internet
O endereço ficou disponível pela primeira vez em abril, e passou por cinco tentativas de venda até finalmente ir para as mãos de Patrick, na última sexta-feira, dia 26. Ele não quer revelar o valor. Só diz que foi "um pouco mais barato" do que o domínio de Jair Bolsonaro.
O bolsonaro22.com.br foi comprado por R$ 40 em agosto do ano passado por um empresário do interior de São Paulo. Dono de uma loja de acessórios de meteorologia, ele usou o domínio para redirecionar quem procurava informações sobre o presidente para o site de sua loja. O tráfego aumentou 40% em um mês.
Pisaram na bola feio. Acho que não tem nenhum domínio importante que leva para uma página do candidato"
Empresário que comprou um dos domínios e não quis se identificar para evitar retaliações
Já o endereço michellebolsonaro.com.br foi vendido para Pedro Hazan, jornalista de Santos e antibolsonarista ferrenho. "Vi disponível e resolvi pegar", disse ele, que pagou apenas R$ 50 pelo endereço.
A página, que até ontem estava fora do ar, hoje traz escrito "89 mil reais" — em referência ao valor que a primeira-dama recebeu em cheques de Fabrício Queiroz — e "684 mil mortos", lembrando as vítimas da covid no país.
O domínio chegou a ser vendido por R$ 400, mas a pessoa não pagou. Voltou pro leilão e eu acabei conseguindo comprar por R$ 50", disse.
Aliás, o domínio flaviobolsonaro.com.br, que hoje não funciona, pode entrar em leilão em setembro caso a equipe do senador (PL) não pague os R$ 40 pela manutenção do endereço.
Nem os outros filhos de fora da vida política escaparam. O domínio jairrenanbolsonaro.com.br foi comprado na quinta-feira (31) e também direciona à página de oposição. O laurabolsonaro.com.br ficou ativo por um ano, até julho, e era pago por uma empresa de Recife. O status do domínio agora é "congelado".
O site com o nome do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que pertence a um advogado de Porto Alegre e tinha até quarta-feira (31) uma "em construção", hoje leva a uma propaganda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do presidente na eleição.
Governo aciona PF e Justiça
Depois da repercussão do site que critica Bolsonaro, que tem o título "Ameaça ao Brasil", o ministro da Justiça e da Segurança Pública Anderson Torres postou no Twitter que requisitou à Polícia Federal a instauração de um inquérito para apurar os fatos.
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