'Criminoso perigoso': entidade de policiais questiona abordagem a Jefferson
A ação envolvendo a prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), que deu tiros de fuzil e jogou granadas contra policiais federais, em Comendador Levy Gasparian (RJ), desencadeou uma série de críticas.
Especialistas ouvidos pelo UOL Notícias contestam a longa negociação, dizendo que Jefferson deveria ter sido isolado e algemado após as tentativas de homicídio. Eles cobram, inclusive, uma investigação sobre a intervenção do ministro da Justiça, Anderson Torres, no episódio.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, Anderson Torres comandou as negociações para a rendição de Jefferson da cidade de Juiz de Fora (MG), a cerca de 51 quilômetros da casa do petebista.
De acordo com a Secretaria de Comunicação do governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) proibiu Torres de seguir para o condomínio de Jefferson, palco de um enfrentamento com os agentes da Polícia Federal no início da tarde.
Questionada pelo UOL Notícias sobre a existência de armas de grosso calibre e granadas na residência de Jefferson, a Polícia Federal se limitou a responder que o procedimento está sob sigilo.
'Criminoso de alta periculosidade'. Flávio Werneck, diretor-jurídico da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), diz que o político deveria ser tratado como um "criminoso de alta periculosidade" após o ataque contra os policiais federais.
"Houve uma tentativa de homicídio com fuzil e granadas. É só ver como ficou a viatura, que era blindada. A partir desse momento, a cena do crime deveria ter sido totalmente isolada. Ele [Roberto Jefferson] deveria ter sido tratado como um criminoso de alta periculosidade, mas não foi o que aconteceu."
Tratamento político foi um erro, critica. Segundo ele, os agentes deveriam impedir o acesso de qualquer pessoa ao local, também privado de acesso à água, luz ou telefone, para que Jefferson ficasse incomunicável.
"Infelizmente, ele teve acesso a um tratamento político, com intervenção incorreta do Ministério da Justiça e entrada de outras pessoas na cena do crime. É um absurdo isso ter acontecido. Ele usou armas de guerra contra os policiais, e deveria sair de lá algemado, no fundo da viatura. É o procedimento adequado a todo e qualquer criminoso que ataca policiais com fuzil e granadas", argumenta Werneck.
'Ele cumpriu o papel dele', diz sobre negociador. Werneck também comentou a conversa amistosa entre Jefferson e um agente da PF, que negociava a sua rendição. Trechos do diálogo foram flagrados em vídeo que circula entre policiais federais.
"Se tivesse sido um procedimento adequado, nada disso teria acontecido. Há críticas à postura e ao que ele disse, mas ele cumpriu o papel dele, que era o de levar o criminoso preso sem efeitos colaterais."
'Eu vesti um personagem.' O UOL Notícias obteve uma mensagem compartilhada em grupos de WhatsApp e atribuída ao agente Vinicius Secundo, que aparece no vídeo conversando com Jefferson, onde ele tenta se explicar. "Virou um gerenciamento de crise, se sai um inocente ferido ou morto seria uma tragédia e nome da PF na lama. Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível", explicou o agente.
Na mensagem, o policial se identificou como chefe-substituto do GPI (Grupo de Pronta Intervenção) e disse ser negociador formado pelo COT (Comando de Operações Táticas). A veracidade da mensagem foi confirmada com fontes ligadas à Polícia Federal.
Ação do Ministério da Justiça deve ser investigada? O ex-procurador Bruno Espiñeira, presidente da Anacrim-DF (Associação Nacional da Advocacia Criminal, no DF) cobrou investigação sobre a participação no episódio do ministro da Justiça, Anderson Torres.
"Me parece uma situação atípica e as consequências disso deverão ser investigadas pelo próprio ministro relator [Alexandre de Moraes], que determinou essa voz de prisão", disse o advogado criminalista.
O ex-procurador ainda comparou o episódio envolvendo Jefferson com ações de organizações criminosas. "Nos meus 28 anos de atuação, jamais tinha me deparado [com uma situação como essa], numa área sensível que é o direito penal, e confesso que exceto em situações de organizações criminosas."
Profissionais treinados para agir. Quando recebidos a tiros, como ocorreu na ação envolvendo a prisão de Roberto Jefferson, a Polícia Federal faz a segurança no entorno e então aciona um grupo tático, explicou o policial federal Roberto Uchôa, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Com isso, são eles que definirão se vão invadir a residência do alvo ou iniciar uma negociação para a rendição. "A Polícia Federal tem pessoal treinado para isso", explicou.
Entidade de delegados pede esclarecimentos à PF. Em nota, a Fenadepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) pede esclarecimentos sobre os protocolos adotados "no planejamento, na execução e no gerenciamento da crise", cita um dos trechos do texto.
"Sobretudo diante da resistência que, por pouco, não resultou no óbito do delegado e dos demais policiais federais envolvidos."
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