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Vídeo mostra conversa amistosa entre Jefferson e policial após ataque

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

24/10/2022 00h09Atualizada em 24/10/2022 10h18

Um vídeo que circula entre policiais federais e foi obtido pelo UOL mostra uma conversa amistosa entre o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e um policial federal que negociava a rendição dele na tarde deste domingo (23), depois de o ex-parlamentar ter atirado contra policiais federais que tentavam cumprir uma ordem de prisão contra ele. Dois agentes ficaram feridos.

Mais cedo, ao comentar a prisão de Jefferson, o presidente Jair Bolsonaro (PL) havia dito que "o tratamento dispensado a quem atira em policial é bandido". No entanto, o vídeo mostra o policial sendo cordial com o ex-deputado —ele chega a dizer: "O que o senhor precisar a gente vai fazer".

Na gravação, é possível ver que a conversa entre Jefferson e o policial, que não teve sua identidade confirmada pela reportagem, é acompanhada por Padre Kelmon (PTB), candidato derrotado à Presidência.

Inicialmente, o ex-deputado afirma que não atirou nos policiais —mas revidou. "Eu quero lhe dizer uma coisa. Não atirei neles. Eles sabem disso. Eu cheguei e eles estavam embaixo, e eu com fuzil, com a arma."

O policial responde que "os meninos estão bem", numa possível referência aos agentes feridos, que foram socorridos e passam bem, segundo nota divulgada mais cedo pela PF.

Eu falei: 'vocês não têm como me levar. Vocês não estão armados'. Todo mundo sem colete. Todo mundo de peito nu."
Roberto Jefferson, em conversa com policial

O agente que negocia com o ex-parlamentar diz que os colegas que foram cumprir a ordem de prisão são da área de inteligência, "burocráticos", trabalham em escritório e "não são operacionais".

Jefferson relata que um policial "magrinho" atirou nele. "Ele que atirou em mim primeiro", afirma. "Ele três vezes ficou enquadrado no meu red dot [função que auxilia o atirador na hora do disparo]. E eu falei, 'não atira nele, Roberto Jefferson'. Eu não atirei. Quando eles correram para atrás da viatura, aí eu joguei a granada na frente."

O policial pergunta que tipo de granada Jefferson atirou contra os policiais, e ele responde que era de efeito moral. O agente ri —ao fazer comentário sobre o cheiro no local.

Jefferson admite ainda ter jogado uma segunda granada quando os policiais desceram a ladeira e diz que atirou apenas contra o carro "quando não havia ninguém".

Horas de negociação. O ex-deputado se entregou à PF em sua casa, em Comendador Levy Gasparian (RJ), após horas de negociação. Jefferson deixou sua residência às 19h deste domingo em uma viatura preta, escoltada por outras duas, sendo uma caracterizada da Polícia Federal. Ele foi levado à Superintendência da PF, no Rio.

Além de Bolsonaro —que chamou Jefferson de criminoso no post—, o ministro do STF Alexandre de Moraes também se manifestou logo após a prisão, parabenizou a PF pelo trabalho e se solidarizou com os policiais feridos.

Por que Jefferson foi preso? Os agentes da PF foram até a casa de Jefferson na manhã de domingo cumprir ordem de prisão determinada por Alexandre de Moraes. Na decisão, o ministro aponta o descumprimento de medidas cautelares por parte de Jefferson —até domingo, ele estava em prisão domiciliar. Ele é acusado de tumultuar o processo eleitoral e proferir discursos de ódio, além de atacar instituições democráticas.

No despacho, Moraes pediu prisão, busca e apreensão e proibiu entrevista.

A decisão ocorreu depois de Jefferson xingar a ministra Cármen Lúcia, do STF, e a comparar com "prostitutas", "vagabundas" e "arrombadas" em uma publicação na internet. Ele estava proibido de usar as redes sociais, justamente por outra ordem de Moraes. A gravação foi publicada no perfil da filha de Jefferson, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), que teve a conta suspensa.

No fim da tarde, Moraes expediu nova ordem de prisão. "Diante de todo exposto, independentemente do horário, determino à Polícia Federal que cumpra a ordem de prisão expedida e/ou a prisão em flagrante delito. A intervenção de qualquer autoridade em sentido contrário, para retardar ou deixar de praticar, indevidamente o ato, será considerada delito de prevaricação", diz o texto. Jefferson se entregou logo depois.

Em nota divulgada à noite, a Polícia Federal informou que Jefferson foi também preso em flagrante por tentativa de homicídio. "Além da prisão judicial, o investigado também foi preso em flagrante sob a acusação, inicial, de tentativa de homicídio, sem prejuízo de eventuais outros crimes cometidos durante a ação."

Ex-deputado gravou vídeos. No domingo, o ex-deputado gravou vídeos em que confirma ter reagido à prisão contra agentes da PF, em sua casa, e chegou a dizer que não iria se entregar.

"Chega de opressão, eles já me humilharam muito, a minha família. Mas eu não estou atirando em cima deles. Eu dei perto, eu não atirei neles. Eu não atirei em ninguém para pegar. Atirei no carro e perto deles. Eram quatro, eles correram, e eu falei: 'sai porque eu vou pegar vocês'. Isso que vocês têm que saber. Eles vão vir forte e eu não vou me entregar. Chega. É muita humilhação", disse ele em um dos vídeos.

Além dos vídeos, Roberto Jefferson divulgou uma nota. Disse que a prisão domiciliar ocorreu por "decisão ilegal" e que "a injustiça todos os dias se renova sobre minha vida e da nossa família".