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Roberto Jefferson se entrega à PF depois de atirar contra policiais

Do UOL, em Comendador Levy Gasparian (RJ) e em São Paulo

23/10/2022 19h15Atualizada em 24/10/2022 09h40

O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) se entregou à PF (Polícia Federal) em sua casa, na noite deste domingo (23), depois de atirar contra agentes que cumpriam ordem de prisão contra ele. O ataque ocorreu no fim da manhã. Ele cumpria prisão domiciliar e é investigado por atentar contra o Estado Democrático de Direito.

O ex-deputado reagiu à abordagem de policiais que cumpriam uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes de prendê-lo em sua casa, em Comendador Levy Gasparian, a cerca de 140 km do Rio. Dois agentes ficaram feridos, atingidos por estilhaços, mas passam bem.

Jefferson deixou sua residência às 19h deste domingo em uma viatura preta, escoltada por outras duas, sendo uma caracterizada da Polícia Federal. Ele foi levado inicialmente à Superintendência da PF no Rio e, depois, passou a madrugada no presídio José Frederico Marques, em Benfica, onde deve passar por audiência de custódia, informou ao UOL a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária). A previsão é que o procedimento seja realizado ainda hoje.

Durante a transferência de Jefferson ainda ontem, manifestantes entoaram gritos de apoio ao ex-parlamentar, em frente à casa dele. Equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio deixaram o local em seguida.

Pouco antes da saída do ex-deputado, um reboque retirou outro carro da PF que havia chegado mais cedo, com diversas marcas de tiros no para-brisa.

Mesmo depois da saída de Jefferson, policiais federais continuaram na casa do ex-deputado. Eles não informaram que trabalhos estavam sendo realizados. Quatro carros da PM (Polícia Militar) resguardavam o acesso à residência.

Bolsonaro sobe tom contra aliado. Logo após o ex-parlamentar deixar sua casa escoltado por agentes da corporação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou um vídeo no Twitter confirmando a prisão de Jefferson, que é seu aliado, e o chamou de criminoso.

"Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado em quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio", disse o candidato à reeleição.

No entanto, um vídeo que circulou pelas redes de policiais mostra Jefferson conversando com um agente em tom cordial. O ex-deputado confirmou que atirou e lançou granada.

O ministro Alexandre de Moraes também se manifestou logo após a prisão —ele parabenizou a PF pelo trabalho e se solidarizou com os policiais feridos.

"Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos", escreveu.

Por que Jefferson foi preso? A ordem de prisão que seria cumprida pela manhã aponta o descumprimento de medidas cautelares por parte de Jefferson. No despacho, Moraes pediu prisão, busca e apreensão e proibiu entrevistas.

A decisão ocorreu depois de Jefferson xingar a ministra Cármen Lúcia, do STF, e a comparar com "prostitutas", "vagabundas" e "arrombadas" em uma publicação na internet. Ele estava proibido de usar as redes sociais, justamente por outra ordem de Moraes. A gravação foi publicada no perfil da filha de Jefferson, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), que teve a conta suspensa hoje.

Uma das medidas que ele deveria cumprir no período da prisão domiciliar é não publicar nas redes sociais.

No domingo, o ex-deputado gravou vídeos em que confirma ter reagido à prisão contra agentes da PF, em sua casa, e chegou a dizer que não iria se entregar.

"Chega de opressão, eles já me humilharam muito, a minha família. Mas eu não estou atirando em cima deles. Eu dei perto, eu não atirei neles. Eu não atirei em ninguém para pegar. Atirei no carro e perto deles. Eram quatro, eles correram, e eu falei: 'sai porque eu vou pegar vocês'. Isso que vocês têm que saber. Eles vão vir forte e eu não vou me entregar. Chega. É muita humilhação", disse ele em um dos vídeos.

No fim da tarde, Moraes expediu nova ordem de prisão. "Diante de todo exposto, independentemente do horário, determino à Polícia Federal que cumpra a ordem de prisão expedida e/ou a prisão em flagrante delito. A intervenção de qualquer autoridade em sentido contrário, para retardar ou deixar de praticar, indevidamente o ato, será considerada delito de prevaricação", diz o texto. Jefferson se entregou logo depois.

A PF informou que o ex-deputado foi preso em flagrante por tentativa de homicídio. "Além da prisão judicial, o investigado também foi preso em flagrante sob a acusação, inicial, de tentativa de homicídio, sem prejuízo de eventuais outros crimes cometidos durante a ação."

Padre Kelmon acompanhou negociações. Mais cedo, a pastora e ex-deputada Liliam Sá afirmou à imprensa que Jefferson entregou as armas após a chegada de Padre Kelmon (PTB).

Padre Kelmon, que substituiu Jefferson na disputa pela Presidência, foi ovacionado por um grupo de apoiadores ao chegar ao local e acompanha as negociações de perto.

Dezenas de pessoas se concentraram no local pedindo a liberdade do ex-parlamentar. A pastora Liliam Sá conduziu uma oração com o grupo.

Em nota, 'injustiça'. Além dos vídeos, Roberto Jefferson divulgou uma nota. No texto, disse que a prisão domiciliar ocorreu por "decisão ilegal" e que "a injustiça todos os dias se renova sobre minha vida e da nossa família".

O ex-deputado afirmou ainda que os "superministros" não querem que seus atos como servidores públicos sejam criticados "ainda que promovam injustiças". O político criticou ainda a postura da OAB. "Nunca a Ordem dos Advogados saiu em minha defesa, para cumprimento da constituição ao qual jurou defendê-la", disse.

O ex-deputado citou os empresários que, em um grupo de WhatsApp, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito.