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Fiz o L, xinguei Bolsonaro e veio uma pedrada, diz jovem atacado em Jundiaí

Do UOL, em São Paulo

04/11/2022 19h25

Em depoimento à Polícia Militar, o estudante Vitor Cotrim, 18, afirmou que viu uma pedra ser atirada em sua direção após ter provocado, ontem, um grupo de bolsonaristas em Jundiaí, cidade a cerca de 55 quilômetros da capital paulista. Ele estava em um ônibus escolar, que foi invadido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que faziam uma manifestação em uma via da cidade. Cotrim e outros jovens foram agredidos.

"Eu, em particular, fiz com a mão o símbolo 'L' e gritei 'Bolsonaro, vai tomar no c*'. De repente um homem de branco, barba curta, boné preto virada para trás e blusa e máscara preta jogou uma pedra em minha direção", disse Cotrim.

Os jovens agredidos são estudantes da escola técnica ETEC Vasco Antônio Venchiarutti, de Jundiaí, que suspendeu as aulas em razão do episódio.

O documento, obtido pelo UOL Notícias, foi registrado pela Polícia Militar de São Paulo por volta das 20h de ontem. Ele traz o relato dos jovens agredidos e dos bolsonaristas. Segundo o documento, o caso aconteceu na avenida Quatorze de Dezembro, na altura do número 100, no bairro de Vila Rami, em Jundiaí.

Relato de estudantes

No depoimento, Cotrim disse que estava saindo da escola, em direção ao terminal de ônibus, quando o veículo passou pela avenida que tinha o ato de apoiadores de Bolsonaro. Ele, então, fez o gesto com a mão, uma referência ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que derrotou Bolsonaro nas urnas.

O jovem afirmou que a pedra não atingiu seu rosto, mas quebrou o vidro do ônibus e os cacos cortaram seu supercílio. "Depois, quatro pessoas entraram no ônibus e começaram a xingar. Foram na direção ao meu amigo, puxando ele para fora do ônibus", continuou.

Na sequência, ainda de acordo com o adolescente, uma mulher, que estava na manifestação, entrou no ônibus e pediu para os homens pararem, que "não precisava de tudo isso". Só aí os homens desceram do ônibus. Cotrim afirmou que o motorista foi checar como ele estava e o ônibus foi embora do local.

O segundo estudante com relato no documento é Pedro Henrique Silva de Lima, 18. Ele confirmou a versão do colega, que os jovens fizeram o "L" e gritaram contra Bolsonaro. O estudante também afirmou que viu um homem jogar uma pedra na direção do ônibus e outro homem o xingou e o pegou pelo braço, querendo que ele descesse do ônibus.

Relato do motorista

O motorista do ônibus também foi ouvido. Sebastião Moreira da Silva Filho, 42, afirmou que pegou os estudantes na escola para levar para o terminal do ônibus. Quando estavam parados no trânsito, causado pela manifestação, ouviu os estudantes gritarem contra Bolsonaro e fazerem o "L" com as mãos.

Ele afirmou que viu uma pedra sendo arremessada no ônibus e acertar o vidro. Na sequência, viu os manifestantes se agruparem em volta do ônibus e pedirem para ele abrir a porta. Com receio, argumentou, ele abriu. "Entraram várias pessoas, pularam a catraca e foram para o fundo. Depois não vi mais nada."

Relato de bolsonaristas

Uma das mulheres identificadas pela polícia, Amanda Fernandes Costa, 28, disse em depoimento que estava se manifestando "quietinha" com a sua bandeira quando viu o ônibus passar e pessoas dentro do ônibus começaram a jogar pedras, fazer o "L" e gritar ofensas contra Bolsonaro. "Em nenhum momento eu reagi", argumentou.

Outro manifestante identificado foi o empresário Herbelin Costa, 44. Ele informou que estava na manifestação e que um ônibus passou pelo local e o "pessoal que estava dentro começou a arremessar diversas coisas de dentro para fora, fazendo gestos incompatíveis e gritando palavras de baixo calão a nós e ao Bolsonaro". O homem disse no depoimento que decidiu depor porque achou "injusto" o que foi publicado na imprensa.

O vendedor Eneas Oliciano de Santana, 46, foi outro manifestante identificado. Assim como os demais, ele afirmou que os estudantes jogaram coisas de dentro para fora do ônibus e xingavam os manifestantes de "vagabundos". "Foi quando quebrou o vidro do ônibus", afirmou.

Ele reconheceu que chegou a perguntar se os estudantes não tinham boletos para pagar, como o UOL Notícias havia noticiado. "Não houve nenhuma agressão por minha parte".

A reportagem não localizou os apoiadores de Bolsonaro citados no registro da ocorrência.

Suspeitos foram indiciados. A Polícia Civil de São Paulo afirmou que identificou e indiciou dois homens filmados agredindo os estudantes. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que o caso é investigado pelo delegado Carlos Eduardo Barbosa Soares, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Jundiaí.

"A equipe da unidade identificou as quatro pessoas envolvidas na agressão, sendo que três delas foram levadas para a delegacia e prestaram esclarecimentos. Após as medidas, os homens foram indiciados por arremesso de projétil, lesão corporal, associação criminosa, dano qualificado, violência política e constrangimento ilegal. O quarto suspeito será ouvido posteriormente. As investigações prosseguem", afirmou a pasta.

MP acompanha o caso. O promotor João Alfredo Ribeiro Gomes de Deus, da Comarca de Jundiaí, do Ministério Público de São Paulo, acompanha a investigação.

Relembre o caso. Vídeos obtidos pelo UOL Notícias mostraram grupos bolsonaristas invadindo um ônibus com estudantes secundaristas e agredindo alguns deles.

Em um dos vídeos, é possível ver homens indo em direção ao ônibus lotado com estudantes, que gritavam em desespero enquanto os manifestantes pediam para o motorista abrir a porta.

Na sequência, um homem, com óculos e blusa azul escura, é filmado ao lado de um homem com a bandeira do Brasil no pescoço ao lado de um estudante que limpa o rosto machucado.

Os homens, então, discutem com os estudantes. "Estamos lutando por vocês, seus otários", diz o homem. "Vai trabalhar, vai pagar um boleto", diz o homem com a bandeira do Brasil aos estudantes, que proferiu mais ofensas na sequência.

Por que rodovias estavam sendo bloqueadas? Desde domingo, bolsonaristas contrários ao resultado das eleições bloqueiam rodovias federais pelo país ou parcialmente interditadas no Brasil. De acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), o Brasil não registrou nenhum bloqueio em rodovias federais hoje (4), mas havia 11 interdições até as 15h.