Lula adapta 'dois Brasis' na COP27, retoma laços, mas jatinho ofusca viagem
Em sua primeira viagem ao exterior após a vitória nas urnas, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começou a reposicionar o Brasil no cenário internacional ao participar da COP27, a 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas, no Egito.
A participação de Lula pelo evento começou controversa porque ele chegou na segunda-feira (14) a bordo do jatinho particular de um empresário. Hoje, no entanto, o petista se destacou por prometer mudanças na postura do país, em especial na área ambiental, e teve encontros reservados com representantes de Estados Unidos e China, as maiores economias do planeta.
Como foi a participação de Lula na COP27? O presidente eleito chegou ao Egito sob a expectativa de apresentar na COP27 uma mudança nos rumos do país em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O governo bolsonarista foi marcado por pronunciamentos que minimizavam problemas como o desmatamento na Amazônia e a responsabilidade do Brasil nas mudanças climáticas.
Em seu discurso, que durou cerca de 30 minutos (leia a íntegra), Lula criticou a gestão de Bolsonaro, mas também mandou recados:
- conclamou os países ricos a investirem no combate ao aquecimento global,
- declarou que os acordos internacionais pelo clima "têm que sair do papel",
- e pregou o fortalecimento de alianças globais.
Lula lembrou que fez, após a confirmação de sua vitória eleitoral em 30 de outubro, um discurso ressaltando a necessidade de unir o Brasil, "que foi dividido ao meio pela propagação em massa de fake news e discursos de ódio". Em seguida, fez um paralelo da situação brasileira com a mundial:
Naquela ocasião [o discurso após a vitória], eu disse que não existem dois Brasis. Quero dizer agora que não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres
Lula, em discurso na COP27
Retomada de laços. A passagem de Lula também foi marcada pela retomada de laços com as maiores potências econômicas do planeta. Pouco antes de discursar na COP, o petista anunciou que se reuniu com John Kerry e Xie Zhenhua, enviados especiais do clima de Estados Unidos e China.
A relação com ambos os países vinha estremecida. Bolsonaro e seus aliados fizeram ataques ao país asiático, em especial devido à pandemia, o que provocou atritos com os diplomatas chineses. Quanto aos EUA, a proximidade que havia na gestão do ex-presidente Donald Trump se desfez com a eleição de Joe Biden.
Não foram divulgados detalhes do teor do encontro de Lula com os representantes chinês e norte-americano, mas já havia sinalizações de que a conversa giraria em torno, entre outros pontos, do combate ao desmatamento.
No último dia 10, antes da chegada de Lula à COP, Kerry conversou com a ex-ministra do Meio Ambiente e deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), cotada para retornar ao cargo. Na conversa, Marina sugeriu ao americano que o país faça doações ao Fundo Amazônia, hoje financiado por Alemanha e Noruega.
Além destas conversas, Lula também falou por telefone com o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, se reuniu com Marina e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), com quem discutiu a possibilidade de deixar o Bolsa Família fora do teto de gastos pelos próximos 4 anos.
Polêmica do jatinho. Assim que chegou ao Egito, Lula ficou marcado por ter viajado de carona em um avião do empresário José Seripieri Junior, fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde. A aeronave do modelo Gulfstream tem capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao país africano.
A viagem provocou reações negativas e até um pedido de investigação, feito à PGR (Procuradoria-geral da República), por parte do deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS), da ala bolsonarista do partido.
Em sua representação à PGR, Sanderson lembrou que Seripiri Júnior fechou, em 2020, um acordo de delação premiada "com multa de R$ 200 milhões", no qual confessou ter feito doações eleitorais via caixa dois em um caso envolvendo o senador José Serra (PSDB-SP).
Lula não prestou diretamente esclarecimentos sobre a viagem, mas o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), falou sobre o assunto ao ser questionado. "A informação que eu tenho é que [o avião] não é emprestado. O proprietário está indo junto", disse. "Não tem empréstimo. E estão indo mais pessoas: ex-governador, lideranças políticas e ambientais", disse.
Amanhã, Lula encerra sua viagem ao Egito participando Fórum Internacional dos Povos Indígenas, além de se encontrar com representantes da sociedade civil brasileira.
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