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Lula volta à normalidade do discurso de estadista e problema com amigo
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Lula nem tomou posse ainda, mas já trouxe a normalidade de volta. Aproveitou com maestria cada segundo de sua presença na COP, fazendo um discurso que reposiciona o Brasil no mundo e também manda recados internos.
A parte em que coloca a Amazônia de volta no jogo internacional como algo brasileiro foi um golaço. É uma marca importante para o país e vai além da questão ambiental em si. Sustentabilidade é algo que hoje pesa para decisões de negócios nos mais diversos setores.
As manchetes internacionais de diversos veículos importantes tinham a foto de Lula e a proposta de levar o próximo encontro da Cúpula para a Amazônia. Consiga ou não o feito, a ideia já mostra um Brasil que terá uma política de relações exteriores muito diferente da atual, que isolou o país no cercadinho ideológico.
Já a parte de falar das questões internas brasileiras num encontro internacional foi recado só para brasileiro, uma escorregadela no estilo Bolsonaro mas com mais classe. Colocou-se como fiador da democracia e falou da própria vitória como se não fosse apertadíssima, feita por uma frente ampla e decorrente muito mais do antibolsonarismo do que das saudades do PT.
Não serve para absolutamente nada no encontro. Ali todo mundo sabe que lavação de roupa suja em público é só política interna de cada país. Mas é um trecho do discurso que com certeza servirá para energizar a militância lulista, que também está voltando ao normal.
Também voltou à normalidade o calcanhar-de-Aquiles de Lula, a eterna confusão entre o público e o privado. Desde 1992, quando ainda não era elite, Lula se enrola com empréstimos generosos de amigos.
Muitos dos casos podem não ter nada demais e o primeiro não tinha mesmo. A filha dele, Lurian, passou meses no apartamento parisiense de Angela Gutierrez e Luiz Favre após ter ficado exposta uma campanha canalha de Fernando Collor.
Lula se apresentava como sindicalista e se dizia socialista. Aliás, fazia discurso até de sommelier de socialismo. Dizia que não queria um socialismo imposto por elites, mas aquele conquistado pela classe trabalhadora brasileira.
Fizeram da viagem um escândalo porque, ao mesmo tempo em que fazia esse discurso, aceitava favores da herdeira da Andrade Gutierrez. Aliás, hoje é também conhecida como mãe da famosa cineasta Petra Costa.
Tempos depois, já presidente, foi a mesma relação com empreiteiros que trouxe os maiores problemas da carreira de Lula. Ainda que seja possível apontar todos os excessos da Lava Jato e alegar a anulação dos processos, a questão não sumiu.
É difícil um ex-presidente da República explicar por que usava sítio de amigo vinculado a empresas poderosas com interesses no governo brasileiro. Lula está há anos tentando explicar isso sem muito sucesso.
Na primeira oportunidade, o presidente eleito dobrou a aposta. Convidado antes mesmo da posse para um evento internacional importantíssimo, não só enfiou um empresário amigo na comitiva como também foi no jatinho dele. É alguém que teve problemas com corrupção e atua no setor da saúde privada, que tem muitos interesses em regulamentação.
Normalidade também, a imprensa noticiou. Daí veio a normalidade das paquitas de político chamando a imprensa de Fake News e inventando que o jatinho foi alugado.
Não adiantou muito. Entrou em cena um pessoal que ressuscitou recentemente, aquele que patrulha jornalista nas redes sociais xingando de PIG, Partido da Imprensa Golpista. Também saíram do armário aqueles que defendem uma imprensa que seja apenas assessoria de imprensa e omita as escolhas feitas pelo presidente eleito. A normalidade pouco a pouco está de volta.
Lula vai descontar todos os cheques em branco que foram dados a ele. A elite e a frente ampla projetaram no Lula candidato todos os seus próprios anseios sem arrancar dele um único compromisso. O presidente eleito é Lula. Ele terá a cadeira e a caneta para fazer tudo do jeito que bem entender.
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