Não ajuda, mas não atrapalha: Aliados de Lula comemoram sumiço de Bolsonaro
A equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não está reclamando do sumiço do presidente Jair Bolsonaro (PL). Com expectativa anterior de que o atual chefe de Estado poderia dificultar o processo de passagem de bastão, a avaliação atual do entorno do petista é que, se ele não está ajudando, também não atrapalha.
Desde que foi derrotado, no final de outubro, Bolsonaro quase não teve compromissos públicos —reconhecendo a derrota só 45 horas depois de anunciado o resultado— e focou em agenda restrita no Planalto. O presidente trata uma ferida na perna e, segundo aliados, está abatido, mas deverá retomar os compromissos em breve.
Enquanto isso, Lula representou o Brasil na COP27 (27ª Conferência do Clima das Nações Unidas), no Egito, e fez sua primeira visita a Portugal, onde se encontrou com o presidente e o primeiro-ministro do país, na última semana, enquanto o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), comanda a transição.
Não ajuda... Desde a derrota, Bolsonaro só fez um pronunciamento, dois dias depois de anunciado o resultado. Sem fazer lives, mal se pronunciar nas redes sociais ou aparecer a apoiadores e à imprensa no chamado "cercadinho", como fez durante todo o mandato, ele se mantém recluso entre a Alvorada e o Planalto.
Na primeira semana do governo de transição, no início do mês, chegou a se encontrar com Alckmin para uma conversa rápida, mas não apareceu em público. Segundo membros da equipe de transição, nada se ouve sobre ele no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), onde o grupo designado por Lula está instalado. O presidente também não foi à COP27 ou ao G20.
Em entrevista nesta semana, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) admitiu rumores de que o presidente está com "feridas na perna", o que o dificultaria de usar calças. Fontes especulam que seja erisipela, uma doença infecciosa na pele considerada mais comum em pessoas com problemas de circulação ou diabetes.
Aliados, no entanto, admitiram à colunista do UOL Carla Araújo que Bolsonaro também está "abatido" e "assimilando a derrota", pois se sente "injustiçado" com a derrota nas urnas. Apoiadores esperam que ele volte em breve.
...também não atrapalha. Os petistas e membros da equipe de transição não têm pressa. Para quem está conduzindo a passagem de bastão entre os dois governos, o silêncio do presidente tem sido visto com bons olhos.
No PT, esperava-se durante toda a campanha que Bolsonaro fizesse um estardalhaço caso perdesse a eleição. A expectativa era que, embora ele não fosse tentar dar um golpe, poderia dificultar ao máximo tanto o cotidiano desses dois meses de mudança quanto insuflasse apoiadores por meio de lives, declarações na imprensa e postagens nas redes sociais, o que não tem ocorrido.
Membros da campanha já não esperavam ajuda e temiam até sabotagem por parte do atual governo, com dificuldade de acesso a informações, dados e até a espaços físicos —tudo isso puxado pela má vontade do atual mandatário.
Até então, tem ocorrido o oposto, narram membros da transição. Com o presidente sumido, o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PL), responsável pelo processo do lado do governo, tem colaborado com a equipe eleita e seguido o que estabelece a lei.
Por isso, dizem os petistas, se o presidente não participa pessoalmente da mudança —como fez, por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 2002, antes de passar a faixa para Lula— sua reclusão também não traz nenhum estímulo contrário.
Não leve flores. Se está dando tudo certo, membros do grupo responsável lembram que ainda faltam cerca de 40 dias até a posse e ainda há muitas etapas a serem cumpridas.
Até o dia 30, o grupo de transição deverá elaborar um diagnóstico sobre a situação atual. Um documento sintético de caráter preliminar, com dados como:
- alertas especialmente identificados pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e outros órgãos de controle;
- avaliação preliminar das estruturas da administração direta e indireta;
- recomendações para eventuais revogações de atos normativos e
- principais emergências orçamentárias.
O relatório final será entregue até 11 de dezembro, com avaliação tanto dos programas e ações que foram implementados nos últimos anos e quanto dos que foram descontinuados.
Esses documentos precisam ser elaborados em conjunto. Sem acesso amplo aos dados, o governo de transição, naturalmente, não consegue chegar nem ao diagnóstico preliminar.
Os petistas esperam que os ritos sigam sendo respeitados e tudo ocorra com a normalidade estabelecida até então, mas os avisos públicos de aliados do presidente, que esperam que ele seja líder da oposição, acendem um alerta sobre o grupo, que também não duvidam de uma mudança de curso.
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