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MP pede que STF endureça medidas para coibir atos golpistas em Mato Grosso

Manifestantes protestando contra o resultado das eleições presidenciais em Sorriso (MT) - Lucas Torres/SóNoticias
Manifestantes protestando contra o resultado das eleições presidenciais em Sorriso (MT) Imagem: Lucas Torres/SóNoticias

Do UOL, em São Paulo

01/12/2022 16h47Atualizada em 01/12/2022 16h47

O MP-MT (Ministério Público de Mato Grosso) apontou, em documento enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), um possível agravamento dos atos golpistas no estado caso não sejam adotadas medidas para coibir essas ações.

Segundo o documento encaminhado nesta terça-feira (29), e obtido pelo UOL Notícias, a entidade aponta que as manifestações se intensificaram depois do bloqueio das contas bancárias de suspeitos de financiar as paralisações, determinado pelo ministro Alexandre de Moraes. O dossiê também aponta que, nos últimos dias, houve uma "movimentação" indicando fechamentos de estradas caso não haja endurecimento nas medidas pelo Justiça.

Para o MP, embora a situação pareça controlada, atos antidemocráticos podem acontecer nos próximos dias, "gerando situação de insegurança em face das ameaças ao livre exercício do direito de ir e vir". Por isso, cita o órgão, é necessário que "novas medidas" sejam tomadas, já que as multas determinadas por Moraes "não têm surtido efeito" para impedir as manifestações.

Segundo o dossiê, o estado de Mato Grosso tem "os maiores e mais insistentes movimentos antidemocráticos". Já ocorreram ao menos 84 pontos de bloqueios ou interdições nas estradas estaduais e federais. As manifestações se espalharam pelo país por grupos que defendem um golpe após a vitória no segundo turno das eleições do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).

O MP também direcionou medidas para as forças de segurança:

  • para a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal e Secretaria de Segurança Pública, o MP solicita o detalhamento das placas, tipos de veículos, proprietários com qualificação etc. de todos os veículos que participarem de atos antidemocráticos;
  • para a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal e para a Secretaria de Segurança Pública, o MP pede a apreensão de todos os bens móveis que estiverem em poder dos manifestantes;
  • para a Secretaria de Segurança Pública e para a Superintendência da Polícia Federal, a solicitação é de investigar e identificar todos que estão financiando e organizando os atos;
  • para a Secretaria de Segurança Pública, a Superintendência da Polícia Federal e a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal, o MP pede que haja a investigação de todos os nomes e CPFs de pessoas que participarem dos atos antidemocráticos.

O que diz o documento? O documento do MP aponta que 177 caminhões saíram da região norte do estado e que muitos pertencem aos mesmos proprietários, pessoas físicas e jurídicas, conforme foi levantado pelo serviço de inteligência da Polícia Rodoviária Federal.

Argino Bedin, de camisa amarela, com o presidente Jair Bolsonaro, durante visita a Sorriso (MT) - Alan Santos/PR/18.set.2020 - Alan Santos/PR/18.set.2020
Argino Bedin, de camisa amarela, com o presidente Jair Bolsonaro, durante visita a Sorriso (MT)
Imagem: Alan Santos/PR/18.set.2020

Sete desses veículos pertencem à família Bedin, ligada ao agronegócio, responsável por doar quase R$ 200 mil para a campanha de Bolsonaro durante o período eleitoral deste ano. Argino Bedin, que teve a sua conta bloqueada por suspeita de financiar os atos golpistas, aparece em uma foto com o presidente em uma visita do chefe do Executivo à cidade de Sorriso (MT) de setembro de 2020.

Em entrevista ao site "O Joio e o Trigo", ele abriu voto a Bolsonaro e disse ter se mudado para a região em 1979 "durante o processo de colonização da região, impulsionado pela ditadura civil", segundo o texto. Na entrevista, ele defendeu a ditadura militar ao dizer que o período "trazia segurança para toda a população" e "só não era bom para quem não queria trabalhar."

O regime deixou 434 mortos ou desaparecidos em 21 anos, de acordo com levantamento da CNV (Comissão Nacional da Verdade). Além disso, a ONG Human Rights Watch calcula que 20 mil pessoas tenham sido torturadas durante o período.

O UOL Notícias enviou mensagem ao perfil de uma rede social de Argino Bedin e de uma parente para que a família se posicionasse sobre o caso, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Se houver resposta, ela será incluída no texto.

Atos de violências foram citados no documento, como o ataque à concessionária que administra a rodovia BR-163 —quando um grupo de homens armados atacam o local com tiros e bombas de coquetéis molotov.

Também foram destacadas as dificuldades de as pessoas chegarem aos seus destinos, principalmente consultas médicas, e a dificuldade de estudantes chegarem aos locais das provas durante o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O MP afirma que a "ação dos manifestantes tem colocado em risco a vida das pessoas".

Quem são os financiadores. Levantamento feito pelo UOL Notícias constatou que 24 dos 43 bloqueados são de Sorriso, cidade com 92 mil habitantes no interior de Mato Grosso dominada pelo agronegócio.

Entre eles, está Atilio Elias Rovaris, empresário do agronegócio e piloto amador de rally responsável por uma doação de R$ 500 mil para a campanha de Bolsonaro. Ele foi procurado, mas não quis se manifestar.

Somados, os suspeitos de financiar os atos golpistas foram responsáveis também pelo pagamento de R$ 1,3 milhão destinado à disputa eleitoral.