'Não é pra usar nome dele': golpistas brigam entre si e recusam 'fora Lula'
Quem ainda resiste em atos golpistas no quartel rejeita placas de "fora Lula" e qualquer menção ao atual presidente. Em frente ao Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, há brigas entre os manifestantes — agora menos numerosos — e caça aos infiltrados.
"Não é pra pedir a saída de ninguém, é pra pedir a intervenção das Forças Armadas", disse um dos manifestantes, vestido com trajes militares, a uma senhora que tentava exibir um banner contra Lula em frente ao órgão do Exército.
"Não é pra usar o nome dele [de Lula], não adianta tirar o Lula e o Alckmin assumir", completou.
A mulher dizia mentiras, como a de que o petista teria publicado um decreto ordenando a prisão de todo mundo que falar mal dele. Ontem pela manhã, resolveu deixar a manifestação após as críticas, mas disse que pretendia imprimir outros cartazes.
"Se não posso estender [o banner 'fora Lula'] aqui, vou estender em outros lugares."
A região do Comando Militar do Sudeste, perto da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e do Parque do Ibirapuera, na zona sul, concentrou os atos antidemocráticos na cidade.
Milhares de manifestantes se reuniram ali após o segundo turno das eleições que deram vitória a Lula. Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, eles pedem intervenção militar e socorro das Forças Armadas.
Baixo quórum
Na manhã de ontem, porém, dias após a posse de Lula em Brasília e a viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, o movimento era baixo em frente ao quartel, em comparação ao observado em novembro pela reportagem do UOL.
Por volta das 10 horas da manhã, muitos ainda estavam dentro de barracas. Outras estruturas pareciam abandonadas. E os carros, impedidos de passar meses atrás, já conseguiam atravessar a avenida Sargento Mario Kozel Filho normalmente.
Apenas às 11 horas os gritos de guerra começaram no acampamento — eram alternados com orações, religiosamente de hora em hora, e com os hinos Nacional e da Bandeira.
A canção dos Expedicionários também faz parte do rito. Pode-se dizer o mesmo da canção do Exército Brasileiro: todos sabem as letras de cor.
'Tá filmando por quê?'
O clima entre os manifestantes, no entanto, era hostil ontem — havia discussões e embates entre eles. Um dos manifestantes, por exemplo, acusava duas pessoas de estarem "de penetra" no ato.
"Tá me filmando por quê? A gente autorizou?", indagou ele, ao ver que um homem tirava foto das barracas que ainda estão montadas. Em seguida, gritou para uma mulher que "sabia que ela era infiltrada".
Os dois supostos penetras foram vistos depois, engrossando o coro que pede ajuda às Forças Armadas para salvar o Brasil.
Outra senhora gritava, de forma aleatória, frases a favor de uma intervenção militar no Brasil. Segundo os manifestantes, ela já é conhecida no acampamento por ser "do contra" e querer puxar gritos próprios, em vez de seguir o que é dito no megafone.
Tomada em Brasília
Os manifestantes golpistas em São Paulo justificam o baixo quórum no acampamento com o argumento de que boa parte dos manifestantes foi para Brasília para organizar uma "grande tomada do Supremo Tribunal Federal".
É questão de tempo para que eles peçam para sair. Dentro das quatro linhas, é difícil chegar em um resultado positivo
Manifestante em ato golpista
Em Brasília, porém, a posse de Lula esvaziou o ato golpista no QG do Exército, e barracas foram desmontadas.
'Fox, venha logo ao Brasil'
Outro manifestante fazia o que parecia ser uma live em suas redes sociais na manhã de ontem. Ele também mencionava a ida de golpistas a Brasília e criticava a imprensa nacional.
Uma das placas estendida no acampamento pedia ajuda da emissora norte-americana Fox News, a única na qual eles dizem poder confiar — o veículo é o preferido da extrema-direita nos Estados Unidos.
Falas contra as urnas eletrônicas são raras — a única ouvida em frente ao quartel ontem era um pedido pelo "código-fonte" dos equipamentos, inspecionados pelas Forças Armadas. Alguns, no entanto, confundiam o termo e pediam o "código forte".
Um homem aproveitou o intervalo entre os gritos de guerra no megafone e ordenou: "nós somos donos do Brasil e exigimos intervenção. Queremos intervenção militar para limpar toda essa desgraça".
Uma mulher, envolta em uma toalha estampada com o rosto de Bolsonaro, completou:
Eu vim aqui e não foi à toa, tomei chuva e tomei garoa. Perdi meu celular aqui por causa da chuva. Meu filho ficou entubado e eu fiquei aqui
Outros manifestantes tentavam acalmá-la. O nome de Bolsonaro não foi citado — nem sua viagem aos Estados Unidos.
Dino promete fim dos atos
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou na quarta-feira que a questão dos acampamentos de apoiadores de Bolsonaro deve ser resolvida até o fim desta semana. Ele disse não esperar resistência dos acampados — e que a situação será resolvida mesmo se houver.
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