Topo

Em SP, Tarcísio se equilibra entre bolsonarismo e relação amistosa com Lula

Do UOL, em São Paulo

27/01/2023 04h00

Eleito governador de São Paulo tendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como padrinho político, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem se equilibrado para conciliar uma relação amistosa com o governo Lula sem perder a conexão com o eleitorado bolsonarista, que o ajudou a se eleger.

Há menos de um mês à frente do Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro de Bolsonaro:

  • teve três reuniões com o presidente Lula;
  • se descolou do radicalismo e condenou os atos golpistas de 8 de janeiro;
  • fez acenos à base bolsonarista, principalmente por meio da nomeação de aliados do ex-presidente.

Contatos 'excelentes' com equipe de Lula

Apesar de ligado a Bolsonaro, Tarcísio deixou claro ao longo da campanha que teria uma relação republicana com Lula caso os dois fossem eleitos e se mostrou aberto ao diálogo com o governo federal, logo após o resultado do segundo turno.

Entendo e acredito num diálogo republicano, franco. Os contatos que tive com a equipe do novo presidente até aqui foram excepcionais, excelentes. Acredito que todo mundo comunga da mesma percepção, que São Paulo é importante para o Brasil, tenho certeza de que o novo presidente quer que o Brasil vá bem e para isso é fundamental que São Paulo vá bem também Tarcísio de Freitas, em 1º de janeiro, ao tomar posse

Lula e Tarcísio se reúnem em Brasília - 11.jan.2023 - Ricardo Stuckert/Divulgação - 11.jan.2023 - Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula e Tarcísio já se reuniram três vezes
Imagem: 11.jan.2023 - Ricardo Stuckert/Divulgação

Em 27 dias, foram três reuniões com o presidente:

  • a primeira no dia 9, com outros governadores, após os atos terroristas. Inicialmente, Tarcísio disse que não iria, mas diante da repercussão negativa e aconselhado por aliados, mudou de ideia;
  • a segunda no dia 11, para tratar sobre a privatização do Porto de Santos. Lula postou uma foto dos dois se cumprimentando nas redes sociais, mas Tarcísio, não;
  • a terceira está marcada para hoje com governadores dos 26 estados e do Distrito Federal. Ele pedirá recursos para financiamento da saúde e mobilidade urbana.

Os episódios de invasão e vandalismo promovidos por bolsonaristas foram vistos por aliados de Tarcísio como o primeiro teste político dele.

Depois de algumas horas em silêncio, o governador publicou uma mensagem nas redes sociais dizendo que a violência tirava a legitimidade dos atos e que não admitiria situação semelhante em São Paulo.

Para que o Brasil possa caminhar, o debate deve ser o de ideias e a oposição deve ser responsável, apontando direções. Manifestações perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência, depredação ou cerceamento de direitos. Não admitiremos isso em SP! Tarcísio de Freitas, em 8 de janeiro, após atos golpistas

No dia seguinte, diante da determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes para desmobilizar acampamentos golpistas em todo o país, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, deu cumprimento à ação, com "diálogo" e sem uso de força. Os golpistas que acampavam em frente ao Comando Militar do Sudeste, na zona sul da capital, desmontaram suas barracas.

Acenos a bolsonaristas com nomeações

Tarcisio deu espaço a pessoas ligadas à família Bolsonaro e a ex-integrantes do governo federal em sua gestão. Alvo de críticas após ter declarado que nunca foi um "bolsonarista raiz", ele afirma com frequência ter gratidão ao ex-presidente.

Entre seus secretários, há apenas dois considerados bolsonaristas raiz — Derrite e Sonaira Fernandes (Mulheres). Conforme mostrou reportagem do UOL TAB, ela participou de um ato antiaborto em março do ano passado.

Já para cargos no segundo escalão, Tarcísio abriu mais espaço para aliados do ex-presidente, como:

Policiais militares, uma das principais bases do bolsonarismo, também ganharam espaço no governo. A coronel Helena Reis — sem nenhuma trajetória prévia na área esportiva — assumiu a secretaria de Esportes e, conforme mostrou a coluna do UOL Olhar Olímpico, alguns dos principais postos da pasta estão sendo ocupados por policiais militares, especialmente da reserva.

O governo tem afirmado que todas as nomeações seguem critérios técnicos e que os indicados são qualificados para os cargos que ocupam.