Veja contradições de Do Val sobre suposto plano golpista com Bolsonaro
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) acumula contradições em seus relatos sobre um suposto plano golpista que envolveria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).
Desde que afirmou ter sido coagido a tentar incriminar Alexandre de Moraes, o parlamentar mudou sua versão sobre os seguintes pontos:
- O papel de Bolsonaro na trama
- As conversas com o ministro do STF
- As atitudes que tomou no caso
- O local do encontro que teve com Bolsonaro e Silveira.
Do Val baixou o tom das acusações contra Bolsonaro. Durante uma transmissão ao vivo no instagram na madrugada de ontem, com líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), o senador capixaba anunciou ter uma "bomba" que seria revelada pela revista Veja no dia seguinte.
"Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa do Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele. E é lógico que eu denunciei", disse o parlamentar, sem especificar como fez a denúncia.
Em declarações dadas hoje, todavia, Do Val negou ter sido coagido por Bolsonaro. Em entrevista à GloboNews, ele disse que usou "uma palavra que não deveria ter usado" ao fazer essa afirmação durante a live com o MBL.
Aval de Moraes
À revista Veja, o senador do Podemos mencionou que mandou mensagem a Moraes em 12 de dezembro, três dias após o encontro com Bolsonaro e Silveira, e só reuniu-se pessoalmente com o ministro do STF no dia 14, para narrar como havia sido a reunião.
Hoje, contudo, Do Val afirmou que se reuniu com Moraes antes da conversa com Bolsonaro. Em entrevista coletiva, o senador disse que foi abordado por Silveira no dia 7 e convidado a encontrar Bolsonaro, mas só aceitou após o aval de Moraes.
Encontrei com ele [Moraes] no salão branco [do STF] e disse que tinha sido abordado pelo Daniel Silveira para fazer essa reunião com o presidente. Não tinha ideia do que poderia ser, e perguntei ao ministro o que ele achava, se eu deveria ir ou não. E aí o ministro disse: vai porque é bom saber. Quanto mais informação, melhor"
Marcos do Val, em entrevista coletiva na quinta (2)
Local da reunião com Bolsonaro
Inicialmente, Do Val disse que o encontro com o então presidente foi no Palácio da Alvorada, residência oficial.
Ao longo do dia, porém, ele afirmou que a reunião com Bolsonaro e Silveira foi na Granja do Torto, a segunda residência oficial da Presidência.
Já em entrevista à Folha de S. Paulo, ele afirmou que estava em dúvida e que o encontro poderia ter ocorrido no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência.
Veja a linha do tempo do suposto plano golpista:
- 7 de dezembro - Marcos Do Val teria sido convidado por Daniel Silveira para uma reunião com Bolsonaro, sem saber o assunto, e teria ligado para Alexandre de Moraes no mesmo dia para alertá-lo.
- 8 de dezembro - Em reunião pessoal com Do Val, Moraes teria dado aval para que ele fosse ao encontro com Bolsonaro e coletasse informações, segundo o senador.
- 9 de dezembro - Em reunião com Bolsonaro e Silveira, Do Val teria recebido a proposta de gravar uma conversa com Moraes e tentar extrair uma fala que incriminasse o ministro e anulasse as eleições.
- 12 de dezembro - Do Val enviou mensagem a Moraes, afirmando que Bolsonaro e Silveira pediram ao senador "uma ação esdrúxula, imoral e até criminal".
- 14 de dezembro - Moraes teria recebido Do Val no STF e ouvido o relato sobre o suposto plano golpista. À noite, Do Val respondeu mensagens que Silveira vinha enviando e afirmou que não participaria do esquema.
Mensagens indicam papel de Bolsonaro
A revista Veja revelou mensagens que Do Val teria trocado com Silveira e com Moraes. Em um dos textos enviados ao ministro do Supremo no dia 12 de dezembro — após a reunião com Bolsonaro —, ele reforçou a alegação de que o presidente participou ativamente do esquema.
Precisava falar como foi o encontro com o PR [Presidente da República] e o DS [Daniel Silveira]. Me pediram uma ação esdrúxula, imoral e até criminal"
Mensagem de Marcos do Val a Alexandre de Moraes, revelada pela revista Veja
A atuação de Bolsonaro seria reforçada por mensagens que Silveira teria enviado a Do Val. O ex-deputado fluminense, que organizou a reunião entre os três, afirmou mais uma vez estar agindo sob o "comando" do 01, como o presidente é chamado por bolsonaristas mais próximos.
No encontro com Bolsonaro e Silveira, Do Val teria recebido o pedido de gravar uma conversa com Moraes e tentar captar, da fala do ministro do Supremo, alguma declaração comprometedora que servisse de base para prendê-lo, impedir a posse de Lula e anular as eleições.
Essa "missão", segundo uma mensagem de Silveira, ficaria restrita a cinco pessoas, inclusive Bolsonaro. No texto enviado a Do Val, o deputado afirma que os outros participantes do plano seriam "cinco estrelas", ou seja, militares.
Irmão, essa missão está restrita a Três pessoas e só irá ficar, provavelmente, com mais cinco após concluída. Cinco estrelas".
Mensagem de Daniel Silveira a Marcos do Val, revelada pela revista Veja
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