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SP: Sem Bolsonaro e Michelle, Marcha para Jesus será palanque para Tarcísio

Tarcísio, então candidato ao governo de São Paulo, ao lado de Bolsonaro na Marcha para Jesus 2022, em São Paulo - Reprodução/Redes sociais
Tarcísio, então candidato ao governo de São Paulo, ao lado de Bolsonaro na Marcha para Jesus 2022, em São Paulo Imagem: Reprodução/Redes sociais

Do UOL, em São Paulo

08/06/2023 04h00

Fora do Planalto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu não participar da Marcha para Jesus, em São Paulo, neste ano. Atual chefe do Executivo, Lula (PT) enviou uma carta recusando o "honroso convite" — em viagem à França, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) também não vai. Com as baixas, o palanque terá como principal político o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O que acontece hoje

Tarcísio deve chegar por volta das 14h30 no evento, na zona norte da cidade, e discursar como fez no ano passado, quando concorria ao cargo. A presença do governador na Marcha — que começa às 10h, partindo da estação Luz do Metrô — foi confirmada por sua assessoria, embora não conste da agenda oficial divulgada.

A participação de Tarcísio é um movimento político importante para fortalecer seus laços com o eleitorado evangélico paulistano. Católico, o governador é do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal.

Sua ida à celebração — pela segunda vez consecutiva — foi elogiada pela legenda: "Não só apoiamos a participação do governador como também parabenizamos seu gesto". Segundo o Republicanos, os "valores da família e a liberdade da crença" são algumas das bandeiras defendidas pelo partido e a Marcha para Jesus "converge" com esses princípios".

Em março, o governador sancionou uma lei que tornou o evento como patrimônio cultural imaterial do estado. Desde 2015, uma lei assinada pelo então governador Geraldo Alckmin (hoje PSB) determinou que a Marcha aconteça sempre no feriado de Corpus Christi.

Bolsonaro foi o primeiro presidente da República a participar do evento evangélico — ainda nas eleições de 2018, em 2019, quando assumiu, e em 2022, após a pandemia. Sua esposa, Michelle, que é crente, também não estará hoje na marcha — ela vai passar o feriado no interior paulista, segundo sua assessoria. Já Bolsonaro vai viajar para Maresias, no litoral norte de São Paulo.

Apesar de Lula ter assinado em 2009 a lei que criou o Dia Nacional da Marcha, ele nunca subiu no trio elétrico da igreja Renascer. Neste ano, o presidente será representado pela deputada Benedita da Silva (PT) e Jorge Messias, advogado-geral da União, ambos evangélicos.

Fundador da Renascer, o apóstolo Estevam Hernandes não respondeu diretamente sobre ausência de Bolsonaro neste ano. "Ele participou da Marcha enquanto era presidente, sempre convidamos as autoridades". Sobre Lula, o líder religioso viu a carta do presidente como um "gesto de reconhecimento da importância" do evento.

Em relação a Tarcísio, Hernandes afirmou que é um "grande aliado e um homem temente a Deus". Questionado sobre ser um nome forte para 2026, ele disse ser "muito cedo para falar disso".

O que diz quem estuda os evangélicos

A Marcha deixa de ser só uma manifestação cultural, mas passa a ser política. É uma forma de dar visibilidade e mostrar a força que os evangélicos têm, mas a esquerda sempre esteve distante disso, o que abriu espaço para grupos conservadores se aproximarem."
Guilherme Galvão, pesquisador da FGV

Ao olhar para a história da Marcha, vemos também a história dos evangélicos nas últimas décadas. Como certas lideranças foram ganhando espaço, como que a música, a mídia e a capacidade de produtos conseguem mobilizar muito mais do que fiéis de uma igreja, mas um público amplo."
Raquel Sant'Anna, antropóloga pela UFRJ

Idealizador nega objetivo político

Estevam Hernandes diz que a Marcha "nunca teve" objetivo político e, sim, a visão de "orar e abençoar as autoridades constituídas". "É um evento em que buscamos louvar o nome de Jesus Cristo, levar uma mensagem de paz e união", afirma o dono da Renascer.

No ano passado, no entanto, Bolsonaro disse que o Brasil enfrentava uma "guerra do bem contra o mal" e que seu governo havia acabado com a palavra corrupção — ignorando investigações recentes à época como do caso MEC. Ele também afirmou que "rezava" para que o Brasil não experimentasse "as dores do socialismo".

O evento está na sua 31ª edição em São Paulo e se consolidou como principal celebração entre os evangélicos no país.

A Marcha cresceu muito. Hoje temos cerca de 2 milhões de pessoas participando do evento, com um número grande de denominações e também de cristãos em geral. A Marcha se transformou no evento cristão mais importante do Brasil e até da América Latina e tem abençoado a vida de pessoas de várias gerações ao longo dos anos."
Apóstolo Estevam Hernandes