Reforma tributária escancara esvaziamento de poder de Bolsonaro na oposição
O tratamento de aliados a Jair Bolsonaro (PL) na discussão da reforma tributária escancara um esvaziamento de poder. Agora inelegível, o ex-presidente defende que o partido feche questão contra o projeto, obrigando os parlamentares da oposição a rejeitar o texto, mas tem encontrado dificuldades em fazer sua vontade prevalecer.
O que aconteceu
Bolsonaro é presidente de honra do PL e estreia na oposição declarada a um projeto do governo Lula com a tramitação da reforma tributária. Ele se tornou inelegível por oito anos na sexta passada, após decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aumentando sua dependência com o PL.
O presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto, o líder do partido na Câmara, Altineu Cortês (PL-RJ), e considerável parcela da bancada não querem orientar posição contra a reforma.
Na noite de quarta, seis deputados do PL deram votos que ajudaram no prosseguimento da reforma tributária.
Se o partido não fechar questão e liberar a bancada para votar como quiser, estima-se que até 35 deputados possam votar a favor da proposta.
Na manhã de hoje, Bolsonaro publicou um texto contrário ao texto. Ele escreveu: "A todos aqueles que se elegeram com nossas bandeiras 'Deus, pátria, família e liberdade', peço que votem contra a PEC da reforma tributária".
A votação está marcada para hoje à noite. Contrários a Bolsonaro, estariam parlamentares do Nordeste e que estavam no partido antes da filiação do ex-presidente.
Racha no partido
Estes parlamentares justificam que não se elegeram por causa das redes sociais e, sim, com verbas para saúde, educação e transporte, numa transparente rixa interna no partido de Bolsonaro.
O "PL radical" é composto por parlamentares identificados com o lema "Deus, pátria, família e liberdade" e apoia as bandeiras ideológicas do ex-presidente. Eles disputam o controle partidário com o que chamam de "PL do centrão", grupo de parlamentares mais ligado a Valdemar.
Os apelidos circulam jocosamente entre os grupos opostos e são odiados por quem os recebem.
Silêncio e afastamento de aliados
Cotado como principal nome da direita para concorrer à Presidência em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi de opositor a fiador da reforma. Ontem, ele até deu uma entrevista ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Em reunião com a bancada do Republicanos, Tarcísio defendeu a proposta e ajudou que o partido fechasse questão a favor do projeto. Ele ainda deixou o encontro falando que apresentaria a Bolsonaro os pontos positivos da reforma.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), passou quarta-feira em Brasília e enviou recados de que concorda com a proposta. Além disso, ele não participou do ato organizado pelo PL para manifestar apoio a Bolsonaro.
Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina e forte aliado do ex-presidente, não emitiu nota nem deu entrevista contra a reforma tributária. Ele manteve este posicionamento mesmo diante de cobrança de parlamentares catarinenses ligados ao bolsonarismo.
Com o apoio, mesmo que velado, à reforma dado pelos governadores, os deputados se sentem mais à vontade para votar como desejam.
Evento de exaltação a Bolsonaro é esvaziado
Além de resistência a seu posicionamento contra a reforma, Bolsonaro viu esvaziado um ato de apoio a ele marcado pelo PL.
O evento se converteu num debate sobre a reforma, em vez de uma exaltação ao ex-presidente. Menos de uma semana depois da inelegibilidade, Bolsonaro já vê seu poder político diminuído.
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