Krenak: Não é legítimo governo barganhar com invasores de terras indígenas
O líder indígena e escritor Ailton Krenak afirmou no UOL Entrevista que não é legítimo o governo fazer barganha com ruralistas que ocupam terras indígenas ao comentar a interpretação do ministro Alexandre de Moraes no julgamento do marco temporal.
Antes de André Mendonça pedir vista no caso, Moraes defendeu que essas pessoas devem ser indenizadas previamente pela União para que novas terras sejam demarcadas.
A entrevista foi conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos colunistas do UOL Leonardo Sakamoto e Carlos Madeiro.
Foi uma surpresa para mim e para muita gente que o ministro tenha acenado com essa janela de troca, de barganha, com quem ocupa terras indígenas. Mas parece que ele tem as razões dele para ter acenado com essa possibilidade. Ailton Krenak, líder indigena
Para o escritor, Moraes deveria ter dito que essa possibilidade é inconstitucional.
Se a Constituição diz não, é não. Mas se o ministro diz que pode, cria mais uma espécie de prolongamento da dúvida sobre uma coisa ilegítima, inconstitucional. O ministro devia dizer que isso é inconstitucional e pronto, mas ele acenou com essa possibilidade pela crise política que está instalada no governo, onde o próprio presidente não deve achar possível indenizar essa gente que ocupa terras indígenas, inclusive alguns deles com as mãos cheias de sangue, porque alguns deles usaram milícias e mataram indígenas.
Câmara e o Senado querem esmagar marco temporal, diz indígena
Na avaliação dele, Moraes enfrentou lobby para conseguir pautar o tema do marco temporal no STF e a impressão dele é que a Câmara e o Senado não querem discutir o assunto.
Se as pessoas se acostumarem a fazer um abuso, a ficarem devendo à União, e depois terem anistia, invadirem terra e depois terem regularização em seu favor, a privatização de áreas públicas no país vai virar uma norma.
Eu imagino o tamanho do lobby que o ministro Moraes está enfrentando para levar essa questão à frente no STF. Me dá a impressão de que a Câmara e o Senado decidiram esmagar esse assunto, e o ministro tentou salvar. É um negócio bem enrolado. Se a gente estivesse no interior do sertão, a gente diria que está mais enrolado que fumo de rolo.
Krenak diz não ter expectativa para voto de Zanin: 'Nem conheço'
Questionado sobre a expectativa que ele tem para o voto do ministro Cristiano Zanin, indicado por Lula ao STF, o líder indígena disse que nem o conhece.
Eu nem aceno a possibilidade de avaliar. Eu me lembro que se atribui a Magalhães Pinto uma história de que a política é como nuvem, que toda hora ela muda. Esse sujeito que você está se referindo eu nem conheço. Ele deve ser como nuvem, vai mudando.
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Quero receberKrenak: crise no governo pode fazer Marina Silva deixar ministério
No UOL Entrevista, também falou sobre a crise do governo a respeito da exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, que colocou em conflito os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia.
Se nós estamos cogitando furar petróleo na Amazônia e, ao mesmo tempo, incrementar as energias alternativas, nós estamos fazendo uma política esquizofrênica. Existe uma crise implantada porque não tem uma proposta de coordenar essas ações. Os ministérios não tinham que brigar entre si. Eles deveriam estar em um programa de governo. O presidente lula diz que ministros não têm que ficar dando palpite, que tem que estar dentro do plano de governo. Mas parece que o próprio presidente admitiu isso, que nós ainda estamos no teste. Tomara que o presidente consiga alguma coordenação com os seus ministérios, porque nós podemos ter uma crise em que a própria ministra Marina Silva pode sair do governo.
Para o líder indígena, explorar petróleo é 'fora de sentido'
A ideia de explorar petróleo a gente poderia considerar dinossáurica. Explorar petróleo no mundo hoje é atraso, é uma coisa totalmente fora de sentido. O mundo está abandonando essa fonte de energia carbonária. O Brasil deveria ser coerente com o proposito de proteção da Amazônia e não embarcar numa canoa furada dessa. Achar que nós vamos nos dar bem explorando petróleo na bacia amazônica é ignorar toda a fantasia que girou em torno do pré-sal, que justificou muito político e ambiental, e que, na verdade, deu com os burros na água.
Nós estamos sempre acreditando numa galinha dos ovos de ouro que vai botar o Brasil num lugar privilegiado, mas isso é uma bobagem. Nós precisamos considerar que o nosso território é a infraestrutura para gente viver. A bacia Amazônica, com essa história de energia fóssil, anda para trás.
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