General Dutra ignora faixas e nega ter visto perfil golpista de acampamento

Responsável pela administração do entorno do QG do Exército, o general Gustavo Henrique Dutra disse hoje que não sabia do perfil golpista dos manifestantes acampados em Brasília. A declaração ocorreu durante a CPI do 8 de Janeiro e ele manteve a afirmação mesmo depois da exibição de fotos de faixas pedindo intervenção militar.

O acampamento era uma manifestação pacífica, disse o general.

O que aconteceu

O general liderava as tropas em Brasília porque era Comandante Militar do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro e no dia das invasões às sedes do três Poderes. Dutra falou que a estratégia do Exército foi estrangular o acampamento dificultando a logística.

Ele afirmou que não recebeu informação sobre nenhuma atividade de caráter golpista desenvolvida pelas pessoas que estavam em frente do QG. Também informou desconhecer a presença de militares no local.

As declarações do general não se sustentaram. A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), lembrou que foi dentro do acampamento que George Washington Sousa planejou a colocação de uma bomba em um caminhão próximo ao Aeroporto de Brasília, caso que veio à tona em dezembro.

Eliziane chegou a mostrar uma foto de George Washington tirada no acampamento. O manifestante golpista ficou calado durante depoimento na CPI, mas admitiu que frequentava as barracas em frente ao QG do Exército.

Outra contradição do general ocorreu quando ele mencionou que não sabia de militares da reserva no acampamento. A relatora citou um grupo que se autointitulava "boinas vermelhas"

A presença deles consta de informes de órgãos de inteligência e do relatório feito ao fim da intervenção federal decretada depois de 8 de janeiro. Mesmo sendo número 1 do Exército no Planalto Central, o general falou que nunca recebeu informes sobre este este grupo.

Ocorre que os "boinas vermelhas" circulavam caracterizados pelo acampamento e discursavam no palco montado no acampamento.

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Eram um dos grupos que defendia com mais fervor a intervenção militar. Além disso, eles registravam suas atividades nas redes sociais. Documentos informaram que seus integrantes andavam armadas.

General afirmou que não atuou como protetor do acampamento, mas impediu operações para retirar barracas
General afirmou que não atuou como protetor do acampamento, mas impediu operações para retirar barracas Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

O general Dutra negou ter agido como um protetor do acampamento e afirmou que a estratégia do Exército foi estrangular a infraestrutura dificultando a logística. Ocorre que todos os dias os manifestantes recebiam água e alimentos sem restrição dos militares.

A relatora lembrou que o acampamento furtava energia dos postes da praça em frente ao QG e os "gatos" mantiveram o fornecimento durante toda a existência do acampamento. Por pedido do Exército, foi designado serviço de coleta de lixo e limpeza do acampamento, o que foi admitido pelo general.

PM x general

O general declarou que nunca agiu para impedir o desmonte do acampamento. Ocorre que não houve pedido de reintegração de posse por parte do Comando Militar do Planalto e as operações montadas para retirar as barracas não tinham êxito por falta de apoio do Exército.

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A relatora mencionou três operações organizadas pelo governo do Distrito do Federal que não puderam ser executadas. Por se tratar de área do Exército, era preciso anuência dos militares para haver atuação da Polícia Militar.

A senadora também exibiu vídeos de dois oficiais da PM e do secretário de Segurança Pública do Distrito Federal afirmando que o Exército impediu a retirada das barracas.

Diante desta situação, a relatora disse que diante da contradição era o caso de haver uma acareação. Mas ela ressaltou que a versão de Dutra estava em conflito com o que mencionaram três integrantes da cúpula de segurança pública do Distrito Federal.

Por último, o general declarou que não permitiu que as pessoas que depredaram as sedes dos três voltassem para o acampamento. Ocorre que foram vistas vários golpistas voltando para o local. Dutra afirmou que a área em frente ao QG é muito permeável.

Naquela noite, o Comando Militar do Planalto posicionou tanques para impedir a atuação da PM. O general afirmou que os blindados estavam desarmados e foram usados para transportar os soldados e estavam ali para as pessoas não voltarem. Ainda assim, 1.200 pessoas voltaram para o acampamento.

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Como ocorreu com outros militares, o general prestou depoimento fardado.

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