Quem é Marcelle Decothé, demitida após ofender torcida do São Paulo

Ativista de direitos humanos, a assessora da ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), Marcelle Decothé, foi alvo de protestos após ofender a "torcida branca" do São Paulo, que no domingo (24) venceu o Flamengo na final da Copa do Brasil.

O ministério anunciou a exoneração de Marcelle na tarde desta terça-feira (26).

Quem é Marcelle?

Marcelle Decothé da Silva ficou nacionalmente conhecida depois do jogo. Torcedora do Flamengo, ela postou no Instagram uma foto na arquibancada do Morumbi dizendo que os são-paulinos são uma "torcida branca que não canta, descendente de europeu safade... Pior tudo de pauliste (sic)".

Marcelle recebia R$ 17,1 mil por mês. Ela entrou no governo no dia 7 de fevereiro último, quando ganhou um cargo comissionado executivo para trabalhar 40 horas semanais como chefe da assessoria especial. Segundo o Portal da Transparência do governo federal, ela era oficialmente contratada pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

Apesar do salário bruto de R$ 17,1 mil, em junho ela embolsou R$ 30.085,26. O valor se refere aos adicionais de R$ 7,8 mil de "gratificação natalina" e R$ 9,6 mil de "outras remunerações eventuais".

O ministério da Igualdade Racial disse em nota que "a gratificação natalina em junho é comum a todos os servidores públicos federais e corresponde à primeira parcela do 13º salário". Quanto às gratificações eventuais, "elas dizem respeito ao auxílio moradia dos meses de março, abril e maio que estavam em atraso".

No dia 28 de junho, o ministério indicou seu nome para a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Desde então, ela é membro do Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol da entidade. Enquanto viajava no avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para o jogo de domingo, Marcelle também ironizou a instituição ao comentar o fato de suas colegas vestirem camisas da seleção brasileira.

30 segundos de diálogo com a CBF, já viraram patriotas. Prontas pro cancelamento.
Marcelle Decothé, no Instagram

A assessora trabalha com Anielle desde 2020. Em janeiro daquele ano, ela passou a coordenar a área de Incidência do Instituto Marielle Franco, criado em homenagem à irmã de Anielle, assassinada em 2018 com seu motorista Anderson Gomes. O instituto foi criado para "conectar mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas".

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Imagem: Reprodução/Redes sociais

Entre 2019 e 2022, Marcelle atuou como assessora parlamentar. Ela fez parte do gabinete da ex-deputada estadual Mônica Francisco (PSOL), também defensora dos direitos humanos.

Ativista na periferia. Marcelle nasceu em Parada de Lucas, comunidade na zona norte do Rio, onde chegou a dar aulas para pessoas carentes.

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Imagem: Reprodução/Redes sociais

Formação e atuação em direitos humanos. Formada em 2016 em Defesa e Gestão Estratégica Internacional pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marcelle fez mestrado e doutorado em Políticas Públicas em Direitos Humanos pela mesma universidade, segundo seu perfil em uma rede social voltada a profissões.

Fora da sala de aula, ela foi pesquisadora no Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ. Ela também pesquisou sobre Eleições e Evangélicos e prestou consultoria para o Fórum Grita Baixada.

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Ministério vê desalinhamento com propósito da pasta

Em nota divulgada no fim da tarde desta terça-feira, o Ministério da Igualdade Racial afirmou que exonerou Marcelle para "evitar que atitudes não alinhadas a esse propósito interfiram no cumprimento de nossa missão institucional".

As manifestações públicas da servidora em suas redes estão em evidente desacordo com as políticas e objetivos do MIR.
Ministério da Igualdade Racial, em nota

Hoje, Baby, presidente da torcida organizada Independente, do São Paulo, também criticou Marcelle. "Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, sua irmã, Marielle, que foi morta na mão de miliciano, defendendo negro, branco, pobre, todas as causas sociais, deve estar chorando lá em cima no céu. Eu sei que ela é do bem", disse.

Racismo no esporte

No X, antigo Twitter, a ministra classificou as críticas por ter usado avião oficial para ir a São Paulo como um episódio de desinformação e violência de gênero:

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É inacreditável que uma ministra seja questionada por ir fazer o seu trabalho de combate ao racismo e cumprir o seu dever. Vemos que as noções estão invertidas quando avançamos em um acordo histórico de enfrentamento ao racismo e somos criticados por isso.
Anielle Franco, ministra

No Morumbi, Anielle assinou um protocolo em parceria com a CBF. Em agosto, o governo lançou o primeiro relatório feito por um grupo técnico para desenhar o plano de ação do Governo Federal de combate ao racismo nas áreas de esporte e lazer.

O relatório prevê que seja feita formação com atletas, árbitros e familiares sobre o tema. Também inclui a realização de seminários e publicações de cartilhas com abordagem sobre o racismo no esporte.

O plano do governo federal prevê ainda a realização de campanhas em eventos esportivos. Na final da Copa do Brasil neste domingo, 24, por exemplo, foram exibidos dizeres como "Com racismo não tem jogo". O governo também promoveu divulgação do Disque 100, que recebe denúncias de violações de direitos humanos.

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