Coronel diz que mensagens golpistas com Cid foram 'conversas de amizade'
O coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto disse em depoimento à Polícia Federal que as mensagens trocadas entre ele e Mauro Cid sobre suposta tentativa de golpe e interceptadas pela autoridades eram "conversas de amizade".
O que aconteceu
'Alguma evolução que nos deixa otimistas?', perguntou ele a Cid. Essa é uma das mensagens interceptadas, no que seria uma referência ao plano golpista. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro responde que "até agora, nenhuma bala de prata".
Reunião com "kids pretos". Também há diálogos entre os dois tratando da convocação de uma reunião com militares formados no curso de Forças Especiais, os "kid pretos". Também combinam de apagar mensagens que pudessem incriminá-los. "P*, irmão. Apaguei essa parada. Não combinamos de apagar?"
No depoimento, Correa Neto relatou ter conversado com Cid no dia em que teve sua prisão decretada, em 8 de fevereiro. Ele teria perguntado ao ex-ajudante de ordens se ele sabia o que estava acontecendo, em referência ao seu caso. Segundo ele, Cid respondeu que não sabia e perguntou se o militar precisava de ajuda. O coronel declarou ainda não saber que não poderia conversar com Cid —uma decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes proibia os investigados de manter contato.
O militar estava nos EUA na ocasião e foi preso três dias depois, ao desembarcar no Brasil. Correa Neto teve a liberdade provisória concedida por Moraes na semana passada.
Correa Neto disse que tinha "laço de amizade" com ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele relatou aos investigadores que foi instrutor de Cid no curso de Forças Especiais e que as filhas dos dois estudaram juntas.
Indagado se caberia ao interrogado, na condição de Assistente Militar do Comando do Sul, incitar o Ajudante de Ordens do Presidente da República para que o mesmo aderisse a um ruptura democrática, com utilização das Forças Armadas, respondeu que os diálogos eram apenas conversas de amizade.
Trecho do depoimento do coronel Bernardo Romão Correa Neto à PF
Militar atuava como homem de confiança de Cid, diz PF. No despacho de Moraes que autorizou a operação, em fevereiro, a corporação diz que ele acompanhava "proximamente o desenrolar das providências que criariam ambiente favorável ao golpe de Estado e pertenceria ao Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas da suposta organização criminosa.
Coronel diz que reunião com "kids pretos" teve conversa sobre "momento pessoal de cada um e cenário político". Segundo a PF, ele teve participação ativa na organização desse encontro, ocorrido em 28 de novembro, em Brasília, que selecionou apenas militares formados no curso de Forças Especiais, "o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado". Indagado por que convidou só 'kids pretos' para a reunião, Correa Neto respondeu que "forças especiais têm tradição de se encontrar por serem da mesma força".
Ele disse acreditar que não houve consumação do golpe "porque as Forças Armadas tiveram uma postura correta". Os comandantes do Exército e da Aeronáutica disseram à PF ter deixado claro a Bolsonaro que não aceitariam qualquer ato de ruptura institucional, inclusive com ameaça de prisão. Correa Neto disse ainda que "não tinha meios, tropas ou motivação para agir de forma antidemocrática".
UOL revelou minuta do golpe em setembro. No ano passado, o UOL já havia revelado que Mauro Cid narrou à PF, no âmbito de seu acordo de colaboração, que Bolsonaro consultou os comandantes das Forças Armadas sobre um plano de golpe de Estado, após perder as eleições de 2022. Naquele conjunto de depoimentos, Cid afirmou que os comandantes da Aeronáutica e do Exército se opuseram à trama.
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