'Éramos amigos': relembre as frases do delegado preso por morte de Marielle

Ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, o delegado Rivaldo Barbosa foi preso na manhã de ontem (24) pela Polícia Federal, suspeito de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

No relatório final da investigação da PF, Rivaldo é apontado por planejar "meticulosamente" o crime e garantir que o caso não seria elucidado, após recebimento de propina. Em diversas ocasiões à frente da polícia fluminense, porém, ele se dizia amigo da vereadora e alegava que a corporação tinha condições de investigar e solucionar o crime.

Relembre declarações do delegado sobre o caso

Empossado como chefe da Polícia Civil um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson, Rivaldo afirmou, no dia seguinte ao crime: "Temos nossos protocolos estabelecidos. Quem quiser nos ajudar, receberemos ajuda de qualquer instituição, mas a Polícia Civil do Rio tem capacidade para resolver esse caso".

"Estamos diante de um caso extremamente grave que atenta contra a dignidade da pessoa humana, que atenta contra a democracia. Vamos adotar todas as formas possíveis e impossíveis para dar resposta a este caso gravíssimo. Rivaldo Barbosa em entrevista no dia 15/3/2018 ao telejornal RJTV.

Cerca de dois meses após o crime, durante uma reunião com vereadores do Rio, Rivaldo declarou: "Meu objetivo principal é solucionar o assassinato da Marielle. Nós éramos amigos de longa data, desde antes de ela ser vereadora", conforme lembrou o portal Metrópoles.

"Marielle fazia parte da Comissão de Direitos Humanos da Alerj e por isso me trazia muitos casos de denúncias que recebia, já naquela época. Sou amigo, inclusive, da família dela. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance", disse no mesmo encontro em abril de 2018.

Ainda em abril, Rivaldo disse à rádio CBN que a polícia estava "no caminho certo" e que a "complexidade" do caso estava "na forma de atuação dos assassinos", sem comentar sobre quais seriam as principais hipóteses de motivação do crime.

O que podemos dizer é que nós não vamos descansar enquanto não solucionar o caso. Existem protocolos para serem estabelecidos. O que posso garantir é que todos os protocolos estão sendo rigorosamente cumpridos. Claro que têm coisas que a gente não pode dizer e que a Polícia Civil, o Ministério Público estadual e a Justiça do Rio, numa ação integrada, sabem.

Já em novembro de 2018, o ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o "Orlando de Curicica", então preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN), suspeito de participação no crime, acusou a cúpula da Polícia Civil de acobertar assassinatos por contraventores do Rio em troca de propina.

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Em reação, Rivaldo se pronunciou por meio de nota: "O chefe de Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, repudia a tentativa de um miliciano altamente perigoso, que responde a 12 homicídios, de colocar em risco uma investigação que está sendo conduzida com dedicação e seriedade. Ao acusado foram dadas amplas oportunidades pela Polícia Civil para que pudesse colaborar com as investigações do duplo homicídio dentro do estrito cumprimento da lei", dizia um trecho.

Na mesma nota, a polícia também afirmou que "nenhum esforço" era poupado para a "elucidação do caso", e que "todas as técnicas e recursos disponíveis" eram empregados no trabalho de investigação. O posicionamento dizia ainda que o chefe da corporação garantia: "o caso Marielle e Anderson está muito próximo de sua elucidação".

"Toda a investigação é cercada de sigilo e estratégia. O que a gente tem feito hoje é uma ação estratégica ligada ao crime da morte do Anderson e da Marielle. O sigilo é importante, se eu falar alguma coisa eu estrago a estratégia. O que a gente pode dizer para a sociedade é que nós estamos trabalhando muito", declarou em dezembro de 2018.

Quem era Rivaldo

Rivaldo Barbosa foi anunciado pelo general e então interventor Braga Neto como chefe da Polícia Civil em 22 de fevereiro, durante a intervenção federal no Rio. Ele foi empossado ao cargo em 13 de março de 2018, um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson.

Suspeito de receber propina para obstruir investigações. Em relatório enviado ao Ministério Público em 2019, a Polícia Federal já havia apontado Rivaldo como suspeito de receber R$ 400 mil para evitar o avanço das investigações sobre a autoria do crime. Na ocasião, ele negou as acusações.

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Em seu relatório final, divulgado ontem, a PF aponta que os irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa foram os autores do crime que matou Marielle e Anderson em 14 de março de 2018 na região central do Rio. Para os investigadores, os irmãos foram os mandantes, enquanto o policial participou do planejamento do assassinato, além de interferir nas investigações.

"Apesar de não ter idealizado [o crime], ele foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato", diz o documento da PF sobre Rivaldo. O deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil), o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão e o delegado foram presos após decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Segundo a PF, o delegado teria feito uma exigência aos supostos mandantes para assegurar a impunidade do crime: que a execução não fosse na Câmara dos Vereadores do Rio. O relatório explica que Ronnie Lessa admitiu ter sugerido monitorar Marielle na saída da Câmara, mas essa alternativa foi descartada por Rivaldo para evitar que a investigação caísse nas mãos da Polícia Federal, por ser crime político.

Foi Rivaldo também quem garantiu a impunidade do crime, segundo Ronnie Lessa, que executou os tiros contra a vereadora e o motorista Anderson Gomes. As declarações de Lessa foram feitas em delação premiada à PF — na ocasião, ele também citou Chiquinho Brazão como mentor do caso.

Segundo Marinete da Silva, mãe de Marielle, a vereadora confiava em Rivaldo e já tinha ajudado o delegado a acessar a Maré em algumas ocasiões. "Ele nos falou que era uma questão de honra para ele elucidar esse caso", contou no domingo (24), em entrevista à GloboNews.

Denunciado por corrupção. Ainda em 2019, Rivaldo Barbosa e Carlos Leba, que também foi chefe da Polícia Civil, foram denunciados por suspeita de contratar serviços de informática de forma indevida, custando mais de R$ 19 milhões aos cofres do estado em um ano. A denúncia foi rejeitada pela Justiça.

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Qualificação. Rivaldo concluiu o curso de direito em 1998, segundo divulgado por ele nas redes sociais. Além de trabalhar na Polícia Civil do Rio de Janeiro, ele se apresentava como professor de direito em curso de uma universidade particular.

"Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson e me dirigia ao local do crime. Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte junto comigo. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro". Marcelo Freixo, presidente da Embratur, em publicação nas redes sociais.

*Com reportagens publicadas em 15/03/18 e 24/03/24.

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