Desfecho traz misto de revolta e alívio, diz chefe de gabinete de Marielle

Ex-chefe de gabinete de Marielle Franco na Câmara Municipal do Rio, a hoje deputada estadual Renata Souza (PSOL) diz que a revelação dos mandantes do assassinato da vereadora, no último domingo (24), pode fazer com que novas investigações sobre a conexão entre polícia, política e crime surjam no futuro.

O desfecho do caso Marielle traz um misto de revolta e alívio. Nós antes tínhamos uma esperança subjetiva de solução para o caso. A revelação dos nomes torna essa esperança mais concreta. Mas ainda há muito a ser investigado e comprovado
Renata Souza, deputada estadual pelo pelo PSOL no Rio

O que aconteceu

Para PSOL, ser mulher e negra pesou na escolha de Marielle como alvo. Renata e outros membros do partido entendem que esses fatores foram decisivos para que a morte dela (e não de outro vereador) fosse encomendada. Eles lembram que os vereadores do PSOL sempre votam juntos na Câmara do Rio e que Marielle sequer havia sido alvo de ameaças antes, como já havia acontecido, por exemplo, com Marcelo Freixo (hoje no PSB).

Sabíamos que a tríade polícia-política-milícia era poderosa, mas não acreditávamos que fosse capaz de atacar uma vereadora. Só que, por Marielle ser negra, lésbica e periférica, ser vereadora não fez diferença. Como o posicionamento do PSOL incomodava e ela era a única mulher e a única negra da bancada, aconteceu com ela o que sempre acontece conosco nessa cidade e nesse estado: foi alvo de violência
Mônica Cunha, vereadora pelo PSOL no Rio

Envolvimento do delegado Rivaldo Barbosa surpreendeu o partido. O ex-chefe da Polícia Civil era presente na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e outros espaços de atuação do PSOL. Além disso, o policial era tido como peça importante dentro da instituição desde que chefiou a Delegacia de Homicídios.

Há mobilização para que irmãos Brazão sejam afastados de cargos que ocupam. Representantes do partido ficaram decepcionados com o pedido de vistas no processo que analisa a perda de mandato de Chiquinho na Câmara e já pediram na Alerj o afastamento e a cassação de Domingos do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio). As questões são vistas como "pontos de honra". Além disso, eles cobram o prefeito Eduardo Paes (PSD) por nomeações feitas por indicação de Chiquinho.

Nenhum partido pode estar comprometido com esse grupo. Agora não dá para fingir que não se sabe quem eles são
Luciana Boiteux, vereadora pelo PSOL no Rio

Os citados negam envolvimento com a morte de Marielle. O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, disse que tem "certeza que ele é inocente". Já Chiquinho disse que não há "qualquer motivação que possa vinculá-lo ao caso". Já a defesa de Barbosa não se manifestou.

Desfecho vêm após sequência de reveses

Resolução do caso Marielle vem após uma série de más notícias para defensores de direitos humanos no Rio. A classificação como homicídio culposo da morte de Johnatha Lima pela PM, em Manguinhos, a absolvição dos policiais envolvidos no assassinato de Claudia Ferreira (que foi arrastada por uma viatura) e a proposta de redução de pena para os militares que metralharam o carro de Evaldo Rosa são alguns dos reveses recentes.

Continua após a publicidade

PSOL discute medidas para evitar novos casos. Renata apresentou na Alerj um projeto que fortalece o controle externo da atividade policial e outro que cria uma prestação de contas do governador sobre os esforços para reduzir a letalidade policial. Além disso, o partido trabalha pela aprovação de uma proposta que federaliza a investigação de crimes com envolvimento de policiais e pela criação de uma CPI sobre a ação das milícias no Rio, na Câmara dos Deputados.

O estado do Rio tem um orçamento de R$ 12 bilhões para segurança em 2024, um dos maiores da história. Mas só R$ 2 milhões estão destinados à investigação. É uma polícia sem inteligência, focada em operações
Renata Souza, deputada estadual pelo pelo PSOL no Rio

A expectativa é que os suspeitos sejam responsabilizados pela Justiça no caso Marielle. Nesse sentido, a presença à frente dos trabalhos de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, é vista como positiva, dado seu histórico recente de decisões rigorosas no enfrentamento ao crime.

Há uma cobrança por um tipo de provas nesse caso que é impossível de ser encontrado, quando se trata de criminosos profissionais. Para complicar ainda mais, tudo indica que eles contavam com o apoio da polícia para apagar seus rastros. Além disso, Macalé e vários envolvidos no caso foram mortos desde 2018
Flavio Serafini, deputado estadual e presidente do PSOL no estado do Rio

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.