Na mira do PL, Tarcísio é alvo de disputa entre centro e direita para 2026
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, é alvo de uma disputa, entre políticos de centro e de direita, que tem as eleições de 2026 como pano de fundo. Com uma aprovação maior do que a de Lula (PT) no estado de São Paulo e a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele é hoje um dos principais nomes da oposição para o pleito.
O que aconteceu
No final de semana, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, anunciou que Tarcísio deve se filiar ao partido em junho. A notícia, porém, foi desmentida pelo próprio governador a Raquel Landim, do UOL, e por fonte próxima a ele procurada por esta reportagem. O que se comenta é que a troca pode acontecer, mas ainda não tem data definida.
Aliado de Zema, rival direto na direita, já admite que Tarcísio é "candidato natural" à presidência em 2026. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também é apontado como presidenciável. Mas seu próprio vice, Professor Mateus (Novo), diz que Tarcísio é, a princípio, o nome conservador para a disputa presidencial.
Filiação ao PL seria sinal de fortalecimento do vínculo com Bolsonaro. Ministro da Infraestrutura na gestão do ex-presidente, Tarcísio montou em São Paulo um governo dividido entre técnicos vindos de Brasília, políticos paulistas de centro — como Gilberto Kassab (PSD) — e pouco espaço para a extrema direita.
Inelegibilidade de Bolsonaro cacifa Tarcísio para 2026. Em 2023, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afastou o ex-presidente das disputas até 2030 por causa dos seus ataques ao sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores. Além de Tarcísio, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente são possíveis herdeiros de seus votos.
Para centro, Tarcísio é candidato à reeleição em SP, e não à presidência. Um político do grupo próximo ao governador diz que o projeto para São Paulo é para oito anos de governo e que é preferível que Tarcísio dispute a presidência só em 2030, com mais experiência e realizações no currículo.
Disputa valoriza passe
Briga por Tarcísio mostra que ele está valorizado politicamente. Isso se reflete nas suas chances de vitória quando apresentado como candidato para diferentes cargos. Por outro lado, quanto mais disputado o governador for, mais exigências poderá fazer para aceitar um convite.
Tarcísio tem aprovação maior do que de Lula no estado de São Paulo. Divulgado em abril, um levantamento da Quaest apontou que o governador tem avaliação positiva de 41% dos paulistas — contra 32% do presidente. Em áreas como infraestrutura e mobilidade, a avaliação positiva de Tarcísio chega a 49%.
Na cidade de São Paulo, aprovação de Tarcísio tem tendência de alta. Indicador subiu de 30% para 33% nas últimas duas pesquisas do Datafolha, a mais recente, de março. Ainda que o aumento tenha sido dentro da margem de erro, é relevante porque Tarcísio perdeu para Fernando Haddad (PT) na capital em 2022 e porque o apoio a Lula em todo o país recuou no mesmo período.
Hoje, Lula (PT) é candidato a reeleição em 2026, no campo da esquerda. A posição já foi explicitada por políticos como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Candidato à presidência em 2018, quando Lula estava preso, o próprio Haddad é citado como possível sucessor de Lula, mas episódios como a troca de comando na Petrobras, que contrariou o ministro, o enfraquecem politicamente.
A crise do túnel
Governador quase deixou o Republicanos por causa da obra do túnel Santos-Guarujá. Com aporte de R$ 6 bilhões, metade da União e metade do governo de SP, a obra gerou uma crise entre Tarcísio e seu partido quando o Ministério de Portos e Aeroportos —comandado por Silvio Costa Filho (Republicanos)— tentou financiá-la sozinho.
A manobra foi lida pelo governador como uma forma de esvaziar sua imagem de bom gestor. A obra do túnel, que se arrasta há décadas sem sair do papel, é vista como um projeto fundamental para Tarcísio manter essa imagem.
O Republicanos e outros partidos do centro agiram para que Tarcísio não mudasse de legenda. Naquele momento, a leitura foi de que uma eventual troca jogaria o governador no colo do bolsonarismo e comprometeria os planos de seus apoiadores de centro em São Paulo para os próximos anos. No fim, a União aceitou dividir os custos, e Tarcísio voltou atrás em relação à troca de partido.
Túnel, privatização da Sabesp e outros projetos são apostas da gestão paulista para deixar marca. A construção da nova sede administrativa para o governo do estado na área hoje conhecida como "cracolândia" faz parte do mesmo esforço, que está ligado à construção de uma candidatura presidencial viável para 2030.
Por outro lado, falhas na educação e o aumento da violência policial são apontados como problemas da gestão Tarcísio. As 28 mortes cometidas por policiais em 40 dias de Operação Escudo, as 56 mortes na Operação Verão e o uso de materiais didáticos com erros factuais nas escolas de São Paulo são alguns exemplos.
Até as eleições de outubro, Tarcísio deve seguir no Republicanos. O arranjo é importante para as costuras políticas em curso, ligadas à disputa por prefeituras. Depois disso, o mais provável é que a pressão de Bolsonaro resulte na troca de sigla pelo governador em algum momento, ainda indefinido.