PF vê transações de empresa de Domingos Brazão incompatíveis com sua renda

A Polícia Federal aponta que Domingos Brazão e sua esposa, Alice Kroff, são donos de uma empresa cujas transações "transcendem" a renda lícita do casal. Brazão está preso por suspeita de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL).

O que aconteceu

A PF enviou ao STF nesta quinta-feira (23) o relatório sobre a investigação que prendeu os suspeitos de mandar matar a vereadora. Dentre os documentos da operação Murder Inc analisados, estão extratos de cartão de crédito da empresa de imóveis do casal, a Superplan. Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio.

Os gastos incluem um resort cinco estrelas no Caribe e um show do tenor Andrea Bocelli. Na ilha de Curaçao, o casal gastou até R$ 60 mil na hospedagem, em janeiro deste ano. Os ingressos para o show do italiano custaram R$ 19,3 mil.

Gastos altos não se restringem a um único mês. Segundo a PF, foram R$ 60,6 mil no cartão em janeiro e R$ 48 mil em março, por exemplo.

Empresa administra 87 imóveis que seriam parte do patrimônio do casal. A PF já havia identificado os imóveis antes da operação, mas, nas buscas realizadas em março, os investigadores se surpreenderam com o volume de documentos e informações encontrados.

A profusão de documentos relacionados à empresa chamou a atenção da equipe de investigação, que, por sua vez, verificou que ela se tratava do carro-chefe do intenso emaranhado de pessoas jurídicas constituídas pela família.
Relatório da PF encaminhado ao STF

Imóvel em área de milícia

Imóveis reforçam interesse dos irmãos Brazão em projeto de zoneamento. Os investigadores encontraram nove matrículas de imóveis em áreas da zona oeste da capital fluminense dominadas por milícias. Era esta a região que estava no centro dos debates do PLC 174, de autoria de Chiquinho Brazão, na Câmara Municipal do Rio.

As matrículas estavam no endereço do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ). Ele é irmão de Domingos e também está preso por suspeita de mandar matar a vereadora.

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Projeto que discutiu zoneamento da área teve forte oposição de Marielle. Ele regularizava justamente terrenos em áreas de milícia. A proposta acabou sendo aprovada na Câmara Municipal do Rio, em 2017, com um voto além do mínimo necessário.

A denúncia da PGR contra os irmãos Brazão aponta que a atuação da vereadora neste caso teria sido o estopim. A tese central da acusação elenca esse episódio como sendo o que motivou o planejamento do crime pelos irmãos Brazão e demais envolvidos. O relatório da PF acaba reforçando a tese.

De tudo o que foi encontrado acerca da vertente imobiliária dos negócios da família Brazão, se verifica a vultosidade das transações realizadas; o alto valor de manutenção de tais bens, notadamente no que concerne aos tributos e demais emolumentos; bem como sua aparente incompatibilidade com os rendimentos lícitos por eles auferidos.
Relatório da PF

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