Pré-candidatos do PT, PL e União são alvo do MP por desvio de doações ao RS
O Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga se três pré-candidatos às eleições municipais deste ano desviaram doações destinadas às vítimas das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul no mês passado.
O que aconteceu
Os três são vereadores e pré-candidatos em Palmares do Sul, cidade a 90 quilômetros de Porto Alegre. O vereador Filipe Lang (PT-RS) é pré-candidato a prefeito; Polon Backes de Oliveira (União Brasil-RS) é pré-candidato a vice na chapa de Lang; e o vereador Manoel Antunes Neto (PL) também é pré-candidato à prefeitura da cidade.
As doações teriam sido desviadas para famílias que não foram atingidas pelas cheias. "Já temos provas de que parte destes donativos foi encaminhada para famílias não flageladas", disse o promotor Mauro Rockenbach, do Gaeco (Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado).
O primeiro alvo da operação foi Antunes Neto. Ele, a esposa e o secretário municipal de Administração, Rodrigo Machado Martins, são investigados desde a última terça-feira (4).
Lang e Polon entraram na mira no último sábado (8). Lang foi preso em flagrante com uma arma sem registro. Já com Polon foram encontrados R$ 15 mil em dinheiro vivo. A Polícia Civil apreendeu smartphones, munições, documentos e "uma grande quantidade de donativos".
Lang disse à polícia que a arma não tem registro porque foi um presente antigo do avô. Polon garantiu que os R$ 15 mil são valores de honorários por seus serviços de advogado.
Lang também negou que as doações tenham beneficiado pessoas não afetadas pelas cheias. Ele afirmou em rede social que os donativos foram entregues em um bairro não atingido, mas que abriga "aproximadamente 3.000 pessoas que tiveram suas casas alagadas".
Polon teria evitado que as doações passassem pela prefeitura. De acordo com ele, haveria denúncias de que estavam utilizando os donativos para "fazer política", afirmou ao Estadão.
Já o vereador do PL e o secretário de administração falam em calúnia. "Fui, assim como o secretário Rodrigo, alvo de denúncias caluniosas feitas por adversários políticos", disse ele em nota enviada ao UOL. Neto nega "qualquer envolvimento com os donativos apreendidos".
Denúncias anônimas. O secretário Rodrigo Martins disse ao UOL que a polícia não encontrou evidências em sua casa. "Nada tenho em relação às acusações feitas em tais denúncias anônimas, que apenas serviram para atrasar o trabalho dos órgãos de justiça e policiais; sugerindo apenas uma prática eleitoreira", disse ele em nota enviada à reportagem.
"Nada foi comprovado". Martins também enviou um áudio com uma entrevista do delegado do caso. "Com relação a ele, da nossa parte da Polícia Civil, entendo que não foi comprovado nada", disse o delegado Antonio Ractz.
Nada de irregular foi encontrado na minha residência, assim como na casa do secretário, apenas um conjunto de escovas de dente na casa de minha companheira.
Vereador Manoel Antunes
Se a Justiça do homem não for feita, com certeza a Justiça de Deus será feita. Quero dizer aos meus adversários políticos que uma eleição não precisa ser uma guerra.
Filipe Lang, vereador
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Quero receberEstávamos distribuindo essas cestas básicas de forma regular, inclusive levaram o notebook que temos os registros. No notebook vão ver que em 12, 15 dias, atendemos mais de 600 famílias.
Polon Backes de Oliveira, vereador
Ministro confirma suspeita
Paulo Pimenta, ministro extraordinário pela reconstrução do estado, confirmou os desvios. Sua secretaria enviou 18 toneladas de donativos a uma igreja em Palmares do Sul que deveria distribuir as doações, o que não aconteceu.
Fomos informados agora que o nome da igreja foi usado para repassar esses donativos a lugares que parecem não ser os apropriados e sugerimos à Polícia Civil que investigue se houve desvio de objetivo.
Paulo Pimenta, ministro
Estamos apurando a participação de mais envolvidos no desvio. Isso porque são vários os relatos da população que mencionam vereadores se aproveitando dessa tragédia para benefício próprio e eleitoral.
Mauro Rockenbach, promotor de Justiça do RS
Vereador em Cachoeirinha na mira
O vereador Deoclécio Mello (PSDB) também é investigado por desvios. O tucano, que é parlamentar na cidade de Cachoeirinha (região metropolitana de Porto Alegre), teria usado uma ONG para os desvios.
A ONG Vida Viva foi alvo de busca e apreensão em 19 de maio. A organização, ligada ao vereador, recebeu vítimas das inundações.
A família Mello também alegou perseguição política. A ONG alega ser cadastrada na prefeitura justamente para receber e distribuir doações. Procurado, o vereador não respondeu até a publicação desta reportagem.
175 pessoas foram encontradas mortas até agora pela Defesa Civil. Pelo menos 38 estão desaparecidas, com 2,3 milhões de gaúchos afetados pelas cheias.
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