Marco temporal: PEC para demarcar terras indígenas volta à pauta no Senado
O marco temporal volta ao centro do debate político nesta quarta-feira (10), quando a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado deve votar uma emenda constitucional assinada pelo senador Dr. Hiran (PP-RR).
O que aconteceu
PEC (Proposta de Emenda Constitucional) colocou o Congresso contra o poder Executivo e o STF. A Lei 14.701 que regula demarcações de territórios indígenas foi aprovada pelos parlamentares em setembro de 2023.
Supremo decidiu que o texto era inconstitucional e, em consonância com a Corte, o presidente Lula (PT) vetou o projeto. Mesmo assim, o veto foi derrubado pelo Congresso no mês de outubro.
Na proposta, os povos indígenas só podem reivindicar terras ocupadas na data de promulgação da Constituição de 88, em 5 de outubro de 1988. Agora os 27 senadores que assinam a emenda tentam incluir o texto na Constituição.
PEC desagrada lideranças indígenas. Desde que o marco temporal começou a ser debatido no Senado, lideranças indígenas se mobilizaram contra a emenda. Para eles, o texto desconsidera populações indígenas que foram expulsas de suas terras antes da promulgação da Constituição.
O relator é o senador Esperidião Amin (PP-SC), que já se posicionou favorável à proposta. "Se se recua demais no tempo, até mesmo áreas como Copacabana e o Aeroporto de Cumbica (Guarulhos) seriam reconhecidos como terras indígenas", declarou.
São as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, (...) sendo-lhes garantida a sua posse permanente, estabelecido o marco temporal em 05 de outubro de 1988.
Trecho da PEC
STF questiona constitucionalidade
A validade do marco temporal é questionada no STF (Supremo Tribunal Federal), por ferir direitos fundamentais dos povos indígenas. No momento, duas ações foram recebidas pela Corte: uma contra e outra a favor da emenda.
As ações foram recebidas após o presidente Lula ter vetado o texto. Os senadores derrubaram os vetos aplicados pelo presidente.
A Corte volta a debater a validade do marco temporal em agosto. O STF montou uma comissão de conciliação para tratar das duas ações. Até lá, o ministro Gilmar Mendes negou pedidos para suspender o marco temporal e confirmou que novas decisões serão avaliadas pelo STF entre agosto e dezembro.
Lideranças indígenas defendem um marco ancestral
"O marco é ancestral". A APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e a Atyguasu (Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani) mobilizam manifestações por todo o país contra a proposta. Em nota, a APIB afirmou que os direitos dos povos indígenas estão sendo "atacados" e que o Congresso está ignorando os direitos aos territórios e à vida.
Na última segunda-feira (8), 100 lideranças indígenas se reuniram em assembleia para construir um plano de atuação contra o marco temporal. Em entrevista ao UOL, o coordenador executivo da APIB, Dinamam Tuxa, contou que boa parte dessas lideranças já está em Brasília e que os povos indígenas vão resistir à votação.
"Vamos voltar a nos manifestar em todo o país", disse o líder do povo indígena Tuxá, que sempre viveu na divisa entre os estados de Pernambuco e Bahia. "Temos que ocupar as ruas e as BRs, precisamos dar visibilidade para as consequências dessa emenda, que não prejudica apenas os povos indígenas, mas todos os brasileiros."
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberAs lideranças indígenas afirmam não terem sido ouvidas na construção do projeto de lei. "É um processo arbitrário, essa pauta fere nossos direitos fundamentais, por isso o STF julga como inconstitucional", explica Dinamam Tuxá. Ele conta que já existe uma descrença das lideranças com o Congresso "nunca sentamos para dialogar com o Congresso", completa, "os direitos dos povos indígenas não se negociam."
Dez lideranças indígenas devem acompanhar a votação dentro do Congresso Nacional. Três líderes estarão na plenária, outros sete em diferentes pontos. "Estaremos presentes", conta o coordenador. "É uma jornada de luta que começa amanhã, mas só termina quando os direitos dos povos indígenas forem devidamente respeitados", diz.
Para ele, mais do que território estão em jogo. A manutenção de saberes e culturas ancestrais dos povos indígenas e os assentamentos sagrados, que mobilizam os povos originários podem ser perdidos com a aprovação do marco temporal. "A aprovação de uma PEC como essa aumenta a violência dentro das indígenas."
Queremos falar sobre crise climática, sobre preservação das nossas matas. Essa PEC foi pensada para acessar os territórios indígenas que ainda não foram demarcados ainda e tomar até mesmo os que eles dizem estar protegendo. É uma PEC de morte, genocidio e destruição.
coordenador executivo da APIB, Dinamam Tuxá
Deixe seu comentário