O que é o 'gabinete do ódio' e quais são as investigações da PF sobre ele
Foco de uma operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (11), o chamado "gabinete do ódio", que teria funcionado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é alvo de investigações que correm no STF (Supremo Tribunal Federal) há mais de cinco anos.
O que aconteceu
A PF cumpre hoje 5 mandados de prisão contra pessoas ligadas ao "gabinete do ódio". As investigações apontam que esse grupo, composto por assessores de comunicação do clã Bolsonaro, recebeu ajuda clandestina de membros da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para divulgar notícias falsas sobre membros dos Três Poderes e jornalistas.
O "gabinete do ódio" teria funcionado desde a campanha de Bolsonaro à Presidência, em 2018. A expressão, que veio a público no ano seguinte, ficou conhecida durante a CPMI das Fake News. A ex-deputada Joice Hasselmann (Podemos-SP), já rompida com Bolsonaro à época, afirmou em depoimento que o Planalto tinha uma estrutura de comunicação para atacar opositores na internet.
Três inquéritos no STF tratam do "gabinete do ódio", mas nenhum resultou em processos criminais até o momento. A atuação do grupo é investigada desde 2019, no chamado inquérito das fake news, e também já foi alvo nos inquéritos dos atos antidemocráticos e no das milícias digitais. Nenhuma dessas investigações foi encerrada até agora.
As investigações sobre o "gabinete do ódio" correm no Supremo há mais de 5 anos. O inquérito das fake news, que abriga a operação da PF deflagrada hoje, está em andamento e segue em sigilo desde março de 2019, o que é alvo de críticas da oposição.
O sigilo da operação de hoje, porém, foi retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. A investigação revela que a estrutura paralela da Abin monitorou ministros do STF, políticos, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ex-governador de São Paulo, João Doria, e jornalistas como Mônica Bergamo e Vera Magalhães.
Membros do suposto gabinete do ódio também foram investigados na CPI dos atos de 8 de janeiro. O principal deles, o ex-assessor do Planalto Tercio Arnaud Tomaz, não é alvo da operação de hoje, mas outros nomes que também faziam parte da estrutura da Presidência sofreram buscas e apreensões.
Operação avança sobre 'Abin paralela'
A PF mira hoje um grupo ligado à chamada 'Abin paralela' que teria funcionado sob Bolsonaro. As investigações apontam que a agência abasteceu o Planalto com informações clandestinas à época em que foi comandada por Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Segundo a PF, a Abin incentivou e encobriu o uso ilegal de um programa espião. As prisões e apreensões feitas hoje compõem a segunda fase da operação Última Milha, que apura o uso da Abin para "monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas" no governo Bolsonaro.
A PF suspeita que Ramagem usou a estrutura da agência para ajudar a família Bolsonaro. Segundo a investigação, agentes da Abin tentaram fazer provas e relatórios em defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e de Jair Renan Bolsonaro, filhos do ex-presidente, e espionar opositores.
O nome da operação, Última Milha, se refere a um programa espião que teria sido usado pela Abin no período. O software First Mile, adquirido pela Abin na gestão de Ramagem, pode rastrear dados de geolocalização de qualquer pessoa a partir dos dados transferidos do celular do indivíduo para torres de comunicação da região. A ferramenta permite o rastreamento de até 10 mil pessoas por ano.
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