Oposição silencia 'lacradores' em estratégia para minar poder de Moraes

A oposição considera que Alexandre de Moraes nunca esteve tão fragilizado desde que assumiu o comando do enfrentamento jurídico ao bolsonarismo. Um impeachment não é considerado realista, mas a direita vê oportunidade para enfraquecer o ministro.

O que aconteceu

Senadores e deputados da direita lançaram campanha de coleta de assinaturas pelo afastamento de Moraes. Eles querem reunir milhões de adesões até 7 de setembro. Grupos bolsonaristas no WhatsApp já estão compartilhando links sobre o abaixo-assinado, iniciado na terça (13) à tarde. Memes e figurinhas completam a ofensiva de comunicação.

Pela primeira vez nesta legislatura, a oposição vê a oportunidade de sair da defesa e jogar no ataque. A chance é tratada com tanto zelo que calou a parte da bancada que chegou ao Congresso lacrando nas redes sociais.

Com milhões de assinaturas e o apoio de juristas, a oposição espera mudar o cenário político. Parlamentares da oposição afirmaram ao UOL que a intenção é fomentar na sociedade a desconfiança sobre Moraes não atuar de forma equilbrada —algo em que o bolsonarista raiz já acredita.

Para eles, a pressão das ruas obrigaria o ministro a diminuir a quantidade de decisões judiciais contra a oposição. Só esse objetivo alcançado já significaria uma nova correlação de forças. Até hoje, os bolsonaristas só foram capazes de produzir discursos contrariados que não impedem operações policiais e prisões contra o grupo.

Atos miram mais pressão popular. A oposição convocou manifestações para a avenida Paulista, em 25 de agosto, e em Belo Horizonte, no 7 de Setembro, de olho em conseguir mais engajamento contra Moraes.

A oportunidade de a direita contra-atacar surgiu após a Folha de S.Paulo publicar reportagens que levantaram suspeitas sobre a atuação do ministro. Durante a corrida eleitoral de 2022, ele acumulava a presidência do TSE e a direção de investigações contra bolsonaristas que correm no STF. O jornal revelou que Moraes aproveitara o poder de polícia da Justiça Eleitoral para produzir relatórios que abasteciam suas investigações no Supremo.

O senador Eduardo Girão defendeu o impeachment de Moraes e falou em "ditadura da toga"
O senador Eduardo Girão defendeu o impeachment de Moraes e falou em "ditadura da toga" Imagem: Reprodução/TV Senado
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Serenidade e parcimônia

Sempre que tem chance, a direita convoca uma coletiva e destila críticas aos adversários. Estes eventos são marcados por bolsonaristas, principalmente deputados, abusando de frases de efeito que geram recortes para suas redes sociais.

Os senadores mais experientes da direita agiram para barrar a ala 'lacradora' da oposição. Eles conversaram com líderes na Câmara para explicar que arroubos retóricos sugerem falta de argumentos e afastam o apoio popular. As palavras de ordem foram serenidade e parcimônia.

A estratégia desenhada colocou o senador Eduardo Girão (Novo-CE) como voz da oposição no evento de anteontem. Ele já articulava um pedido de impeachment e fez um pronunciamento duro, mas sem postura teatral. Quando terminou, houve ordem para todos irem embora.

Somente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) concedeu entrevista. O parlamentar esteve no centro da definição da tática por representar os interesses da família Bolsonaro. À imprensa, ele falou em perseguição contra o ex-presidente e sugeriu que Moraes não age de forma equilibrada.

A estratégia da direita tem uma segunda etapa. Parlamentares relataram ao UOL que, caso a imagem de suspeição cole em Moraes, serão levantadas bandeiras como anistia aos presos de 8 de Janeiro e retomada dos direitos políticos de Jair Bolsonaro (PL).

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Outro nome citado ao UOL como articulador da tática de serenidade e parcimônia foi o do senador Esperidião Amim (PP-SC). O parlamentar não ficou para o evento de terça à tarde, mas apareceu minutos antes do início. Nesse momento, teve o braço apertado por um deputado que comentou estar seguindo o que fora solicitado.

Moraes pediu um relatório sobre Eduardo Bolsonaro, deputado que falou ser necessário um cabo e dois soldados para fechar o STF
Moraes pediu um relatório sobre Eduardo Bolsonaro, deputado que falou ser necessário um cabo e dois soldados para fechar o STF Imagem: Pedro França/Agência Senado

Impeachment é improvável

A oposição espera associar as denúncias da Folha de S.Paulo ao que aconteceu na Lava Jato. A investigação contra Lula e o PT desmoronou depois que então juiz Sergio Moro apareceu combinando procedimentos com os procuradores.

Mas parlamentares da oposição não acreditam no afastamento de Moraes na conjuntura atual. O ceticismo é tamanho que até o acolhimento do pedido de impeachment é considerado improvável por falta de apoio político.

As assinaturas serão coletadas até 7 de setembro e o pedido será entregue ao presidente do Senado dois dias depois. A colunista do UOL Letícia Casado já adiantou que a solicitação não deve prosperar porque o entendimento da maioria dos parlamentares é de não haver irregularidade na conduta do ministro.

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A oposição sabe disso e avalia que as matérias publicadas até o momento são suficientes somente para gerar desgaste. O senador Izalci Lucas (PL-DF) admitia que é preciso revelações mais graves para que a população seja convencida da suposta parcialidade do ministro do STF.

A direita está cética, mas se preparou para o fator supresa. Juristas foram consultados e houve a orientação de não haver senador assinando o pedido de afastamento. O motivo é que numa eventual abertura de processo são eles a decidir pelo acolhimento do impeachment e os signatários não poderiam votar.

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