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"Não faz sentido fechar o estado de São Paulo porque tem 46 casos", diz Uip

O coordenador do Centro de Contingência do Covid-19 no estado de São Paulo, David Uip - Keiny Andrade/Folhapress
O coordenador do Centro de Contingência do Covid-19 no estado de São Paulo, David Uip Imagem: Keiny Andrade/Folhapress

Alex Tajra e Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

12/03/2020 12h38

O coordenador do Centro de Contingência do Covid-19 no estado de São Paulo, David Uip, afirmou hoje não "tem sentido" fechar o estado de São Paulo em função do coronavírus, posto que só há 46 casos confirmados. A posição do médico foi endossada pelo governador do estado, João Doria (PSDB), que também rechaçou tomar qualquer atitude neste sentido no atual momento.

"Ainda teremos que ter o entendimento de como esse vírus vai ser distribuído no estado de São Paulo. São aprendizados. Temos 46 diagnosticados, 44 na capital. Aqui não tem chute. Aqui é estudo epidemiológico. É ciência, entendimento e compreensão dos fatos no dia a dia", argumentou Uip em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.

Tanto Uip quanto Doria, todavia, afirmaram mais de uma vez que as decisões divulgadas hoje são restritas "ao dia 12 de março". "Essas decisões [como a de fechar universidades, escolas e outros locais] não se aplicam hoje, mas poderão ser aplicadas amanhã. Essa é uma decisão de hoje, às 12 horas", disse Doria.

"É preciso ter sempre bom senso e amparar as decisões no campo da saúde, no campo sanitário. Lidamos com vidas, atitudes e atividades. Não é razoável paralisar um estado com quase 46 milhões de habitantes. Uma medida como essa, ao ser adotada, deve ser adotada com fundamento claro e na hora correta. A ação preventiva não é precipitada, é feita na hora certa", argumentou o governador.

David Uip disse também que trabalha com cenários que envolvem a contaminação pelo coronavírus de 1% a 10% da população com mais de 50 anos. Segundo ele, as análises e dados desenvolvidos até o momento mostram que as pessoas nesta faixa etária estão mais vulneráveis ao vírus do que os jovens.

Os cenários traçados por Uip têm como base as pessoas que utilizam exclusivamente o SUS (Sistema Único de Saúde) no estado. "São Paulo tem 46 milhões de habitantes, e cerca de 60% tem atendimento exclusivo pelo sistema público. É em cima desses 60% que há todo um planejamento, aí você pode pensar em como pedir recursos [ao governo federal]", disse o médico, recomendando que as pessoas com mais de 50 anos não frequentem aglomerações e tomem mais precauções em relação à saúde.

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Leitos e kits

Na coletiva, Doria e Uip anunciaram que o estado e o município de São Paulo vão receber mais mil leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) que serão adquiridos pelo ministério da Saúde. Serão 400 para o estado e 600 para a cidade, sem contar os que estão sendo adquiridos pelos municípios. "O ministério terá de passar os recursos para a manutenção disso. (...) São Bernardo, por exemplo, está pronto para ter mais 40 leitos de UTI."

"Esta é uma pandemia que evolui. O que estamos dizendo hoje talvez seja diferente em um ou dois dias. Isso é a realidade de hoje, aquilo que estamos prontos", disse Uip. Governo e município também receberão 20 mil kits para diagnóstico do novo coronavírus, que serão utilizados inicialmente nos 114 postos da chamada "Rede Sentinela" — postos de saúde e hospitais localizados nos estados que já têm a presença do vírus confirmada e que são referência em síndromes gripais.

Nestes locais, já há um painel que mostra o monitoramento de diferentes vírus no país, e o novo coronavírus será incorporado. "Os exames [kits] serão utilizados nos doentes que estão internados", disse Uip.

OMS

Para o médico que gerencia o Centro de Contingência do covid-19, a OMS (Organização Mundial da Saúde), "retardou" o anúncio de pandemia do novo coronavírus, anunciado ontem. A frase vai ao encontro ao que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou ontem em uma comissão-geral para debater o vírus na Câmara dos Deputados.

"A OMS demorou para decretar a pandemia e isso fez com que muitos países ficassem procurando nexo para seguir um protocolo rígido como foi o caso da Itália que, quando percebeu, já se tinham casos com espiral acentuada", afirmou o ministro.