Adesão de 50% ao isolamento social pressiona UTIs, e SP busca novos leitos
Resumo da notícia
- A cidade de São Paulo registrou o primeiro hospital com UTI lotada por covid-19
- A Secretaria de Saúde calcula que em maio os hospitais da rede pública estarão lotados
- Os leitos dos hospitais de campanha ficarão na mesma situação em julho, e novas vagas serão necessárias
- A Secretaria de Saúde tenta criar mais 2 mil leitos de UTI. Entretanto, profissionais de saúde e respiradores são gargalos
- Essa projeção de ocupação das UTIs foi feita com base em um isolamento social de 50%, sendo que o ideal é 70%
- Apesar da baixa adesão, João Doria não prevê estabelecer punições para quem desrespeitar a quarentena
O anunciado estresse na rede pública de saúde começou em São Paulo. Ontem, a cidade registrou o primeiro hospital público com ocupação de 100% em seus leitos de UTI reservados a pacientes diagnosticados com a covid-19. Trata-se do Instituto de Infectologia Emília Ribas, escolhido como unidade de referência ao enfrentamento ao novo coronavírus. O hospital está com suas 30 vagas preenchidas, e os administradores tentam abrir outras 20.
A tendência é esse cenário deixar de ser novidade e virar algo comum. Cálculos estimam que os hospitais públicos estarão todos lotados entre a metade e o final de maio, afirmou o secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann. Restarão os leitos dos três hospitais de campanha, e a previsão é de que eles sejam ocupados até o final de julho.
O secretário de Saúde mencionou que a taxa de ocupação das unidades de saúde que são referências no tratamento da covid-19 está em 70%. Mas os índices são maiores em alguns locais, como o Hospital Geral de Pedreira (87%), Hospital Geral Vila Nova Cachoeirinha (86%) e Hospital das Clínicas (83%).
Essa projeção de leitos de UTI da rede pública lotados foi feita com base numa adesão ao isolamento social de 50%, índice registrado na segunda (13) e terça-feira (14) — são os dados mais recentes disponíveis. Ciente da realidade, a Secretaria de Saúde tenta criar 2 mil leitos de UTI, que serão distribuídos na capital e interior.
"Estamos preparando outro lote de hospitais para entrar em campo na hora em que estes aqui [leitos já existentes] atingirem 90%, 95% de ocupação, que nós esperamos que seja do meio de maio para frente", declarou Germann.
Um sinal do avanço do coronavírus é que, somente nos últimos sete dias, o número de mortos no estado de São Paulo cresceu 81,7%. Passou de 428 para 778 óbitos.
Em menos de dois meses da pandemia, morreram mais pessoas no estado do que em um ano de H1N1. A Secretaria de Saúde está ciente da ameaça e tem espaço físico para seu plano de ampliar as vagas de UTI. Entretanto, existem dois gargalos: profissionais de saúde e respiradores.
O primeiro problema foi atacado com a autorização do recrutamento de 1.185 funcionários em caráter emergencial. Mas contratar na área pública não é simples. Serão chamados 210 enfermeiros e 50 fisioterapeutas remanescentes de concurso. O Diário Oficial publicou as convocações, e a previsão é que comecem a trabalhar na quarta-feira da próxima semana. Para as outras 925 vagas, será feito um processo seletivo.
O gargalo seguinte é conhecido desde o princípio da crise da covid-19: a falta de respiradores. Como o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sempre fala nas coletivas, os equipamentos estão sendo disputados de maneira ferrenha por vários países.
A capacidade do poder público para resolver esses problemas vai apontar se há condições de entregar os novos leitos.
A matemática dos leitos de UTI
O secretário estadual de Saúde explicou que São Paulo possui 3,5 mil leitos de UTI fixos para adultos. Ele manteve 3 mil para tratamento de casos de rotina hospitalar, como acidentes, infartos, oncologia e outras especialidades. Foram destinados 500 ao combate ao coronavírus e adicionadas 1,7 mil vagas em hospitais de campanha e na reorganização da estrutura existente. Mais 200 leitos de UTI foram abertos no Hospital das Clínicas.
Ou seja, São Paulo tem capacidade para atender 2,4 mil pacientes que precisam ser intubados. Mas como a adesão ao isolamento social não chegou aos 70%, índice que as autoridades de saúde mencionam como o necessário para não causar colapso dos hospitais, mais leitos serão abertos.
Germann gostaria de entregar 2 mil novas vagas. Contudo, a vontade esbarra nos dois gargalos citados anteriormente. Outro problema que existe quando se fala de UTIs é o tempo que cada pessoa permanece internada.
Coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo, o infectologista David Uip explica que um paciente precisa de duas semanas para se recuperar da doença. Nos casos que evoluem para óbito, a situação é ainda pior. Em média, as pessoas ficam três semanas hospitalizadas.
Ele ainda ressaltou que há uma interiorização do coronavírus. Os casos fora da capital do estado já chegam a 28%, e os pontos considerados de maior risco são as cidades com maior concentração populacional.
SP não fala em punir quem descumpre quarentena
A expressão 'não existe remédio contra o coronavírus e a única vacina é ficar em casa' é uma constante há semanas. Mesmo assim, as ruas estão cada vez mais cheias, pessoas passeiam nas praças e as calçadas e ciclovias estão cheias de cidadãos correndo, caminhando e andando de bicicleta.
O reflexo aparece no monitoramento de deslocamentos, cujos dados haviam melhorado no feriado de Páscoa, mas fechou em 50% na segunda e terça-feira.
As autoridades de saúde estão adaptando o discurso. Na entrevista coletiva de ontem, Uip foi perguntado sobre a adesão ao isolamento social e não mencionou os 70%, índice que hoje parece inalcançável. Mas o coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus declarou que a curva de evolução da doença está baixando.
"Todas as curvas que nós estamos acompanhando chegam ao mesmo patamar. Estamos conseguindo baixar a curva, mas continuamos continuadamente contando com o apoio da população", disse Uip. O médico também adotou o discurso de que o nível de adesão ao isolamento social determinará o sucesso da gestão da crise.
Doria baixou o tom
Mesmo com a adesão à quarentena abaixo da meta das autoridades de saúde, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não dá sinais de que vá adotar medidas mais duras.
Há duas semanas, ele havia falado em usar a força, multar e até prender quem descumprisse as regras, mas houve reações negativas e questionamentos sobre validade jurídica da medida. Desde então, o tom é mais conciliador, e o governador repete que confia na população, apela para as pessoas cuidarem de si e de seus idosos. Ontem, Doria disse que vai aguardar o final desta quarentena, que acaba em 22 de abril, para avaliar a situação.
"Nós temos que confiar, acreditar e estimular as pessoas para seguirem de forma determinada o seu isolamento, estimulando amigos, parentes, vizinhos a fazerem o mesmo, a seguirem o isolamento. Nós vamos até o dia 22 de abril, que é data conforme já mencionei, onde teremos esta quarentena terminada, e aí sim faremos uma avaliação e tomaremos as decisões que forem necessárias."
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