Com 12 vezes mais casos em 2 semanas, Alagoas tem alta inédita de covid-19
Em 15 de abril, Alagoas era um dos estados que poderia se dizer em situação "confortável", com 83 casos confirmados de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Passadas apenas duas semanas, o estado viu um crescimento até agora inédito entre as unidades da federação, saltando para 1.045 pessoas com a doença covid-19, segundo dados oficiais divulgados ontem.
O aumento de cerca de 12,5 vezes — ou 1.159% — surpreendeu até os cientistas que fizeram projeções sobre a quantidade de casos no início do mês de abril.
Outro dado alarmante é o número de óbitos por covid-19 no estado. No dia 15 de abril, Alagoas registrou cinco mortes e, até o meio-dia de ontem, eram 47 — um aumento de quase dez vezes no número de vítimas da doença causada pelo novo coronavírus.
"Ficamos alarmados com isso, porque revela que já estamos em uma transmissão comunitária avançada e que nossos dados ainda são pouco transparentes", afirma Sérgio Henrique Albuquerque Lira, professor do Instituto de Física da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e integrante do grupo de monitoramento dashboard da covid-19 no estado.
A situação em Alagoas ainda não atingiu o pico. Até ontem, 167 dos 380 leitos criados para tratar pacientes com covid-19 estavam ocupados. Porém, em menos de uma semana, esse percentual mais que dobrou, em especial nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva).
O estado ainda tem deficiência em logística, já que a região do Sertão não tem leitos de UTI — apenas em Delmiro Gouveia há dois leitos de unidade semi-intensiva. A ideia do governo é levar os pacientes graves para Arapiraca, na região Agreste, que tem 17 leitos de UTI e fica a 166 km de Delmiro Gouveia, por exemplo.
Aguardando o governo federal
O Estado alega que, até o momento, não recebeu nenhum respirador dos 30 prometidos pelo governo federal. "Essa promessa se estende desde o início de abril. Todos os nossos 126 leitos de UTI foram com respiradores nossos", afirma o secretário de Saúde de Alagoas, Alexandre Ayres. Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu quando entregará os equipamentos.
Preocupada com o número de casos em Alagoas, a SAI (Sociedade Alagoana de Infectologia) elaborou dois documentos para contribuir com o combate ao novo coronavírus no estado: uma carta aberta aos gestores e população e uma análise da rede de assistência, esse último exclusivo ao poder público.
Na carta aberta, assinada pelo presidente da SAI, o infectologista Fernando Maia, os médicos dizem que estão preocupados com a "dependência quase que total de transporte em ambulância do tipo UTI móvel, para que os casos graves e críticos cheguem à maioria dos leitos de enfermaria e UTI destinados aos casos de covid-19, uma vez que não há pronto atendimento médico na estrutura do próprio hospital, à exceção do Hospital Escola Hélvio Auto e de algumas unidades do interior do Estado".
"Este é um gargalo importante, considerando a velocidade na evolução para estado crítico, quando da presença de sinais de gravidade, e o número de casos estimados para a população alagoana, que poderá chegar a mais de 4.000 internações em um mesmo dia", alerta o documento.
O infectologista Maia reforça essa previsão "pessimista", se medidas de combate ao novo coronavírus não forem intensificadas, como o isolamento social. "É para intensificar as medidas de prevenção, para que não se tenha a grande explosão do número de casos. A previsão pessimista do trabalho da Ufal de que pode haver 4 mil casos num dia só, para que não aconteça é preciso de trabalho diuturno, tanto da população quanto do poder público em aderir às medidas de isolamento", observa.
Isolamento desrespeitado
Segundo a secretaria de Saúde, parte desse processo pode ser explicado pelo descumprimento em massa do isolamento social, especialmente durante o feriado da Semana Santa, e pelas aglomerações nas portas das agências bancárias, casas lotéricas e supermercados.
O secretário Ayres explica que o governo estuda maiores restrições de acesso aos locais que têm causado problemas à saúde pública de Alagoas.
"A gente tem debatido muito a possibilidade de ampliação das restrições em Alagoas, pois o fim do isolamento vai depender do comportamento da população. Me reuni com representantes do Ministério Público na quinta-feira e cobrei posicionamento sobre o descumprimento das agências bancárias, que têm permitido aglomerações em suas portas, e isso tem trazido grandes prejuízos à saúde pública em Alagoas."
A preocupação não é apenas do poder público. Os números fizeram o diretor médico do hospital Santa Casa de Maceió — que tinha na quinta-feira 72 dos 80 leitos ocupados — gravar um vídeo pedindo, de forma emocionada, para que a população fique em casa. "Na semana passada eu gravei um vídeo e apelei. Hoje eu imploro para que vocês fiquem em casa. Estamos chegando perto do nosso limite", disse Artur Gomes.
Colapso previsto para maio
Com a alta acima do previsto, Alagoas deve enfrentar um pico de casos e o congestionamento da rede pública de saúde antes do esperado.
"Nossas projeções apontam para um provável colapso da rede estadual de saúde na segunda quinzena de maio, já considerando a expansão de atendimento hospitalar máximo anunciada. Isso significa que, apesar de importante para adiar o colapso hospitalar, a expansão do número de leitos por si só será incapaz de atender toda a demanda de internações", afirma o professor Sérgio Henrique.
Ele defende medidas de isolamento mais duras. "É preciso endurecer as condições atuais de isolamento e ter capacidade para colocar em quarentena os infectados, antes que circulem espalhando a doença. Como? Fazendo, por exemplo, uma gestão de casos suspeitos por meio de softwares de monitoramento", finaliza o professor do Instituto de Física da Ufal.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.