Argentina contém covid-19 com quarentena rigorosa e até ameaça de prisão
Resumo da notícia
- O primeiro caso de covid-19 da Argentina foi confirmado em 3 de março
- Em 20 de março, o presidente Alberto Fernández decretou quarentena compulsória
- "Da morte não se volta, mas a economia se recupera", declarou
- Argentina não apenas recomenda, mas proíbe sair de casa sem motivo. Qualquer um que desrespeitá-la pode ser preso e julgado
- Até agora, a Argentina fez cerca de 56 mil testes; Brasil, apenas 202 mil
Enquanto o Brasil lidera com sobras a lista de países sul-americanos mais afetados pelo coronavírus, a Argentina até quinta-feira (30) havia registrado somente 4.201 casos confirmados e 207 mortes por covid-19. Os números baixos se explicam pela taxa de testes realizados, proporcionalmente maior do que a brasileira, e uma quarentena rígida que prevê multa e até dois anos de prisão para quem sair de casa sem motivo.
O primeiro caso de covid-19 da Argentina foi confirmado em 3 de março: um homem de 43 anos que havia voltado de Milão, na Itália. Os casos seguintes também foram de viajantes vindos da Europa, e em 15 de março o governo impôs quarentena obrigatória para quem voltava ao país —desobedecê-la pode custar 100 mil pesos (cerca de R$ 8,2 mil) e até culminar em prisão.
Em 20 de março, quando já havia 128 pacientes e três mortes, o presidente Alberto Fernández decretou quarentena compulsória e fechamento de fronteiras.
Foi a primeira grande medida governamental ampla no enfrentamento à pandemia, tomada na mesma data em que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), tratava a covid-19 como "gripezinha" —no Brasil havia quatro mortes a esta altura.
A exemplo do Brasil, a quarentena argentina encontrou resistência em alguns setores da economia. Quando questionado, Fernández rebateu à pressão de forma dramática: disse preferir 10% a mais de pobres no país do que 100 mil mortos pelo coronavírus.
"Da morte não se volta, mas a economia se recupera", declarou na ocasião. A quarentena e as fronteiras fechadas valem até domingo (10), mas a tendência é que as medidas sejam mantidas por mais tempo.
Quem desrespeitar medidas pode até ser preso
A quarentena argentina não apenas recomenda, mas proíbe sair de casa sem motivo. Qualquer um que desrespeitá-la pode ser preso e julgado com base no artigo 205 do Código Penal do país, que prevê prisão de seis meses a dois anos a quem "violar as medidas adotadas pelas autoridades competentes para impedir a propagação de uma epidemia".
Para além das ações mais comuns nesta pandemia, que evitam aglomerações e fecham parte do comércio, os meios de transporte na Argentina, particulares ou públicos, só podem ser usados por quem trabalha em atividades específicas e preenche um formulário online.
Demais deslocamentos devem ser "mínimos e indispensáveis para compras de artigos de limpeza, medicamentos e alimentos", segundo cartilha governamental.
Na semana passada o governo voltou a permitir breves saídas para exercícios físicos ou recreação, desde que por menos de uma hora e dentro de um raio de 500 metros de casa. Ainda assim, a palavra final sobre a flexibilização ficou nas mãos dos governadores.
Proporcionalmente, mais testes e menos casos
Até agora, a Argentina fez cerca de 56 mil testes específicos de covid-19, número que é bem menor do que os 202 mil do Brasil mas, levando em conta as populações dos dois países, é proporcionalmente maior.
Os argentinos fizeram 1.260 testes por milhão de habitantes, enquanto o sistema público de saúde Brasileiro, segundo dados do Ministério da Saúde, fez 964 testes por milhão de pessoas —taxa 30% menor que a do país vizinho. Os dados são de quinta-feira (30).
Não à toa, nas redes sociais os argentinos usam o Brasil como exemplo negativo de enfrentamento à pandemia. Uma imagem que viralizou na semana passada comparava o número de mortos em 17 de março (dois argentinos; um brasileiro) com a evolução da doença nos dois países, tinha uma foto de Jair Bolsonaro tossindo e uma mensagem curta. "Dados, não opinião."
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