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Bolsonaro é ameaça para a saúde do Brasil, diz professor de Medicina da USP

Miguel Srougi, professor de urologia na Faculdade de Medicina da USP - Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Miguel Srougi, professor de urologia na Faculdade de Medicina da USP Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

15/05/2020 22h28

Resumo da notícia

  • Médico critica Bolsonaro e diz que trocas na Saúde mostram que presidente está errado
  • Para Miguel Srougi, Bolsonaro é risco para a democracia, o povo brasileiro e a saúde da nação
  • "Ele está destruindo a nação e matando brasileiros", declara

"A vacina chegará para o vírus, mas, aparentemente, nada chegará para conter as loucuras do presidente." A declaração foi dada ao UOL pelo urologista Miguel Srougi, 73, professor titular na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e tido como um dos principais médicos do Brasil.

"O presidente está assumindo uma postura que refletem sentimentos ruins. Autocrata, que está querendo destroçar a democracia. É autoritário, truculento, inapto, inculto. Está ficando muito claro que essa pessoa é perigosa para a nação", afirmou Srougi, ao ser questionado sobre a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde.

"Ele está destruindo a nação e matando brasileiros", complementou.

Srougi é médico do hospital Vila Nova Star, onde Bolsonaro ficou 10 dias internado em setembro do ano passado. Ele é reconhecido por ter tratado políticos importantes enquanto trabalhava no hospital Sírio-Libanês, casos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da ex-primeira dama, Marisa Leticia, do também ex-presidente Michel Temer (MDB) e do ex-ministro Ciro Gomes, entre outros.

O professor titular da USP criticou a troca na chefia do ministério — Teich não durou um mês no cargo e pediu demissão — e disse entender que essa mudança só ocorreu porque Bolsonaro está forçando a mão para a utilização de um remédio cuja comprovação científica é contestável. "Ele é tão autoritário que chegou ao cúmulo de 'determinar' que a cloroquina tem que destruir o vírus", afirmou.

"Todos os estudos internacionais a respeito estão mostrando que a cloroquina não muda a evolução da covid-19. Alguns desses trabalhos, inclusive, mostraram que esse tratamento provocou mais mortes do que o esperado", explicou Srougi.

Para o médico, "o presidente parece estar querendo destruir a democracia no Brasil. As pessoas morrendo nas ruas, sem que ele demonstre qualquer gesto de compaixão. Ele inventa inimigos para poder brigar. Na ausência de inimigos reais, critica a todos para gerar instabilidade. Alguém pode achar algum outro motivo que não seja o de criar um regime autocrático?", questionou.

Como ironia, os militares que foram colocados para tutelar o Teich deveriam agora ser convocados para tutelar o presidente. Ele é a verdadeira ameaça para a democracia, para o povo brasileiro e para a saúde da nação."
Miguel Srougi

Teich "não sobreviveria"

Desde que Teich foi anunciado como ministro da Saúde, no dia 16 de abril, para substituir Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido, Srougi avaliou que o médico não teria o perfil necessário para o cargo. "Sabia que era uma ótima pessoa, um bom gestor, mas que não tinha o perfil para ser um bom ministro, por não ser político. Uma pessoa com esse perfil não sobreviveria", opinou.

"Ele é bastante competente, mas recatado, sem habilidade política. Essa foi minha impressão quando ele entrou. Ele realmente ficou imobilizado, não concretizou qualquer ação mais concreta, mas também não atrapalhou", afirmou o urologista.

Ainda segundo Srougi, Teich "quis dar um pouco de racionalidade ao ministério, esperando que fossem aplicadas as regras mais recomendadas tecnicamente para combater a epidemia".

"Num governo onde tantos ministros qualificados caíram, a gente começa a desconfiar que quem está errado não são os ministros, mas o presidente. Existia essa suspeita, mas agora está claro", finalizou o professor de Medicina da USP.