SP anuncia flexibilização enquanto covid chega a cidades pequenas e sem UTI
Resumo da notícia
- Estado de SP manteve a quarentena, mas começa, a partir de 1º de junho a flexibilizar as medidas
- Ao mesmo tempo, a covid-19 começa a chegar a municípios praticamente rurais, com menos de 15 mil habitantes
- Situação preocupa, pois nessas cidades menores não há uma rede de saúde tão estruturada
- A doença se espalhou em SP das cidades maiores para as menores, pelas rodovias
Enquanto o governo estadual anunciava a flexibilização do isolamento social, com a retomada de atividades econômicas, de forma escalonada e regionalizada, a partir de 1º de junho, São Paulo vê a covid-19 chegar pelas estradas a municípios com menos de 15 mil habitantes e sem UTI.
O novo coronavírus se espalhou pelo estado ao longo de seis eixos rodoviários. Os dois principais foram as rodovias Anhanguera — que liga a Capital a Campinas e Ribeirão Preto e de lá para Minas, Brasília e o norte do país — e a Dutra — que liga São Paulo ao Vale do Paraíba e depois ao Rio de Janeiro, rumo ao Nordeste.
Dos mais de 86 mil casos confirmados de covid-19 em São Paulo, 92% foram registrados em cidades distantes até 20 km das principais rodovias do Estado.
Uma pesquisa liderada por Raul Borges Guimarães, professor-titular do Departamento de Geografia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, e pelo epidemiologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, avaliou a evolução dos casos no estado.
O estudo indica que a doença chegou a São Paulo, como no resto do país, por avião, mas se propagou pelo interior através das estradas, indo das cidades maiores, com maior densidade populacional, para as menores, por meio de polos regionais.
Além da Anhanguera e da Dutra, as outras quatro estradas mais importantes na difusão da doença foram a Castelo Branco, Washington Luiz e Cândido Rondon — rumo ao oeste e noroeste do Estado —, e o sistema Anchieta-Imigrantes — em direção à Baixada Santista.
Os dez principais polos difusores da doença, depois da Capital, foram:
- Santos
- Botucatu
- São José do Rio Preto
- Ribeirão Preto
- Piracicaba
- Sorocaba
- Campinas
- Araraquara
- São José dos Campos
- Bauru
A doença já chegou a 511 dos 645 municípios do Estado. Segundo Guimarães, que com outros pesquisadores analisou como a covid-19 se propagou, a doença causada pelo novo coronavírus, se alastrou pelo estado de forma hierárquica, da Capital para o interior.
"Enquanto, de 1º a 25 de maio, o crescimento de casos confirmados de covid-19 no estado de São Paulo foi de 117% e na região metropolitana de São Paulo foi de 105%, nos municípios não metropolitanos, o crescimento foi de 185%", explica Guimarães.
"No fim de abril, não havia nenhuma cidade com mais de 100 mil sem casos de covid-19. Agora, no final de maio, não tem nenhuma cidade com mais de 15 mil habitantes que não tenha casos confirmados da doença registrados", prossegue. "São cidades pequenas que não têm serviços hospitalares com a complexidade que exige um caso grave de covid-19 que exija internação em UTI."
Os pesquisadores auxiliaram o Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo, que assessorou João Doria nas decisões sobre a pandemia.
"Não é momento de flexibilizar"
Guimarães acredita que o isolamento social ajudou e muito a segurar o crescimento da covid-19 rumo ao interior.
No estado de São Paulo, o interior foi sendo poupado pela política de isolamento social, que teve mais adesão na Capital e no litoral, mas agora isso está se disseminando rapidamente pelas cidades menores, porque a população não entendia o por quê do isolamento se a cidadezinha dela não tinha nenhum caso, mas agora tem."
Sobre as medidas que foram anunciadas pelo governador João Doria (PSDB), Guimarães defende que fosse mantida a quarentena atual por mais tempo, acompanhada de medidas mais drásticas de isolamento em cidades que se aproximam dos 90% de ocupação e as taxas de números de casos não cedem.
O professor é contrário a uma flexibilização agora. "Particularmente, eu acho que não é momento de se flexibilizar nada", disse o professor, que, apesar de ser contra o início da flexibilização já em junho, é a favor da regionalização das medidas.
"O caminho é olhar a epidemia regionalmente. Talvez fazer lockdown em setores de algumas cidades. Eu acho que é o que se conseguirá fazer num país como o Brasil, que não está unido para enfrentar o problema. Com toda essa polarização e embate político num momento muito delicado, de pandemia. É uma situação bem diferente da Argentina, onde um isolamento social muito mais rígido foi cumprido de forma patriótica. Um sucesso.",
Nos municípios rurais poderá faltar assistência
"Vamos começar uma nova etapa dessa interiorização para esses municípios rurais. Em São Paulo, a covid-19 agora está encontrando a vilazinha italiana [o primeiro caso na Itália foi registrado em Codogno, de 16 mil habitantes, que tinha muitos idosos]. Em São Paulo, começou em 'Milão´ e está indo para a vilazinha. É uma dificuldade adicional que o estado de São Paulo terá que enfrentar nas próximas semanas", explica Guimarães.
Os municípios menores aonde a doença está chegando agora, a maioria no oeste paulista, são os que, proporcionalmente, têm mais pessoas com mais de 60 anos. "São cidades que vivem da renda dos aposentados, municípios em que pessoas com quadro grave de covid-19 terão que se deslocar até 200 km para obter assistência especializada, pois não há UTIs. A vulnerabilidade nesses locais será da rede de saúde", afirma.
Proximidade e densidade
Mais da metade dos casos no estado estão sendo registrados no que os pesquisadores chamam de "macrometrópole", um triângulo formado pelas regiões metropolitanas de São Paulo, Santos e Campinas.
Quanto aos fatores de risco para uma disseminação maior da covid-19, o primeiro é a proximidade da cidade da Capital.
O segundo fator de risco é o porte da cidade, sua densidade. Capitais regionais, como Bauru, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, têm risco 5 vezes maior do que uma cidade pequena que pode estar próxima de uma área metropolitana.
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