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Se convidar, estarei lá, diz Doria após Bolsonaro falar em diálogo zero

Allan Brito, Felipe Pereira e Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/10/2020 14h17

Apesar dos desentendimentos desta semana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que está "aberto ao diálogo" com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Depois de fazer novas críticas ao presidente, acusando-o de discriminar a China e ter humilhado o ministro da Saúde (Eduardo Pazuello), o tucano afirmou que atenderá prontamente se for convidado para conversar com Bolsonaro.

"Estou aberto ao diálogo, a dialogar e construir um programa que permita que brasileiros sejam salvos pela vacina, pela orientação correta, pela compaixão e pelo distanciamento de posições ideológicos, colocando o povo brasileiro como prioridade. Basta o presidente me convidar e estarei em Brasília para o diálogo. Na mesma hora. Estou disposto ao diálogo e quero convidar você, presidente, a fazer o mesmo", afirmou Doria, em entrevista coletiva hoje, olhando diretamente para a câmera ao proferir a frase.

Na quarta-feira (21), Jair Bolsonaro disse que João Doria estava politizando a questão da vacina por causa de interesses eleitorais e afirmou que o diálogo é "zero" com o governador paulista. O governador tentou se defender.

"Nunca quis politizar pandemia nem vacina. Quem o fez foi o Bolsonaro. Eu fiz apelos ao presidente que tivesse grandeza e liderasse o Brasil contra o coronavírus, inicialmente pelo isolamento e depois com medidas protetivas. Mas lamentavelmente quem adotou discurso politizado foi o presidente Bolsonaro. Me entristece que ele tenha adotado esse caminho. Mas a opinião pública sabe avaliar quem adotou a postura correta", disse Doria.

A atitude do tucano foi o mesmo caminho defendido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), instantes antes na mesma entrevista coletiva. Maia se reuniu com Doria, pediu diálogo entre o governador e o presidente, e defendeu a autorização da CoronaVac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Para o presidente da Câmara, "os brasileiros precisam ter direito a vacina", desde que tenham autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

"Quando ela [Coronavac] estiver aprovada e autorizada pela Anvisa que a gente consiga com diálogo com o presidente, com o Ministério da Saúde, que este diálogo já existe, com o Congresso Nacional, possa autorizar não apenas essa vacina para os brasileiros, mas todas as vacinas que forem aprovadas", disse Maia.

Na entrevista coletiva, a palavra "diálogo" foi repetida diversas vezes pelo deputado e por Doria. Maia, inclusive, afirmou estar otimista sobre a possibilidade de mudar o posicionamento de Jair Bolsonaro sobre a CoronaVac.

"Eu sempre sou otimista. A gente muda, as coisas mudam e as pessoas podem refletir. Ninguém é dono da verdade. Acho que a posição de ontem pode não ser a mesma de daqui a 15 ou 20 dias. Eu, mesmo sendo vítima das redes bolsonaristas, sempre acreditei que chegaria nisso, em um ponto onde o diálogo prevaleça em relação ao radicalismo e agressão nas redes sociais", explicou Maia.

Anúncio e recuo

Nos bastidores, o comentário de que a corrida pela vacina ganhou ares de corrida eleitoral —de olho em 2022— ganhou força.

Durante a semana, a CoronaVac virou tema principal da disputa entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro. Na terça-feira (20), o ministro da Saúde anunciou durante uma videoconferência com 24 governadores a intenção de compra das primeiras 46 milhões de doses da CoronaVac e iniciar a vacinação em janeiro. Doria, inclusive, chegou a comemorar o anúncio, assim como outros governadores.

Na manhã de quarta-feira (21), porém, Bolsonaro afirmou que não aprovava o acordo e disse que mandou cancelar a compra, desautorizando Pazuello. Logo após a declaração, Maia cancelou um encontro que tinha marcado com Doria em Brasília, alegando indisposição. O governador paulista seguiu cumprindo agenda na capital federal e criticou por diversas vezes a atitude de Bolsonaro.

Já Bolsonaro repetiu que a vacina é chinesa e ainda não foi aprovada pela Anvisa. No entanto, o governo federal já assumiu um compromisso de investir quase R$ 2 bilhões na vacina de Oxford, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório Astrazeneca, que também não tem, ainda, comprovação científica de eficácia, como ocorre com a CoronaVac.

Anteontem, Doria deu um prazo de 48 horas, que se encerra hoje, para que o governo federal voltasse atrás na quebra do acordo feito pela CoronaVac.

Ontem, Pazuello, que se recupera de covid-19, afirmou ao lado de Bolsonaro que "um manda, o outro obedece", indicando que não contestará a decisão do presidente sobre a vacina do Butantan.