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"Indignação": Butantan diz que anúncio da Anvisa fomenta medo e descrédito

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que evento que interrompeu testes não está relacionado a efeitos adversos da Coronavac - Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que evento que interrompeu testes não está relacionado a efeitos adversos da Coronavac Imagem: Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

10/11/2020 11h55Atualizada em 10/11/2020 12h36

O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse hoje que a notícia de suspensão dos da Coronavac, anunciada ontem pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), foi recebida com indignação e fomenta medo e descrédito em relação à vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac.

Ontem, a Anvisa suspendeu os testes clínicos alegando um "evento adverso grave" registrado no dia 29 de outubro. Segundo Dimas Covas e o Governo de São Paulo, não houve nenhuma relação da vacina com o evento reportado.

"É uma notícia que causa surpresa, insegurança e, no nosso caso, causa até indignação", disse Dimas Covas, reclamando especificamente do fato de ter recebido a notícia da suspensão pouco antes da divulgação à imprensa.

"Suspenderam estudo, causaram medo nas pessoas, fomentaram ambiente que já não é muito propício ao fato dessa vacina ser feita em associação com a China. Fomentar isso a troco de quê? Não seria mais justo ligar e falar que reunião estava marcada para esclarecer isso. Não seria mais justo, ético e compreensível?", disse.

O imunizante contra a covid-19 é desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.

Nesta manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) escreveu em uma rede social que "ganhou" do governador de São Paulo, João Doria, com a decisão da Anvisa. O coordenador executivo do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, João Gabbardo dos Reis, fez críticas a quem "festejou a notícia", sem citar Bolsonaro.

"Coincidentemente no mesmo dia em que o governo anuncia a chegada das primeiras doses da vacina e início de obras no Instituto Butantan, algumas pessoas festejam o fato de ter aparecido um óbito e criado essa confusão para tentar desmoralizar com a vacina que está sendo fabricada e produzida nessa associação do Butantan com laboratório da China. É muito triste responder a essa injustiça. É um levantamento de motivo totalmente desconectado da aplicação da vacina como causa para festejar, como vem sendo hoje por lideranças importantes", disse.

A suspensão dos testes é uma prática comum para esclarecimentos quando um efeito adverso grave é detectado. Outros testes de vacinas contra o coronavírus, como a desenvolvida em parceria entre a Universidade de Oxford e o laboratório sueco Astrozeneca, também já passaram por breves interrupções por eventos similares e foram retomados.

A suspensão dos testes pela Anvisa ocorreu no mesmo dia em que João Doria anunciou que o primeiro lote da Coronavac chegaria a São Paulo no dia 20 de novembro. A aplicação de qualquer medicamento ou imunizante, porém, depende de aprovação da agência nacional reguladora.

Fase 3 dos testes da Coronavac

A Coronavac está na fase 3 de testes, a última para comprovar sua eficácia.

Nesta fase, os voluntários são divididos em dois grupos: um recebe a vacina e outro, placebo —uma substância sem efeito. Somente um comitê internacional sabe quem tomou ou não o imunizante. Os voluntários são monitorados por este grupo porque é preciso que 61 deles sejam infectados pelo novo coronavírus.

Os testes do imunizante desenvolvido pela Sinovac ocorrem em outros países, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), como Indonésia e Turquia.