Entidade diz que pandemia justifica avaliação rápida para liberar vacina
A SBIm (Sociedade Brasileira de Imunização) avalia que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não pode levar dois meses para aprovar o registro de uma vacina contra a covid-19 em um momento de pandemia. Em entrevista ao UOL, o presidente da entidade, Juarez Cunha, também disse que é egoísta quem não se vacina, além de ver a desinformação como um dos principais obstáculos contra a imunização.
"Nesse momento, em que estamos perto de mil mortos por dia, não podemos pensar em 60 dias [para a liberação] porque seriam quase 60 mil mortos", diz Cunha. "Precisamos pensar em quanto mais rápido isso [análise de registro] puder ser feito."
O governo de São Paulo anunciou que irá começar seu plano estadual de imunização em 25 de janeiro. O do governo federal prevê início em fevereiro. Com isso, o foco da discussão se virou para a Anvisa, que deveria regulamentar a situação.
A CoronaVac, vacina desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, ainda não tem autorização de uso pela Anvisa. Isso porque sua documentação não foi enviada para análise do órgão federal. Segundo o Ministério da Saúde, após o recebimento da documentação, pode se levar um prazo de até 60 dias para liberação do registro.
Cunha ressalta que o período citado pela Anvisa é de até dois meses, mas "pode ser muito rapidamente". "Todos os órgãos regulatórios precisam de um tempo para avaliar", diz. Mas lembrou que autorizações emergenciais no exterior se deram dias após o pedido, como aconteceu com a vacina da Pfizer nos Estados Unidos.
Contradições
O presidente da SBIm também critica o governo federal sobre uma série de contradições nos discursos. Já disse, por exemplo, sobre esse prazo de avaliação de 60 dias, mas, ao mesmo tempo, abriu a possibilidade para que a vacinação comece em dezembro. "A comunicação está sendo falha", diz Cunha.
Ele considera que o motivo é político. "Nunca perdemos tanto tempo discutindo coisas que não deveriam estar sendo discutidas por causa da polarização, da politização." Atualmente, os principais embates se dão entre o governo federal e o governo paulista.
Planos diferentes
Os desentendimentos entre os dois governos chegaram ao ponto de São Paulo ter seu próprio plano de imunização. A SBIm é favorável a um plano único para o país inteiro, já que o Ministério da Saúde tem experiência de lidar com milhões de doses em campanhas regulares de vacinação. "Mas isso talvez seja reflexo de uma falta de comando da situação."
Cunha diz que seria importante haver diálogo entre todos. "Fica muito difícil para a população ver citações diferentes. Por que quem mora no Rio Grande do Sul, como eu, não vai ter oportunidade de ter a vacina e quem mora em São Paulo vai ter?", questiona. "Se tiver orientações e recomendações diferentes em cada estado, vai ficar mais complexo vacinar a população, especialmente a de maior risco."
Você está criando uma coisa de conflito e discórdia entre os brasileiros. Não precisaria ser assim. Acho que isso é decorrência de não termos alguém que seja o principal ator para orquestrar tudo isso. Temos, infelizmente, a politização.
Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunização
Por enquanto, ele diz enxergar apenas legado negativo nas ações de combate à pandemia. "Tanto a doença quanto as mortes: muitas poderiam ter sido evitadas se não tivesse a politização e a polarização."
Desinformação e egoísmo
Nesse clima, Cunha vê outro perigo: a desinformação, com as fake news. "O que eu vejo como problema maior é o que a gente tem pela desinformação, por fake news e pela ação dos grupos antivacina", diz. "Isso tudo tem atrapalhado, inclusive, a confiança do nosso povo nas vacinas."
A preocupação maior do presidente da SBIm é com os "hesitantes", que já têm dúvidas sobre utilizar vacinas tradicionais. "Sempre vai ter alguém, por mais idiota, estúpido que aquilo seja, sempre vai ter alguém em dúvida, hesitante, que vai acreditar naquilo [notícias falsas]."
O ideal, para ele, seria que governantes e profissionais da saúde se juntassem para reforçar a segurança e a confiança nas vacinas. Porém, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), por vezes já declarou que rejeitará o uso da CoronaVac.
Além disso, ele também tem desrespeitado medidas básicas de segurança na pandemia, como uso de máscara e distanciamento social. "Se você não tiver o exemplo, você não vai seguir."
O exemplo de Bolsonaro tem sido copiado por brasileiros, mesmo com "a ciência mundial dizendo que tem que usar máscara, lavar as mãos, evitar aglomeração". "Enquanto você tiver governantes e instituições que não defendam isso, é um problema", diz Cunha.
É muito egoísmo você não usar máscara e é muito egoísmo você não se vacinar.
Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunização
Para ele, "tem uma grande parcela da população que deveria estar mais consciente e não ser egoísta". "Porque, a partir do momento que você não se cuida, não é só você que está correndo risco, são as pessoas em volta de ti também."
"A vacina não vai ser a solução. Vai ser parte da solução", comenta. "Por mais otimista que a gente possa ser, isso vai levar seis meses, um ano, dois anos para a gente conseguir a chamada imunidade de rebanho."
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