Quando Pazuello chegou ao AM, demanda de oxigênio já tinha subido 11 vezes
O aumento dos casos de covid-19 provocou um novo colapso no sistema de saúde em Manaus, e os hospitais enfrentam a falta oxigênio, essencial para pacientes que precisam de intubação. A demanda pelo insumo vem crescendo exponencialmente nos últimos dias e superou 11 vezes a média diária nesta semana, quando o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, esteve na cidade.
"Consumimos, na rede pública estadual de saúde, uma média de 5 mil metros cúbicos [por dia]. Só nesta terça-feira [12] foram consumidos 58 mil metros cúbicos", disse o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). No mesmo dia, Pazuello afirmou em Manaus que a capital enfrenta "a crise do oxigênio". Um dia depois, começou a faltar o insumo nos hospitais do estado.
O governo estadual já havia sido alertado na semana passada para a possível falta de oxigênio. A principal empresa fornecedora de oxigênio para o Amazonas, a White Martins Gases Industriais do Norte Ltda., afirma que informou ao estado que não teria condições de suprir a demanda pelo insumo na última quinta-feira (7).
Ontem, Secretaria Estadual de Saúde chegou a emitir uma notificação a 11 empresas para requisitar o estoque ou produção de oxigênio necessário à utilização na rede de saúde do estado.
No primeiro pico de internações enfrentado pelo estado, em abril do ano passado, foram usados em média 30 mil metros cúbicos de oxigênio por dia.
O governo estadual diz que estava preparado para fornecer aos hospitais uma demanda de até 55 mil metros cúbicos por dia, mas já na sexta-feira (8) era necessário pelo menos 60 mil metros cúbicos diários para dar conta da demanda, segundo a empresa fornecedora. A necessidade atual é de 75 mil metros cúbicos/dia —e não para de crescer.
Integrantes da pasta alegam que o governo estadual se preparou para uma alta na demanda por oxigênio, mas não conseguiu prever um crescimento tão grande. Segundo a secretaria, o número de casos começou a aumentar como um reflexo das aglomerações em novembro, nas eleições, e em dezembro, com as festas de fim de ano.
O governo do estado chegou a impor medidas restritivas na capital, Manaus, no dia 26 de dezembro do ano passado, mas o decreto não foi bem aceito pela população. Centenas de pessoas se reuniram em um protesto contra o fechamento do comércio, provocando aglomeração.
O que o governo federal diz que tem feito
Desde sexta-feira (8), o Ministério da Defesa afirma que tem enviado, em aviões da FAB, oxigênio para o estado. Segundo a pasta, as ações devem continuar até domingo (17).
Para tentar suprir parte da demanda, a Anvisa autorizou o pedido da empresa White Martins para produzir e distribuir oxigênio medicinal a 95% de teor (em vez de 99%) nas unidades da rede estadual do Amazonas. De acordo com a empresa, a flexibilização do nível de pureza vai permitir o aumento da capacidade de fabricação.
O governador do estado também disse que o Amazonas deve comprar dez mini-usinas de oxigênio e e requisitar o produto de outros fabricantes.
"Estamos trabalhando com o governo federal as estruturas para montagem de mini-usinas de oxigênio. Elas devem ser montadas num prazo de uma semana, e vão suprir a necessidade de algumas unidades de saúde. Com isso, elas abrirão espaços para que não tenhamos problemas nas outras unidades e a empresa consiga fornecer tanto na capital quanto no interior", disse Lima.
Fizemos a nossa parte, afirma Bolsonaro
Em meio a críticas de falta de planejamento, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que o governo federal "fez a sua parte".
"A gente está sempre fazendo o que tem que fazer, né? Problema em Manaus: terrível o problema lá, agora nós fizemos a nossa parte, com recursos, meios", disse o presidente.
A Justiça Federal do Amazonas determinou nesta sexta que "compete à União imediata transferência de todos os pacientes da rede pública que por ventura estejam na iminência de perder a vida em razão do desabastecimento do insumo oxigênio, devendo encaminhá-los para outros Estados".
A decisão foi tomada em ação civil pública ajuizada ontem por representantes do MPF (Ministério Público Federal), DPU (Defensoria Pública da União), Ministério Público do Estado do Amazonas, Defensoria Pública do Estado do Amazonas e Ministério Público de Contas do Estado do Amazonas.
Pacientes começam a ser transferidos
O Ministério da Saúde começou hoje a transferir pacientes de Manaus para oito capitais brasileiras para desafogar o sistema de saúde do Amazonas.
Segundo a pasta, são 149 leitos disponíveis por enquanto: 40 em São Luís (MA); 30 em Teresina (PI); 15 em João Pessoa (PB); 10 em Natal (RN); 20 em Goiânia (GO); 04 em Fortaleza (CE); 10 em Recife (PE) e 20 no Distrito Federal.
Segundo Pazuello, porém, ontem havia 480 pessoas na fila por um leito no Amazonas. A informação foi repassada durante uma transmissão ao vivo, ao lado de Bolsonaro. "A fila para leitos cresce bastante. Já estamos com 480 pessoas na fila", afirmou o ministro.
Governo federal insiste em cloroquina
Enquanto o Amazonas sofre com o colapso causado pela falta de oxigênio, o governo federal insiste no uso de medicamentos não comprovados cientificamente para o tratamento dos doentes.
"O médico pode receitar o tratamento precoce. Se o médico não quiser, procure outro médico. Não tem problema. Repito o tempo todo aqui: no meu prédio, mais de 200 pessoas pegaram a covid, se trataram com cloroquina e ivermectina, ninguém foi para o hospital", disse o presidente hoje.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais ao lado de Bolsonaro, ontem, Pazuello disse que o cenário em Manaus piorou por causa do período chuvoso e pela falta de "tratamento precoce". Na avaliação de médicos e cientistas, porém, não há tratamento precoce para a covid.
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