Fase vermelha: Na prática, troca tem poucas mudanças, dizem especialistas
A mudança da fase emergencial para a vermelha do Plano São Paulo, anunciada pelo governo paulista ontem (9), não muda tanto o cotidiano do estado porque, na prática, poucos serviços foram alterados. Para especialistas ouvidos pelo UOL, o foco tem de ser o de não estimular o relaxamento das medidas de proteção.
Conforme anunciado, com a fase vermelha, voltarão a ser permitidos eventos esportivos sem torcida, abertura de lojas de construção e retirada de produtos em restaurantes e lojas (o chamado "take away"). A mudança vale a partir de segunda-feira (12), mas as partidas de futebol sem torcida estão permitidas já neste fim de semana, desde que respeitadas as medidas sanitárias e o toque de recolher às 20h.
Para médico e pesquisadora, essas mudanças não aumentam tanto a circulação de pessoas: o mais importante é seguir o desestímulo a aglomerações.
Creio que essas medidas atuais ainda permitem um bom controle. O mais importante é manter o toque de recolher e as atividades que permitam fenômenos de aglomerações suspensos. Andamos em gelo fino.
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo
Stanislau pondera que é preciso ter um acompanhamento para evitar qualquer tipo de relaxamento por parte da população. "Um passo em falso pode ter consequências drásticas", diz o médico.
Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins (EUA) e membro do "Observatório Covid-19 BR", concorda. Para ela, as mudanças não fazem diferença quanto ao relaxamento, mas a mensagem de que a situação continua séria precisa se manter.
Na prática, [a mudança de fase] não muda nada. Mas é necessário não permitir o relaxamento da população."
Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins (EUA)
São Paulo, como o resto do país, vive a pior fase da pandemia. Nesta semana, o estado atingiu recorde de mortes na pandemia, com 1.389 óbitos registrados em 24 horas, e a previsão é que o número elevado se mantenha ainda por algum tempo.
A comunicação para a população era o ponto crucial para o Centro de Contingência, que auxilia o estado nas tomadas de decisão sobre a covid-19. A dúvida sobre a mudança nas fases no Palácio dos Bandeirantes era mais voltada à comunicação do que à flexibilização.
A avaliação do governo paulista e do Centro de Contingência é de que as restrições têm trazido o resultado esperado, com desaceleração dos indicadores, mas ainda não é momento para uma abertura maior. Por isso, decidiram flexibilizar algumas atividades pontuais, sem que haja um efeito prático no aumento da circulação do vírus.
Ontem, o governo anunciou uma queda 17,7 % nas taxas de no estado em comparação com a semana anterior e uma queda diária de 0,5% só em UTIs (unidades de terapia intensiva). "Fruto direto da fase emergencial", afirmou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn.
É preciso testar mais
Para Stanislau, é preciso, no entanto, também apostar em outras estratégias para além das medidas restritivas e do estímulo à vacinação. Segundo ele, aumentar o volume de testagem, por exemplo, poderia auxiliar nas decisões.
Sinto falta de mais estímulo à testagem, detecção de casos e mapeamento de contatos e triagem de assintomáticos, que transmitem mais da metade das infecções, em rotinas nas escolas, empresas e serviços em geral."
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo
"Isso nos daria muito mais segurança para retomar as atividades como tem sido estimulado e feito em vários países", conclui.
De acordo com a Secretaria de Saúde de São Paulo, o estado realizou, entre março de 2020 e fevereiro de 2021, cerca de 12 milhões de testes e tem uma capacidade, hoje, para realizar até 14 mil por dia.
"O protocolo definido pelo Ministério da Saúde estabelece a priorização da testagem de pessoas sintomáticas, cabendo às vigilâncias municipais o rastreamento e monitoramento de confirmados e contactantes a fim de conter cadeias de transmissão", respondeu a pasta ao UOL.
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