'Não recomendado', diz coordenador de estudo que contraindica cloroquina
Carlos Carvalho, diretor de pneumologia do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), responsável por coordenar o estudo que contraindica cloroquina e outros remédios para tratar a covid-19, disse ao UOL News que o parecer técnico da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) aponta que o uso dos medicamentos "não está recomendado" para pacientes hospitalizados.
"Esse protocolo [feito pelo Conitec], levantou todos os estudos, todas as recomendações e diretrizes e consensos nacionais e internacionais. Em nenhum local existe a recomendação do uso desses medicamentos no uso hospitalar", disse Carvalho se referindo aos medicamentos citados no parecer. São eles: cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, remdesivir e ivermectina.
De acordo com o diretor de pneumologia do Incor, estudos realizados mundialmente ao longo do ano passado mostram que para "paciente hospitalizado e mais grave esses medicamentos não tem qualquer efeito" ou ação no combate à covid-19.
Carvalho também ressaltou que o parecer técnico se trata de um documento que analisa pacientes hospitalizados e ainda não há um documento do Ministério da Saúde que "discuta o tratamento pré-hospitalar" dos pacientes com o vírus. O diretor acrescentou que o avanço das pesquisas científicas permitirá mais chances de tratamentos dos infectados.
"Estão surgindo a cada dia novos tratamentos que [são o] resultado dos testes — que foram feitos no segundo semestre do ano passado e começo deste ano — que estão abrindo novas possibilidades de tratamento", declarou o diretor.
Contraindicação
Esse é o primeiro relatório da Conitec contrário ao uso desses medicamentos desde o início da pandemia. Apesar de contraindicá-los no tratamento de pacientes internados, o documento não faz menção sobre o uso no tratamento precoce da doença.
Até então, o Ministério da Saúde tinha um protocolo com "orientações" sobre o uso de cloroquina e outros medicamentos no tratamento precoce da covid-19, assinado pelo então ministro general Eduardo Pazuello sob pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A recusa em assinar tal protocolo levou às demissões de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich da pasta.
O parecer da Conitec foi editado a partir de um pedido de análise feito pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Além do uso desses medicamentos, o documento traz diretrizes e protocolos referentes a outros temas, como uso de oxigênio hospitalar e procedimentos para intubação de pacientes.
Questionado na CPI da Covid sé é a favor ou contra o uso de cloroquina para tratar a covid-19, Queiroga evitou se posicionar e disse que não poderia emitir "juízo de valor" sobre o tema.
O relatório foi colocado em consulta pública e estará aberto a receber contribuições até 27 de maio. Após essa fase, a comissão volta a analisar o tema e tem 180 dias --prorrogáveis por mais 90 dias-- para emitir um parecer final. Somente após essas etapas é que o Ministério da Saúde decide se acata ou não as sugestões.
*Com informações de Afonso Ferreira, do UOL, em São Paulo
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