Quarentena, testagem em massa: como Austrália e Coreia vão bem na pandemia
Enquanto o Brasil aposta, ainda que com atraso, todas as fichas na vacinação para conter a covid-19, do outro lado do planeta, três países que estão entre os mais bem-sucedidos no controle da doença mal lançaram suas campanhas de imunização.
Mesmo com menos de 4% da população vacinada com duas doses — o Brasil tem 10% —, Nova Zelândia, Austrália e Coreia do Sul mantém há meses os índices de casos e óbitos baixos com uma combinação de quarentenas isoladas, testagem em massa e adesão populacional às medidas sanitárias.
A Nova Zelândia, que em mais de um ano de pandemia somou 26 mortes por covid-19, lidera um ranking da agência Bloomberg que avalia os melhores lugares para morar durante a pandemia, ou seja, onde a doença é contida de forma eficaz, com o mínimo de interrupção social e econômica. Austrália está em terceiro e a Coreia do Sul, em quinto.
Em situação inversa, com a pandemia fora do controle e com risco de entrar numa nova onda de casos e mortes, o Brasil está num dos últimos lugares do ranking, na 51º colocação.
Normalidade pré-pandêmica
Em comum, os três países não abrem mão de medidas sanitárias racionais, como regras de distanciamento social, testagem em massa, rastreamento de casos e quarentenas isoladas para controle de surtos.
Empregadas com rigor científico e com aderência da população, as ações sanitárias permitem que a vida nesses países siga numa quase normalidade pré-pandêmica e sem grandes tombos econômicos. A medida mais rigorosa adotada pela Nova Zelândia para evitar o surgimento de novos casos é a restrição de viagens internacionais.
A Austrália, com 910 óbitos desde o início da pandemia — menos da metade do que o Brasil vem registrando diariamente —, está com as escolas abertas, assim como teatro, cinemas e casas de shows. Mas as autoridades acompanham com rigor a evolução da doença. Nesta semana, Victoria, o segundo maior estado país, entrou em lockdown após registrar 15 casos da variante indiana do coronavírus — e deve seguir assim até não registrar novos casos.
Logo no começo da pandemia, a Coreia do Sul chamou a atenção da mídia internacional em razão dos postos de drive-thru montados para testagem em massa dos habitantes. Quando o resultado é positivo, todas as pessoas que tiveram contato com o paciente são contatadas e orientadas a se isolarem. Faz diferença ainda a cultura de proteção coletiva da sociedade sul-coreana, que já via a máscara como um item básico de proteção antes do surgimento do novo coronavírus.
Para especialistas em saúde pública ouvidos pelo UOL, a atuação exemplar dos três países mostra que uma grande crise de saúde só pode ser enfrentada quando há sintonia de toda sociedade.
Os países que controlaram melhor a pandemia foram os que conseguiram um consenso na relação Estado, comunidade e indivíduo. Há uma noção de coletividade, em que a população adere a uma recomendação governamental pensando em seu papel na proteção de toda a sociedade"
Christovam Barcellos, especialista em saúde pública da Fiocruz
Do contrário disso, observa Barcellos, nós temos a situação do Brasil. "Sem consenso, nós temos uma anarquia. O indivíduo fica perdido, sem saber o que fazer numa situação em que o patrão manda trabalhar, o prefeito diz que pode, mas o governador diz que não", exemplifica o sanitarista.
Opinião compartilhada pelo infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "Nova Zelândia, Coreia do Sul e Austrália tiveram liderança dos seus governantes e maior colaboração de sua população", afirma.
[Nesses países] Não há um negacionismo como no Brasil. Governo e população caminham na mesma direção e sentido no combate ao vírus, respeitando a ciência e atuando pela prevenção"
Leonardo Weissmann, infectologista do Emílio Ribas
Com uma atuação sanitária oposta à dos três países da Ásia e Oceania, o Brasil ao longo da crise de saúde adotou medidas de isolamento tímidas, sem orientação federal e com aceitação parcial da sociedade. Agora, o país foca seus esforços em uma campanha de vacinação da população.
Apenas nesse quesito o Brasil tem uma atuação melhor que Nova Zelândia, Austrália e Coreia do Sul. Lentamente, o país já vacinou 21% de sua população com ao menos uma dose. Enquanto isso, Austrália vacinou parcialmente 13% dos seus habitantes, a Coreia do Sul apenas 9% e, a Nova Zelândia, 8%.
Mas essa liderança brasileira está longe de refletir uma boa atuação na pandemia. Enquanto o Brasil registra há seis semanas mais de 2.000 mortos diários por covid-19, a Austrália enterrou sua última vítima da doença também há seis semanas.
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