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Com alta da covid, Rio tem fila de 4 horas por teste e 'consulta coletiva'

No Catete, bairro da zona sul carioca, fila passava de duas horas e meia para um teste rápido de covid-19 - Lola Ferreira/UOL
No Catete, bairro da zona sul carioca, fila passava de duas horas e meia para um teste rápido de covid-19 Imagem: Lola Ferreira/UOL

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

04/01/2022 15h43

Postos de saúde da cidade do Rio de Janeiro estavam com filas de duas a quatro horas de espera para um teste rápido de covid-19 nesta terça (4). A procura aumentou principalmente após as festas de fim de ano, de acordo com funcionários do setor de saúde, que têm recebido pacientes com febre, dor no corpo e tosse. Na tentativa de agilizar o atendimento diante da alta demanda, houve até "consulta coletiva".

De acordo com os dados mais recentes da Prefeitura do Rio, a proporção de casos positivos nos testes de covid feitos na cidade mais que dobrou entre as últimas duas semanas do ano. Entre os dias 17 e 24 de dezembro, foram 421, ou 6%, entre os 7.020 testes realizados. Na última semana de 2021, entre os dias 24 e 31, 2.521 pessoas testaram positivo — o que representa 13% dos 19.392 testes realizados na capital no período.

Às 9h de hoje, ao menos 30 pessoas já esperavam por atendimento no Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, zona sul do Rio, onde a espera por testes chegou a atingir quatro horas. No local, o protocolo costuma ser uma consulta médica e o encaminhamento para o exame. Mas com a alta procura, os médicos fizeram uma "consulta coletiva" por volta desse horário e orientaram qual a medicação para tratar os sintomas leves em casa.

Com isso, os pacientes foram divididos em dois grupos: aqueles que, após a "consulta coletiva", queriam uma consulta individual e aqueles que só queriam o teste — por estar com sintomas leves ou assintomáticos. Após a espera para a coleta, o resultado sai em 15 minutos.

Sem apresentar números absolutos, uma das médicas da unidade de Copacabana disse aos pacientes que cerca de 70% dos testes feitos na unidade ontem foram positivos. A percepção era a mesma no Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, na Tijuca, zona norte.

Fila por teste de covid no CMS Manoel José Ferreira tomava a rua, no Catete - Lola Ferreira/UOL - Lola Ferreira/UOL
Fila por teste de covid no CMS Manoel José Ferreira tomava a rua, no Catete
Imagem: Lola Ferreira/UOL

De acordo com um dos funcionários do local, a longa fila para a dose de reforço contra a covid-19 tem sido comum desde o Natal, mas a alta procura pelos testes começou ontem, após as festas. Também sem especificar em números absolutos quantos deram positivo, o funcionário responsável pela triagem afirmou que a maioria dos pacientes que procurou o posto estava com a doença.

Apesar da fila de duas horas entre a chegada e o resultado, pacientes elogiavam o atendimento da equipe de saúde.

A funcionária pública aposentada Márcia Regina Lima Dias, de 62 anos, aguardava na fila por um teste e contou que é paciente da unidade "desde que nasceu". "Minha filha tomou todas as vacinas aqui, eu também. Gosto muito daqui. Estou sem sintomas e, apesar da fila, tudo está bem".

Vacinada com três doses de vacina, ela conta que no dia 29 encontrou-se com uma amiga, que posteriormente testou positivo para a doença. No dia 31 de dezembro, Márcia sentiu uma leve dor de garganta e teve de cancelar a reunião familiar de Réveillon, por proteção ao pai de 90 anos de idade.

Também na fila, um casal buscava o diagnóstico. Após um encontro familiar no Natal, o homem e a mulher de 34 anos começaram a sentir febre e dor no corpo no último final de semana. Após três familiares testarem positivo para a doença, os dois — que trabalham de casa — buscaram o posto para a confirmação.

No Centro Municipal de Saúde Manoel José Ferreira, no Catete, na zona sul, a fila de espera leva no mínimo duas horas, mas o resultado sai após os mesmos 15 minutos. Ali, a consulta médica é feita após o diagnóstico positivo e leva apenas o tempo de o médico orientar a medicação para conter os sintomas.

Pacientes com suspeita temem demissão

Na unidade de saúde da Tijuca, outras pessoas com sintomas buscavam o teste após as reuniões de final de ano. Uma jovem de 25 anos passou o Réveillon com um grupo de 30 amigos, e começou a sentir dor no corpo e febre na noite de domingo (2).

Hoje, a moça esperava pelo teste enquanto recebia informações de que outros amigos e seu namorado estão com sintomas similares. Ela acredita ser covid-19, mas teme como será comunicado o diagnóstico ao chefe. Funcionária de um escritório, ela disse que precisou trabalhar ontem, já com dor de cabeça, sem qualquer compreensão dele.

"Meu chefe disse que quem estiver com covid, mas estiver se sentindo bem, já pode voltar ao trabalho", lamentou ela, que preferiu não ser identificada por medo de represálias.

A reportagem do UOL conversou com outra mulher apreensiva pelo mesmo motivo. Ela tem a mesma idade, mas é mãe de um bebê de 9 meses. Ela explica que trabalha como atendente de telemarketing em uma sala fechada, com mais 50 pessoas, e que começou a se sentir mal ontem, após o expediente. Os sintomas são dor no corpo e febre. Hoje, comunicou ao chefe que iria ao posto fazer um teste de covid-19.

"Ele me falou: 'não é nada, toma um remedinho e vem'", afirma ela.

Poucos meses atrás, de acordo com a atendente, um colega de baia pediu demissão depois de ser obrigado a trabalhar com sintomas gripais. "Ele descobriu que a tosse era pneumonia", diz.