Senado convoca Queiroga para explicar atraso na vacinação infantil
Senadores da Comissão de Direitos Humanos aprovaram hoje a convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para explicar o atraso na vacinação infantil contra covid-19.
Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) será convidado a participar.
"Acabamos de aprovar na CDH do Senado, a convocação do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e convite ao Presidente da Anvisa, Barra Torres. Queiroga vai ter que explicar o atraso de um mês na vacinação das crianças e as consequências trágicas que isso trouxe ao Brasil!", escreveu Randolfe nas redes sociais.
Mais cedo, o senador Omar Aziz (PSD-AM) já havia adiantado a intenção de convocar Queiroga
"Vamos convocar o ministro da Saúde para ir na comissão de Direitos Humanos para tratar sobre esse comportamento que ele tem em relação à vacinação de crianças", disse Aziz em entrevista ao canal Globo News. "Não é possível que um médico cardiologista, que já foi presidente da Associação de Cardiologistas do Brasil, tenha esse tipo de comportamento".
"Não é obrigatória [a vacinação]. mas a dúvida que paira na cabeça dos pais é desse tipo de declaração", continuou.
Aziz, que presidiu a CPI da Covid, destacou uma fala de Queiroga nesta manhã. "Se prestar atenção, ele diz que a vacina foi feita em tempo recorde, colocando dúvida na eficácia da vacina", disse. "O ministro não pode ser dúbio".
O UOL perguntou ao Ministério da Saúde se Queiroga gostaria de comentar a fala de Aziz. Caso a pasta responda, este texto será atualizado.
Mais cedo, em conversa com jornalistas, o ministro falou sobre a vacinação infantil, ressaltando que os pais não são obrigados a imunizar os filhos contra covid-19.
"É um tema mais sensível, todas as vacinas foram desenvolvidas em curto espaço de tempo, mas temos que avançar de maneira sustentada trazendo os pais para buscar a imunização, sem obrigá-los", afirmou.
Entre as crianças, a vacina pode reduzir em seis vezes a chance de complicação por covid-19, de acordo com dados levantados nos Estados Unidos, país onde há o maior número de jovens imunizados. Os casos reportados de miocardite (uma inflamação do músculo do coração) são raros: a incidência é de 9 a cada 100 mil doses aplicadas (0,009%).
Alguns pais citam o risco de miocardite para não vacinar seus filhos, mas a chance de uma pessoa desenvolver a doença em decorrência da covid chega a ser 60 vezes maior do que pela vacina.
Queiroga diz que vacinas foram desenvolvidas 'em curto espaço de tempo'; pesquisadores explicam
Em meio a pressão da pandemia, farmacêuticas aceleraram os esforços para o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19. O imunizante da Pfizer/BioNTech, por exemplo, foi desenvolvido em apenas 10 meses enquanto doenças como a malária, a dengue, cujo vírus responsável foi identificado há 113 anos, ainda não têm vacina.
A rapidez para o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 fez com que muitas pessoas questionassem a sua segurança —inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pesquisadores, no entanto, ressaltam que nenhuma etapa foi pulada no processo. "É preciso lembrar que as pesquisas que já estavam sendo feitas desde as epidemias de SARS e MERS, o que contribuiu para esses resultados. Agora, por causa da pandemia, as pesquisas conseguiram mais recursos, mais financiamento e mais apoio de governos e das empresas farmacêuticas", disse a pesquisadora Samantha Vanderslott em entrevista à BBC News.
Além da Anvisa, outros órgãos de saúde apoiam a vacinação contra a covid-19, em adultos e crianças, como o CDC dos Estados Unidos e a OMS (Organização Mundial da Saúde). Para especialistas, a imunização é a principal arma para controlar a pandemia.
Saúde demorou 3 semanas para anunciar vacina em crianças
A vacina pediátrica da Pfizer foi aprovada pela Anvisa em 16 de dezembro de 2021, mas o Ministério da Saúde resolveu adiar a decisão de incluí-las na campanha nacional até o resultado de uma consulta pública sobre o tema.
Na época, o ministro Queiroga dizia que a vacinação infantil não era "consensual" e merecia mais discussões mesmo após o aval da Anvisa, órgão competente para a tomada de decisão. A agência analisou um estudo feito com 2.250 crianças que comprovou que o imunizante da Pfizer é seguro e eficaz, com benefícios que superam os riscos.
No caso da CoronaVac, a decisão foi a mesma. Técnicos da agência chegaram a se reunir com infectologistas e pesquisadores do Chile, país onde a vacina já é aplicada em crianças.
Em 20 de dezembro, o ministro da Saúde disse que a "pressa é inimiga da perfeição" ao tratar da vacinação infantil e afirmou que o assunto precisava ser tratado "sem açodamento".
Na consulta pública feita pelo Ministério da Saúde, que recebeu críticas de sociedades médicas e científicas, a maioria dos participantes rejeitou a obrigatoriedade de prescrição médica para vacinar crianças —algo que não é exigido em outras campanhas, como a da gripe.
Na contramão da ciência, o presidente Jair Bolsonaro é contra a vacinação infantil contra a covid-19. Ele já ameaçou divulgar o nome de técnicos da Anvisa responsáveis por aprovar o uso do imunizante infantil e também disse que a atitude da Anvisa é "inacreditável".
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