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Alta de vendas de 'A Peste', queda no consumo de Corona: covid-19 tem efeitos inesperados

Capa do livro "A peste", de Albert Camus - Divulgação
Capa do livro "A peste", de Albert Camus Imagem: Divulgação

06/03/2020 10h58

A epidemia do novo coronavírus tem efeitos inesperados e até mesmo insólitos, como o sucesso de vendas de livros, filmes e videogames com temáticas de surtos mundiais de doenças, ou a queda abrupta do consumo da cerveja Corona, associada pela população ao novo vírus.

A frase alarmante do presidente francês, Emmanuel Macron, é reproduzida por todos os jornais franceses de hoje: a epidemia da covid-19 na França é "inexorável". Sete pessoas já morreram no país e o número de contaminados aumenta a cada dia.

São mais de 400 casos, entre eles, um deputado federal e um funcionário da Assembleia Nacional francesa. As autoridades se preparam para ativar o nível três da epidemia.

A lista das consequências surpreendentes do surto da doença é feita pelo jornal Le Parisien. A exemplo da rainha da Inglaterra, Elizabeth 2ª, que na terça-feira (3) usou luvas pela primeira vez desde 1954 durante uma cerimônia no Palácio de Buckingham, a venda de luvas está em forte alta, mas os efeitos inesperados não param por aí.

Pelo jeito, os temas que dominam o noticiário incitam à leitura de clássicos da literatura, escreve o diário. Em 2015, após os atentados na capital francesa, as vendas de "Paris é uma festa", de Ernest Hemingway, explodiram. Agora é "A Peste", de Alberto Camus, que de repente integra a lista dos mais vendidos, tanto na França quanto na Itália, o país europeu mais atingido pela epidemia.

Mesmo sucesso extraordinário registra o videogame Plague Inc, que simula o surto de uma doença, ou o filme "Contágio", de 2011. A obra, do diretor Steven Soderbergh, está no top 10 dos longas mais baixados no Itunes e um dos mais populares da Netflix. Aliás, a plataforma global de filmes e séries de TV via streaming, muito procurada atualmente pelas pessoas que, com medo da covid-19, preferem ficar em casa, viu suas ações na bolsa subirem 5%.

Mas, informa o Le Parisien, um fenômeno inverso acontece com um outro produto, a cerveja Corona. Pode parecer brincadeira, ressalta o texto, mas por causa do nome parecido ela passou a ser associada à doença. Internautas do mundo inteiro fazem busca no Google sobre a "cerveja vírus". Em consequência, a cervejaria mexicana espera uma perda de lucros da ordem de 10% no primeiro trimestre de 2020.

Coronavírus liga alerta pelo mundo

Crise inédita

Les Echos detalha tudo que é necessário saber sobre essa crise inédita. Apesar da corrida aos supermercados para estocar produtos por medo de um eventual confinamento da população na França, a grande distribuição francesa exclui a penúria de alimentos no país.

Entre as empresas, as companhias aéreas mundiais serão as mais impactadas pela epidemia, com perdas de mais de 100 bilhões de euros (R$ 526,6 bilhões) e falências de alguns grupos, como a britânica Flybe. Em editorial, o diário afirma que esta crise é muito mais econômica do que sanitária e que o coronavírus vai matar mais pequenas e médias empresas do que humanos.

Le Figaro frisa que o preço do petróleo também é fortemente afetado e que a Opep, com a ajuda da Rússia, quer reduzir a produção mundial para frear a queda da cotação do barril, provocada pela paralisação da economia chinesa e pela ameaça de uma pandemia mundial da covid-19.

Transportes públicos

Sobre os riscos de contaminação, o jornal conservador diz que um dos lugares mais sensíveis são os transportes públicos. Por enquanto, eles funcionam normalmente na França.

A RATP, que administra o metrô e as linhas de ônibus de Paris, e a Rede Ferroviária Francesa, SNCF, tentam tranquilizar usuários e funcionários. Elas indicam que haverá restrições de circulação nos transportes públicos somente se o nível três da epidemia for declarado no país. Dois funcionários da RATP foram contaminados pelo coronavírus até agora.