Rússia, aliada ou adversária da Otan
Para alguns países, a anexação da Crimeia pelo presidente russo, Vladimir Putin, em março, é uma prova de que o Kremlin voltou a recorrer aos métodos da Guerra Fria, ao redesenhar fronteias através da intimidação e da força.
Para outros, a crise na Ucrânia foi um ato isolado, já que o interesse da Rússia é evitar um confronto em larga escala para não atrapalhar suas relações, e para evitar um gasto militar excessivo.
Os chefes de Estado e de governo vão se reunir em setembro em Gales, na Grã-Bretanha, para uma cúpula dominada pelos acontecimentos na Ucrânia, que levaram a Aliança Atlântica, principalmente os Estados Unidos, a revisar suas opções militares, para garantir que os países europeus não sejam abandonados em um eventual conflito.
O secretário-geral do bloco, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a "agressão ilegal" modificou drasticamente a doutrina de segurança na Europa, deixando-a mais imprevisível e perigosa.
Moscou aumentou seu orçamento de Defesa em 50% nos últimos cinco anos, contra 20% dos países ocidentais, ressaltou Rasmussen na terça-feira.
No mesmo dia, os ministros da Defesa dos países da Otan acertaram um programa que tem como objetivo reforçar a segurança dos países no Leste europeu e reduzir o tempo de reação da Aliança.
Autoridades do bloco expressaram sua preocupação, assim como sua surpresa, pela capacidade da Rússia em deslocar rapidamente 40.000 militares na fronteira da Ucrânia, e mantê-los durante certo período no local.
O temor é que, se uma reação não for implementada, será pago um preço maior no futuro.
Evitar o confronto
Por outro lado, países como França ou a Alemanha, creem que a prioridade é "não encurralar-se em uma lógica de confrontação".
"É preciso evitar as posturas que recordem a Guerra Fria, como, por exemplo, deslocar tanques próximos às fronteiras russas", ressaltou um diplomata, que pediu anonimato.
Países como a Polônia pedem bases permanentes da Otan em seu território, hipótese que não foi descartada pelo comandante das tropas aliadas na Europa, Philip Breedlove.
Os países mais prudentes "pedem à Otan que não vá muito rápido" sobre o tema, e que "proponha ajustes, e não uma revisão completa" das relações com Moscou, de acordo com outro diplomata.
Nesse contexto, sugeriu-se revisar um dos textos mais importantes do bloco para suas relações com a Rússia, a Ata Fundacional das relações e da cooperação entre as duas parte, assinada em 1997. O documento estabelece que os dois lados não são "adversários", e que trabalharão juntos para construir uma "paz duradoura".
A Ata formaliza as fronteiras acertadas depois da Guerra Fria, e determina que tanto o Ocidente como a Rússia não enviarão tropas às áreas que estiveram sob a influência da antiga União Soviética.
O embaixador russo na Otan, Alexander Grushko, advertiu que uma movimentação militar seria uma "infração direta" ao tratado.
Rasmussen, no entanto, garantiu que todas as medidas estudadas respeitam o texto.
Da mesma forma que outros ministros, a alemã Ursula von der Leyen de que essas medidas sejam as mais "flexíveis e multinacionais" possíveis.
Mais do que nunca, os países com mais peso na Europa querem evitar operações militares de alto custo, em particular no atual contexto de redução nos gastos militares.
Em Bruxelas, o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, convocou novamente os europeus a assumir os custos de sua defesa. E citou como exemplo o plano de 1 bilhão de dólares anunciado na terça pelo presidente Barack Obama "para tranquilizar a Europa".
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- Arqueólogos acreditam ter encontrado sarcófago de 'Papai Noel da vida real'
- Vitória turca, derrota do Irã: quem ganha e quem perde com queda de Assad
- EUA e Turquia chegam a acordo e aliados dos norte-americanos deixam cidade síria para rebeldes
- Turquia reabrirá fronteira para facilitar retorno de refugiados sírios após queda de Assad