Chefe da Irmandade Muçulmana e mais 182 são condenados à morte no Egito

  • Khaled el Fiqi/Efe

    Mohamed Badie, líder supremo da Irmandade Muçulmana, participa de coletiva imprensa no Cairo (Egito) em foto de 30 de novembro de 2010

    Mohamed Badie, líder supremo da Irmandade Muçulmana, participa de coletiva imprensa no Cairo (Egito) em foto de 30 de novembro de 2010

Um tribunal egípcio confirmou neste sábado (21) as condenações à morte contra 183 supostos partidários do presidente islamita Mohamed Mursi, deposto pelo exército, entre eles o chefe da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie.

O veredicto final, após a consulta não vinculante ao mufti, o representante do Islã ante as autoridades, é o epílogo de um julgamento em massa realizado pelo juiz Said Yussef Sabry, que proibiu o acesso da imprensa ao tribunal.

Sabry é um magistrado que não hesita em aplicar penas capitais. Em março condenou à morte 529 pessoas, o que provocou uma feroz polêmica internacional, e depois comutou 492 delas à prisão perpétua. Na época a ONU denunciou o ocorrido como "o maior julgamento em massa" da história da humanidade.

Poucas horas depois de confirmar apenas 37 condenações à morte, o juiz Sabry voltou a anunciar outras 683, e neste sábado confirmou 183 delas, a maioria à revelia. Além disso, comutou a pena em prisão perpétua para quatro pessoas, entre elas duas mulheres, e absolveu 496, afirmou à AFP o procurador geral Abdel Rahim Abdel Malek.

Outro tribunal condenou oito pessoas à prisão perpétua por ter incendiado locais da Irmandade Muçulmana em Damiette (norte) e 23 supostos islamitas a 15 anos por participação em um protesto violento, segundo a agência Mena.


Os cerca de 1.200 acusados nestes dois julgamentos estavam envolvidos em manifestações violentas em Minya, no centro do Egito, em 14 de agosto, no mesmo dia em que 700 manifestantes pró-Mursi morreram pelas mãos de policiais e soldados no Cairo.

Segundo a promotoria, eram acusados de ter assassinado dois policiais e de tentar matar outros cinco, de vandalismo, de pertencer a uma organização ilegal, alusão à Irmandade Muçulmana, declarada terrorista e perseguida desde então.

Desde a deposição e a prisão no dia 3 de julho de 2013 de Mursi, o primeiro chefe de Estado eleito democraticamente no país, as forças de segurança realizam uma repressão implacável de seus partidários.

Mais de 1.400 manifestantes pró-Mursi morreram e cerca de 15.000 pessoas foram detidas.

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Mohammed Saber/EFE

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Além disso, a Irmandade Muçulmana foi declarada terrorista e quase todos os seus líderes podem ser condenados à morte me diversos julgamentos, assim como o próprio Mursi.

Seu líder supremo, Mohamed Badie, também já havia sido condenado à morte na quinta-feira em outro julgamento por confrontos no Cairo durante o verão de 2013.

No entanto, tanto as 183 condenações deste sábado quanto as 37 do julgamento anterior devem ser anuladas nos tribunais de apelação ou cassação, segundo a grande maioria dos especialistas, já que os direitos e os procedimentos mais elementares foram ignorados.

Um dos advogados da defesa, Mohamed Tossun, afirmou à AFP que "os advogados não puderam assistir ao processo e defender seus clientes".

"O tribunal violou o direito dos acusados a uma defesa e tomou a decisão a toda velocidade", disse. "Vamos apelar e certamente a justiça" aceitará, acrescentou.

No entanto, o fato de as penas de morte terem sido impostas em primeira instância sem provocar nenhum tipo de reação no país demonstra o clima nocivo vivido no Egito desde que Abdel Fatah al-Sissi, ex-chefe das forças armadas que derrubou Mursi, foi eleito presidente, com 96,9% dos votos.

Segundo os observadores, foi eliminada qualquer tipo de oposição política, tanto islamita quanto laica ou liberal.

Crise no Egito
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